O valor de um VOTO

01

Vagueando no passado

Aguça a imaginação

Onde tudo era normal

Falo do aperto de mão

Bem normal entre os senhores

Onde eram devedores

Dos votos da comunhão

02

Com mulher a inversão

A mão nunca era estendida

Se fosse pra estirar

A forma mais permitida

Era tudo partir dela

Fosse senhora ou donzela

E por ela oferecida

03

Na nação esclarecida

Tudo já era normal

Um beijo dado na face

Podia ser natural

Entre casais das elites

Alargavam-se limites

Sem mostrar o sensual

04

Era mais habitual

Ver isso nos coronéis

Que recebendo seus títulos

Prometiam ser fiéis

E o selo da confissão

Era um aperto de mão

Valia mais que papéis

05

Pouco eram os infiéis

Na classe do eleitorado

Mas aprendia votar

Do modo que era ensinado

Os coronéis ensinando

E o povo lhe acompanhando

No erro do mais errado

06

Todo voto era trocado

Sem dinheiro pelo meio

Bastava fazer favores

Por cara sem ter sorteio

E a politica vertente

Fluindo toda nascente

Do assunto que me ateio

07

Nesse mal me galanteio

Para narrar à sujeira

Da nossa classe politica

De onde vem à nojeira

Pois todo mal é antigo

Herdamos este castigo

Da origem interesseira

08

No tempo da cabroeira

Na formação do cangaço

O presidente do Estado

Ocupando seu espaço

Titulava coronéis

Trocava até por uns réis

Armando seu próprio laço

09

Apoio ao cano de aço

Do bacamarte ou fuzil,

Dos capangas espalhados

Em baixio ou alcantil

E assim iam vivendo

Uns matando outros morrendo

Dando fama ao meu Brasil

10

Esse céu azul de anil

É testemunha ocular

Da degradação real

E da corrupção sem par

Assistiu tudo de cima

Fosse quente ou frio o clima

Nunca parou de espiar

11

De vagar veio a mudar

Mais nada de educação

Muito depois inventaram

Essa tal de eleição

Só mudando a desventura

Porque a velha gravura

É quem tem aceitação

12

Do velho aperto de mão

Dos favores criminosos

Dos crimes a traição

Dos coronéis ardilosos

Ficaram esses resquícios

Aplicado como vícios

Nos veteranos dolosos

13

Os costumes venenosos

Só mudaram sua capa

Politico se deleita

Na sutileza escapa

Comprando do mesmo jeito

E o povo bem satisfeito

Trilha fiel o seu mapa

14

O eleitor troca tapa

Em defesa dessa gente

E quanto mais eles brigam

Mais o politico se sente

Importante nesse feito

Que compra e paga o pleito

Do jeito de antigamente

15

A troca é diferente

O coronel ainda atua

Só que de forma enfaixada

Manda em tudo inté na rua

O titulo é embutido

Agindo é reconhecido

Pela natureza sua

16

O eleitor ele acua

Cada um tem um cabresto

Um coronel desarmado

Usando o mesmo pretexto

Impõe a democracia

Engorda a demagogia

Herdada como contexto

17

E todos seguem o texto

Trilhando em sua desgraça

Algemas em pés e mãos

Onde atinge toda raça

Pra defender o ditoso

Que luxa todo orgulhoso

Na incompetência ultrapassa

18

Só nunca falta ameaça

Nem nunca falta castelo

As promessas se amontoam

Nos planos tudo é belo

Se no mundo isso acontece

Meu sertão quem mais padece!

É onde mesmo eu me atrelo

19

O povo é mui singelo

A ignorância é bem pura

Pois quem guarda a tradição

Outra historia não procura

O malvado sabe disso

Emprega com compromisso

Pago pela prefeitura

20

E começa a desventura

Com cabine de emprego

É aquele bota e tira

Que mais parece um chamego

Na família bem maior.

Dá o emprego melhor

Aumentando o desemprego

21

O fraco perde o sossego

Todo dia corre a trais

Querendo uma vaguinha

Mendiga quaisquer reais

Mais não dá pra todo mundo

Porque usou todo fundo

Pra pagar os maiorais

22

Junta cabo eleitorais

Pagando no caixa dois

Que é pra levar a mensagem

Bem distante do que sois

E parte pra eleição

Com monte de charlatão

Que come agora e depois

23

Vale menos do que bois

O pobre do eleitorado

Que pra o voto ter valor

Tem que ser avaliado

E qualquer um beneficio.

Só chega com sacrifício

Que pelo o voto é trocado

24

Fica o pobre envergonhado

Do acerto que se fez

Se fecha sem conversar

Com muita gente de vez

Pois se já tomou partido

Tá todo comprometido

Chega perde a lucidez

25

Vai dia, semana e mês,

E o comentário se estende

Onde tem o comprador

Também tem o que se vende

E o povo aceita a oferta

Que entra de porta aberta

E a corrupção se rende

26

De fato o que se entende

É que o erro vem de cima

Da classe subliminar

De presente alta estima

Que do aperto de mão

Contaminaram a nação

Que do voto é obra-prima

27

E o matuto se anima

Lá nas bandas do sertão

Relembro dois mil e quatro

Registro em narração

Visitei na minha terra

Em baixo, em cima da serra.

No tempo de eleição

28

Os coroneis em ação

Ainda vi por inteiros

Rodeados de capangas

Com nomes de motoqueiros

Vi os cabos desfilando

E a consciência comprando

Nos termos eleitoreiros

29

Dos favores aos dinheiros

Presenciei de verdade

Um voto valia vinte

Pelo Sítio e na Cidade

Mas sofrendo a inflação

Sofreu também correção

E muita desigualdade

30

Não se soma a quantidade

Que num voto se investe

De vinte foi pra cinquenta

Onde o matuto se veste

De pura sabedoria

E sunga toda iguaria

Consumindo feita a peste!!

31

É assim em todo nordeste

As notas perdem valor

Passaram vender por cem

Já incluso com o favor

Mas próximo da eleição

Aumenta a inflação

E o dinheiro perde a cor

32

O nome de eleitor

Tem um prestigio danado

Quanto maior for o numero

Mais será o arrecadado

Vi numa casa com sete

Comprar inté mobilete

Pra o voto ser confirmado

33

Já outro esmolambado

Chega contando derrota

Dá uma de coitadinho

Pede um boi ou uma garrota

E come de todos eles

Fraquejam nos atos deles

Chorando sabe que arrota

34

Um outro pede a cambota

Do jipe vei da família

O outro quer um barreiro

Vem e pede “catrepília”

Já um quer televisão

Ou a boca do cacimbão

Do dinheiro de Brasília.

35

O velho radio pília

Esse já caiu da moda

Se a oferta for pequena

O eleitor se incomoda

E exige na altura

Que a bondosa prefeitura

É quem tudo acomoda

36

E matuto faz a roda

Deixa o politico no meio

Pousando de salvador

Cavalga no aperreio

Gastando o que não é dele

E a honra só vem pra ele

Esnobe do galanteio

37

Vem outra mostrando o seio

Quer dinheiro pra tratar

O outro quer a “CERÂNICA”

Ou a sala de jantar

Do jeito que aprendeu

Inova do jeito seu

Mas nada se ver mudar

38

E nem se pode esperar

Que mude a trajetória

Da politica hodierna

Que sequencia a escória

Dos coronéis corrompidos

Dos votos todos vendidos

Que deles faço memória

39

Eu posso fazer notória

A toda gente da era

Mostrando tudo a vocês

Orientar-vos, eu quisera!

Pois nessa classe atuante

Do politico e o votante

Coisa boa não se espera!!

40

Já o honesto não se altera

A lista negra ele exclui

Inovará lendo isso...

Ligeiro o sábio conclui;

Toda faça e cinismo

O mal do coronelismo

Nessa era ainda influi!!

Jailton Antas
Enviado por Jailton Antas em 30/09/2012
Reeditado em 11/07/2015
Código do texto: T3908923
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