COMO INFÂNCIA NÃO TEM SEGUNDA VIA, SÓ ME RESTA CHORAR PELO PASSADO.

COMO INFÂNCIA NÃO TEM SEGUNDA VIA,

SÓ ME RESTA CHORAR PELO PASSADO.

(Mote do poeta Hipólito Moura)

(Glosas de Carlos Aires)

O espelho cruel por ironia

Carregou toda minha formosura

E os formatos duma caricatura

É o que vejo em meu rosto todo dia

Os momentos de extrema alegria

Por lamento e tristeza foi trocado

Se o bom tempo não foi aproveitado

É porque dá proveito eu nem sabia

Como infância não tem segunda via,

Só me resta chorar pelo passado.

Desvendando da vida seus segredos

Pelos campos fazia piruetas

Caracóis, gafanhotos, borboletas

Tudo estava incluído em meus brinquedos

Das encostas da serra, nos rochedos

Eu ouvia meu grito ecoado

Esse som na memória está gravado

E ouvi-lo de novo eu bem queria

Como infância não tem segunda via,

Só me resta chorar pelo passado.

Hoje o pranto escorre em minha face

Inundando as pregas e carquilhas

De repente caí nas armadilhas

E me vejo envolvido nesse impasse

E por mais que eu tente algum disfarce

Nunca vem a contento um resultado

Porque o tempo, um carrasco tão malvado

Não transforma o real em fantasia?

Como infância não tem segunda via,

Só me resta chorar pelo passado.

O que resta dos tempos infantis

São lembranças saudosas e lamentos

Como chagas que geram sofrimentos

E altera o formato dos perfis

Sem ter chance nenhuma para um bis

O destino da gente está traçado

E o transporte que leva ao outro lado

Não regressa na mesma rodovia

Como infância não tem segunda via,

Só me resta chorar pelo passado.

Carlos Aires 26/08/2012