As mulheres dos tempos de VOVÓ
Jailton Antas
01
Viajando no passado
Nas coisas de antigamente
O poeta inté se sente
Constrangido e acanhado
Num assunto delicado
Por falar de intimidade
Mais se tudo era verdade
Como a minha avó dizia
E se assim acontecia
Se torna simplicidade
02
Num casal da antiguidade
Namoro era a distancia
Não precisava elegância
Para ter felicidade
Não importava a idade
Era como regimento
Nem no belo casamento
Se dava beijo na boca
Nem grinalda como toca
Se via feito ornamento
03
Não havia fingimento
Dava um sim de coração
Podia pegar na mão
Negando o arrependimento
Padre via o juramento
E as testemunhas também
Conselhos ouviam bem
E já saiam casados
Eternos apaixonados
Pra sempre sem fim amém
04
O maridão feito um trem
Bem machão até na alma
Em nada havia calma
Fazia como convém
A mulher como ninguém
Nunca era interrogada
Se estava saciada...
Ou se algum prazer sentia
Que suportava a agonia
De noite e de madrugada
05
Sexo não valia nada
Se via como destino
Era pra fazer menino
Todo dia cutucada
Se sentia realizada
Vendo o marido contente
Que saia sorridente
De barriga aliviada
E ela toda engenbrada
Ria se sentindo gente
06
Sofria de tão carente
Sem direito a carícia
Se dizia que delicia
Irritava o renitente
E que ingnorantemente
Censurava a sua ação
Chamava depravação
A felicidade dela
Se gemesse era cadela
Pois mulher direita não
07
Muitos deles sebosão
Higiene nem pensar
Pois tinha que suportar
O mergulho do ferrão
Que fácil tinha ereção
Qualquer hora e na dormida
Bastava uma cuspida
Pra ele já tava pronta
E dama na cama tonta
Fincava toda doida
08
A mulher era na vida
Objetos sem valores
Recebia dos injetores
A esperma tão fedida
E na transa concluída
Se um filho concebia
Pra ambos era alegria
Só ela pagava o pato
Pois até o dia do parto
Somente ela sofria
09
Quando a criança nascia
Empacotava o bendito,
Outro costume maldito
Que a elas pertencia
No resguardo não havia
Um banho de corpo inteiro
Lavava só o sangreiro
Com pouco de água quente
Bebia inté aguardente
Pra limpar tudo ligeiro
10
Era um remédio caseiro
Botava arruda e mel
E o marido no papel
Se quer abria letreiro
Era um mole converseiro
Com vinte dias queria...
E coitada atendia...
Mesmo sem poder fazer,
Com sangue limpo a correr
Outro menino fazia
11
Como a mulher sofria
Calada sem dizer nada
Muito forte e dominada
Nas rédeas da covardia
Sendo assim ela vivia
Tendo tudo e sem ter nada
Num prazer só de fachada
Executando seu dom
E a fama de homem bom
Lhe dava a troco de nada
12
E assim vivia amada
A mulher antigamente
Até o seu absorvente
Era uma tira dobrada
Da coberta que rasgada
Ela então aproveitava
Na menstruação usava
Com jeito bem dobradinha
Sem abas para a calcinha
Nem sei como segurava
13
Sem contar que trabalhava
Às vezes até na roça
Um pé de pau de palhoça
Lá ela se acomodava
O almoço cozinhava
Ainda mesmo doente
Um ser todo diferente
Do marmanjo respeitado
Que por ser um bem tratado
Só se sentia carente
14
Com nove meses pra frente
O bebe inda nos braços
Tinha o bucho dois espaços
No mesmo recipiente
E parindo novamente
Os dois filhos bem chegados
Os trabalhos redobrados
Usava a água inglesa
Mode fazer a limpeza
Dos lugares inflamados
15
Escalda-pés nos inchados
Água morna pra vagina
Bebia robusterina
Pra ter os vasos vedados
Mas tinha dias contados
Pra voltar logo a ativa
Do marido e a maniva
Ou a mesma bruta cobra
Voltava a sofrer de sobra
De forma tão decisiva
16
A sina da primitiva
Não devia ser quebrada
Pela mãe era ensinada
Na regra definitiva
Se fosse ela adotiva
Tinha o mesmo regimento
E pra o santo sacramento
A mesma regra aplicava
E a inocente casava
Mesmo sem ter sentimento
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E lhe davam um jumento
De palito e gravata
Muito queijo, grude e nata
Só via no casamento
Renovava o sofrimento
Da classe bela e perfeita
Que onde ela se deita
O lugar se torna bento
Trazendo contentamento
E parceria imperfeita
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Mas sem voto foi eleita
Ocupando seu espaço
Sem fazer uso do braço
E a ninguém fazer desfeita
De esquerda hoje é direita
Lidera na quantidade...
Dominam na qualidade...
Controlam a inteligência,
Pois ela é a agencia,
Onde produz a saudade
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Onde mora a divindade
Ela tem um flet lá
Depositando de cá
A honra da lealdade
Cumpriu com sinceridade
Sem nunca ser destemida
Onde foi tão excluída
Pela bruta ignorância
Adquiriu importância
Hoje nada lhe intimida
20
Já falei da triste lida
A gravidade mostrei
Inda a pouco comentei
Lembrando toda ferida
Trouxe a tona aquela vida
Onde o crime foi gerar
Nela se pode encontrar
Franqueza sem fingimento
Imparcial sentimento
Meiga jóia do meu lar