Primeiro amor do MATUTO
PrimeIro amor do matuto
01
Honrado por natureza
Sem possuir profissão
A terra dar seu sustento
O inverno cobre o verão
Quando vem a seca bruta
Vai ao aceiro da gruta
Cava nele cacimbão
02
Vive ali na ilusão
Num sonho interminável
Um par de roupas possui
Nada mais é desejável
Não segui a moda dos chiques
Também não usa trambiques
Nem tem hábito invejável
03
Numa morada agradável
Sob a brisa do arrebol
Vendo a beleza dos ninhos
E o cantar do rouxinol
Amigo dos passarinhos
De toda raça e peixinhos
Quando pesca e de anzol
04
Trabalha de sol a sol
Suporta o calor latente
Usando chapéu de palha
Quem protege do sol quente
Não se preocupa com nada
Té pra arrumar namorada
Usa forma diferente
05
Em casa lá no batente
Da bela casa o abrigo
Se assenta a imaginar
Ou conversar com amigo
Conta historia de trantcoso
Cada um mais mentiroso
Mas sem amor é castigo
06
O respeito é um artigo
Que jamais é violado
Não há segunda intenção
Se sentir-se apaixonado
Não ama por atração
Não se pega nem na mão
Sem ter namoro firmado
07
Todo ele é acanhado
Mas só se for verdadeiro
Nunca observa a moça
Olhando seu corpo inteiro
Pode também ser da roça
Não precisa coxa grossa
Importa é seu paradeiro
08
Cruviteira ou cruviteiro
Translada a informação
E é aquele leve e traz
Postulando a união
Cada um mais vergonhoso
Sem os dois olhar gostoso
Nem um ter visto a feição
09
Numa festa de São João
Ou missa de mês em mês
Pode marcar um encontro
Que será de todos três
Sai os dois se pertencendo
E o cruviteiro dizendo
Foi ele quem tudo fez
10
Se amarelam de vez
Depois do sim confirmado
Se olham com nitidez
Ele fica arrepiado
Primeiro toque da mão
Quase para o coração
De tanto acelerado
11
Fica ele envergonhado
A moça fica também
Cada um diz onde mora
Se for perto de alguém
Depois dos dois conhecidos
Sem os cheiros ter sentidos
Conclui que se querem bem
12
Coração a mais de cem
Batendo alvoroçado
Chega em casa não tem sono
Com desejo incontrolado
E quando amanhece o dia
Sai saltando de alegria
No caminho do roçado
13
O caboclo alucinado
Vai usando sua chibanca
Se for arrancando toco
Em cada raiz que arranca
Relembra o semblante dela
Faz tudo pensando nela
Que a atividade sai manca
14
Aquela feição tão branca
Vislumbra no seu olhar
Lá no pé sombrião
Quando para pra almoçar
Não importa a madeira
Faz uso duma peixeira
E começa as soletrar
15
Que é para memorizar
Sabendo ser definido
Escreve o nome dela
Não se sente constrangido
Escreve o primeiro amor
E em todo canto que for
Repete o acontecido
16
Ele sonha ser marido
Ela sonha ser muié
Em casa se acorda sedo
Vai logo fazer café
Teve a noite mal dormida
Não encontra outra saída
Muito sedo tá de pé
17
Exercita sua fé
Faz um monte de oração
Aquele moço encantado
Carregou seu coração
E ao santo casamenteiro
Faz lá o seu converseiro
Que chega chama atenção
18
Num enterro de um irmão
Na bendita sentinela
Poderão se encontrar
Na famosa luz de vela
São uns chorando de dor
Outros se enchendo de amor
Cada um mais se atrela
19
Matuto ver a donzela
No meio da escuridão
Quase não bate a pestana
Às vezes faz confusão
Mas se os dois tão se querendo
Vão assim se conhecendo
Mesmo sem pegar na mão
20
Havendo repetição
Surge então o combinado
Para ir pedir a moça
Ser enfim seu namorado
E o cabra se treme todo
Toma chá de tudo e bôdo
No dia que tá marcado
21
Sai ele impiriquitado
Camisa calça e botina
Sai cheirando a alfazema
Ao encontro da menina
Que em tudo é donzela
Mais pede só a mão dela
E o resto nem examina
22
Em casa seu pai ensina
Lá o seu comportamento
Se alguém lhe perguntar
Fale pouco no momento
Diga lá que bota roça
Que mora em minha palhoça
Mas já tem seu mantimento
23
E naquele ajuntamento
Conversa vai outra vem
Ganhou o velho no papo
Namoro por certo tem
E sem mais pra o momento
Marca logo o casamento
Pro pai da moça faz bem
24
Pra quem não tem um vintém
Pede um prazo pro casório
E vai construir a casa
Passa tudo a ser notório
Fulano vai se casar!
Todo mundo a comentar
Chega abusa o falatório
25
Primeiro é o dormitório
Quele compra do seu jeito
Quando encontra outro matuto
Formando seu par perfeito
Na expressão de quem ama
Diz eu já comprei a cama
Chega fala satisfeito
26
Nada mais a seu respeito
Precisa ser comentado
Constrói um fogão de lenha
Assenta um pote do lado
E trepa numa forquilha
Pois vai ser a maravilha
De tudo que é cozinhado
27
De moveis só esperado
Pode crer vai ser a mesa
Que vem com quatro cadeiras
Vai ter banco com certeza
Pra colocar na varanda
Pra receber quem lá anda
Com carinho e gentileza
29
E segue aquela firmeza
Té o dia do casamento
Dão uma festa de arromba
Vai sair do sofrimento
Vai viver com seu amor
Faz filho de toda cor
Nunca faz um julgamento
30
Matuto é ornamento
O matuto é varonil
O matuto é estrela
Matuto nunca é vil
Matuto é absoluto
Se um dia faltar matuto
Pode acabar o brasil!!