MEU QUERER BEM PUR SIVIRINA

MEU QUERER BEM PUR SIVIRINA

Bom dia de esse hospitá

Me adisculpe o prosiado

Quero urgentemente

Ser pu oces recepcionado

Andei mai de cem léguas

Pra mode dá meu recado

Meu burro vei metade

Prumode que estrupiô

Tirei o resto no pé

A precura do meu amor

Passei sede, frio e fome

Só sardade me alimentou

Confesso ser matuto

E só da roça sei cuidar

Mai me ouça um tantin

Pra uma histora contá

Sou cabôco roceiro

Quereno o meu amor achar

Uma cabôca mimosa

Nascida na terrinha

Que desde a sambundagem

Nós Brinca de cirandinha

Fia de seu Chico e Maria

Meu padim e a madinha

Foi lá na Peda Preta

Que esse meu anjo nasceu

Alegrano a os pessoá

chega a peda enclareceu

E no sertão espinhoso

Foi que essa fulô cresceu

Lala era seu apilhido

Sivirina o de batismo

Minina abunitada

Vivia no catecismo

Rezava de noite a dia

E fazia com brilhantismo

Era uma fulô mimosa

Parecia com um jasmim

Os oios esverdiados

Abuticados cuma timtim

Os cabelos apreitaiados

Parecido um carvãozim

A voz era macia e suavi

Que nem sapo a coaxar

A pele meia amorenada

Desejosa de pegar

As mãozinha pequena

Bem bunita pra danar

Essa minina aprincesada

Demanchou meu coração

E eu com minha enxada

Sonhava com emoção

De um dia ter o direito

De tocar em sua mão

Mai a danada nem me via

Nunca me deu atenção

Com vestidos de chita

Desfilava sem intenção

Dançava com todos ali

E eu bobo cum tal visão

Meu amor purela cresceu

Igual cresce mata pasto

Purdonde ela passava

Eu conhecia pelo rasto

Era um amor da molesta

Quase dar um infarto

Na radiola de papai

Eu curtia minha agonia

Umas musgas abunitada

Completava a maruzia

Desde o cair do sol

Indo inté o outro dia

Um dia me arresovi

O meu amor ir declarar

Falar da minha vontade

Lhe querendo namorar

Dizer quanto queria bem

Que vivia de lhe amar

Tumei banho no açude

Minhas botas eu calcei

Montei no meu jumento

Pra casa dela rumei

Aqui ali uma ensaiada

Tremendo que engasguei

Chegano na sua casa

Meu padim vei encontrar

Preguntou-me pu papai

Cuma as coisas tá lá

Falei as nuvidade

Sempre pra casa a oiar

Foi quando ele me disse

Ramo lá dento armuçar

Meu fio se aprochegue

Se abanque pra se saciar

Coma dessa buchada

Prumode exprementar

Eu comecei a cumê

Mai todo desconfiado

Cumida de fartura

E só eu e ele lá sentado

Quis preguntar pu Lala

Mas mior fica calado

Terminado o almoço

Ele começou a contar

Falou dos seus cabritos

O burro que vive a rinchar

E me disse de supetão

Lala foi a natá estudar

Pensa ser uma doutora

Para cuidar dos doente

Saiu daqui muito filiz

Tranqüila e sorridente

Deus pruteja minha fia

E lá arranje pretendente

Quando escutei aquilo

O coração quase parou

Deu uma batucaiada

Quase que se arrancou

Se ribuliu cum a gota

Inchamiado de amô

Agradicie a meu padim

E pra casa eu rumei

Triste feito raposa

Quando lhe bota arrudei

E logo uma cachaçada

Pur esse amor eu tumei

O tempo foi se passando

Sem a ela eu espiar

Comecei ficar mufino

E todo dia me preguntar

Quando esse estudo acaba

Será quela vai vortá.

Dois ano se interou

E nenhuma vista dela

Sube que tá na capitá

E eu isperano por ela

Trabaia nas infermagem

Que inda é muito bela

Pru via que só pode ser

E agora que deve tá

Diz que no tal hospitá

Todos querem paquerá

Tou muito intristecido

De não poder ir pra lá

Mai um dia me acordei

Quereno ser seu amado

E só mais uma vez

Oiá seus oios esverdiado

Me perder no surriso

Ir lá da meu recado

Andei pur uma sumana

Pra mode vim lhe falar

Dizer a minha Lala

Que vivo só pra te amar

Pois desde de nós minino

Que eu queria te contar

Dizer que minha vida

Sem você num tem valor

Você é o meu fôligo

E meu tudo, é meu amor

Me aceite pur namorado

Pois pur ti sou sofredor

Ai quando Lala chegou

Que espiou eu bem ali

Deu logo uma suadeira

Comecei tombém tuci

Fiquei trimilicando

Minha voz não quis sair

Adispois de um bom tempo

Que seus oios me oiou

Num prununciou nada

Meus oios foi que falou

Esse anjo divinado

Em silencio me beijou

Nem disse o queu queria

Mas ela ficou sabeno

Porque quando me beijou

Pecebeu eu ardeno

De amor e chei de paixão

E sem ela tava morreno

Vortei pra minha terra

E fiquei só de me lembrar

Daquele dia em que eu

Fui meu amô precurar

E já espero todo dia

A hora que ela vai vorta

Já cortei quinze furquia

Uma tapera iniciei

Inté cama de vara

Tombém pruvidenciei

Vou me casar com ela

E pra essa casa eu trarei

Lino Sapo
Enviado por Lino Sapo em 29/07/2012
Reeditado em 21/10/2016
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