Pra mim... Tudo é poesia!
Mote: Do Grande Poeta e Professor de cordel.
Mestre Lemos: Pra mim... Tudo é poesia!
Glosa: Jailton Antas
01
O sertão no mês de julho
Açudes cheios sangrando
Galinha d’água nadando
Mergulhão e seu mergulho
Pato, marreco em barulho
Uma orquestra em harmonia
E a festa de gritaria
Me enche de felicidade
Faz-me esquecer a cidade
Pra mim... Tudo é poesia!...
02
A doce variedade
Da comida sertaneja
Um cafezinho em bandeja
E um choro de toda idade
Num velório de saudade
Moringa de água fria
Acontece todo dia
Quando morre um sertanejo
Mesmo triste eu esbravejo
Pra mim... Tudo é poesia!...
03
Um grilo com seu gaguejo
No claro do vaga-lume
O ganso e o seu ciúme
O andar do caranguejo
Jumento chei de desejo
Defendo com ousadia!!
O pavão com boemia
Desfila pra natureza
Expondo sua beleza
Pra mim... Tudo é poesia!...
04
Um imbua sem fereza
Enrolado bem no meio
Frustraram o seu passeio
Se recolheu de tristeza
Por causa da malvadeza
De quem vem e lhe judia
Encara a covardia
Depois finge não ver nada
Se estira na mesma estrada
Pra mim... Tudo é poesia!...
05
Lembrar da terrinha amada
Topando na escuridão
Recordar o meu sertão
O gostinho da coalhada
A noite de pamonhada
No outro dia ela fria
A saudade me arrepia
Por isso eu dou importância
As lembranças da infância
Para mim... Tudo é Poesia!...
06
Driblando essa distancia
Abro caminho em deserto
Vou cobrindo o descoberto
Sem me unir a arrogância
A paz é a minha instância
Eu sacio a melodia!!
Quem faz isso em harmonia?
Tem motivos pra sorrir,
E eu procuro lhe seguir,
Pra mim... Tudo é poesia!...
07
Um bêbo sujo a cuspir
Fazendo arruaça em feira
Um menino na carreira
E um outro a perseguir
E a gente se divertir
Entre tanta estripulia
Ainda lembro a folia
Dum juda em semana santa
Amarrado na garganta
Pra mim... Tudo é poesia!...
08
Angu com leite na janta
Bolo de caco e beiju.
A castanha do caju
Que torrada inté levanta,
A saparada não canta
Quando a invernada estia
Resta então só água fria.
Lá na cacimba que mina
E assim o verão termina
Pra mim... Tudo é poesia!...
09
Vovó que já foi menina
Relembrando sua infância
Meu avô com elegância
Lembra a sua pele fina
Numa foto em cartolina
Na saudade vivencia
E o que foi só alegria
Não da mais tanta atração
Só resta à recordação
Pra mim... Tudo é poesia!...
10
A bicada num balcão
A ânsia do embriagado
Quer deixar lá pendurado
Uma dose de alcatrão
Cuspindo e melando o chão,
A conta ninguém confia
Nem mais uma só se fia
Para quem já bebeu tanto
E isso causar espanto...
Para mim, tudo é poesia!!!
11
Casacas causando encanto
Cantando que belo som!
Não erram nem saem do tom
Só brilham em todo canto
E findam jorrando pranto
Vai se a voz que irradia,
Quando perde a moradia,
De espinhos pra o xofreu
Inda cantam mais que eu
Para mim, tudo é Poesia!
12
Quem na luta já sofreu
Lutando contra a doença
Sem ter fé, sem mais ter crença
À vista se escureceu
A pobreza,se estendeu
Ninguém mais lhe remedia,
Tem guerreiro todo dia
Nesse sertão brasileiro...
Esquecido por inteiro
Para mim, tudo é Poesia!
13
Fez do homem pioneiro
Aos animais, deu saber,
O vaga-lume acender,
Lá no final do terreiro
Um pisca-pisca ligeiro
Só a noite alumia
E a burra que não dá cria
Ver burrinhos bem criados,
Em outros seios mamados
Pra mim, tudo é poesia!!
14
Cachorrinhos animados
No bom engate do pino,
Pedradas de um menino
Outros cincos rodeados
Mata-burros imprensados
Redemunho e ventania,
Porca gorda dando cria
E um matuto espiando,
Minha origem vou cantando
Para mim, tudo é Poesia!
15
Coração acelerando
Com o peso da idade
No peito vem a saudade
De tudo que vai passando
O passado vai ficando
Esperamos novo dia
Mas ninguém respeita o guia
Criador do universo
Se tudo transformo em verso
Para mim, tudo é Poesia!
Fim