" Sou do Cangaço "
SOU DO CANGAÇO
Carlos Silva
Sou do cangaço o meu nome é Virgulino, sou brabo desde menino, medo algum não tenho não.
Fui batizado nas grotas dessas andanças perdi cedo as esperanças, me chamam de Lampião.
Sou contra tudo que pareça injustiça, desprezo logo à preguiça, passo fogo em quem vier,
Com trairagem ou papo de trambiqueiro chamo logo um cangaceiro, só não bato em mulher.
Hoje tá cheio de poeta almofadado, que quer dá o seu recado, embelezando a poesia,
E desconhece o suor e nossa luta, nossa linguagem matuta, é o que nos da alegria.
Mas eu respeito à intelectualidade, mas lhes digo de verdade o que seria de Cascudo,
Se não tivesse derramado num papel honrarias pro cordel, que deixou letrado mundo.
Deixei um cacho de poesia pendurado, pro doutor que é letrado, decifrar o meu dizer,
filologia na caatinga é diferente, se não sabe verbo invente, improvise pra aprender.
Metrificando toda uma filosofia ,lambuzei de poesia meu coração de menino,
Sou brasileiro, Bebi verso em riacho, raspei no fundo do tacho um mote pra cantoria.
Ah meu sertão, assim tão discriminado, tudo de ti foi tirado, desde os tempos de canudos
Hoje vivemos com a memoria castigada, para nós não sobrou nada, mas não vamos ficar mudos.
Rio de leite e barranco de cuscuz, carregando nossa cruz mas veio grande genocídio,
E dizimaram com um tom de covardia, mas minha maior valia, não fui fraco pro suicídio.