Princesa, São José, Manaira e BIDULA!

PRINCESA, SÃO JOSÉ E MANAÍRA

01

Princesa Isabel, bendita!

Com benção de Deus do Céu

Pra ti tiro o chapéu.

Quando te faço visita

Minha alma se excita

Com as baixas verdejantes

O calor que faz de dia

É forte, da agonia...

A boca da noite esfria,

Com climas aconchegantes.

02

Sempre foi desenvolvida

E caridosa também

A população indo bem

Com boa forma de vida

Tavares filha sofrida

A Princesa sempre pronta

Como também São José

Que costela dela é

E a Manaíra deu fé

Sem precisar prestar conta

03

Manaíra que cresceu

Sobre a contribuição

De quem eu faço menção

Pois o Herói já morreu

Nem sei o quanto correu

Pra que a cidade caçula,

Que mesmo sem ter estrada

Por Princesa sustentada

Ta na historia narrada

Do carro de seu Bidula.

04

Um homem bom e direito

Manairense sem orgulho

Honesto e sem barulho,

Fez ele mais que prefeito.

Irei contar o seu feito,

Fez o progresso surgir

Ao amanhecer do dia

A camionete enchia

Do Padre, ao bóia fria,

Ou mulher para parir.

05

A viagem que ligava

De Manaíra, a Princesa,

E São José sem defesa

Bidula lhe ajudava

Toda riqueza doava

Ao povo da região

Na estrada levando gente

Que iam arrancar dente

Até beber aguardente,

Quem não tinha ocupação

06

Não fazia acepção

Pois todos eram iguais

Deficientes, normais,

Preto, pobre, velho, anão,

Até Geraldo chambão

Quando a mula adoecia

Bidula era o socorro

De quem descia do morro

Rodeado de cachorro

No amanhecer do dia.

07

Trazia um balai de ovo

Comprado para a revenda

Juntando ao da fazenda

Frango, guiné, peru novo

Com isso imprensava o povo

Dentro da carroceria

Bidula aconchegava

Abria a tampa, amarrava

A bicharada levava

Tratando sem grosseria

08

Sem pressa para chegar

Nunca andava correndo

Vendo o Lugar crescendo,

Mesmo sendo devagar

Ajudava a carregar

O seu povo com prazer

Recordo aquele passado...

O seu carro bem lotado,

Fazendo tudo rimado

Do modo que vou dizer.

09

Ida e volta a Princesa

Tirava o seu sustento

Livrando vaca e jumento

Chegava lá com certeza

Até Antõe de Tereza

No Espinheiro subia

O vulgo Antõe buxudo,

Odete de Zé Miúdo,

Que iam comprar de tudo

Que em Princesa vendia.

10

Traziam baitas sacadas

De cada coisa um volume

Sabão, pasta e perfume

Foice, enxadeco, enxadas

Machados e até machadas

Comprava-se lá também

Traziam na camionete

Único carro de frete

Com as compras de Odete,

E do Jacu Antõe Bem.

11

À tarde se repetia

Lá ia ele de novo,

Na véspera do ano novo

Ou até mesmo no dia,

Voltava na tarde fria

Trazendo outros clientes

Vinha Geraldo Larai

Outro trazendo balai

Um bêbo cai, ou não cai,

Perturbando todas, gentes.

12

Mocinha, Vavá Sabino.

Também pegava o embalo

Se fosse vender um galo

Ou consultar um menino

Já pisava no suíno

Que pertencia a Loló

De dentadura aguça

A porca metia a fuça,

Em Maricota pinguça

E Zé Galdino Cotó.

13

Seu Toró também andou

No carro do companheiro,

Mesmo sendo fazendeiro

Seu carro um dia quebrou,

Subia inté Promotor

Era doutor só no nome

“Vinha também Lia Piôi

Bichim, Mima Zé de Boi.

Pra todos Bidula foi!...

Inda é um grande home”

14

Quem lembra sente saudade

E sua falta também

Pois como ele ninguém

Pra se falar à verdade

Transportou com qualidade

Não teve um substituto

Manaíra inda chora

E todo Céu comemora

Cidade a onde mora,

São José vive de luto.

15

Seu Elizeu Guabiraba,

Com seu filho Eleziel

Um passageiro fiel

Com o seu chapéu de aba

Quem vinha tirar goiaba

Na casa do meu avô

Lá minha avó fazia

Queijo quente, nata fria...

Quem comia repetia....

Provando assim que gostou.

16

Até o seu Chico Antas

Fez uso do seu transporte,

Quando foi o homem forte

De Manaíra nas tantas....

Mandava comprar as plantas

Para florir a Cidade,

De onde era o prefeito,

E o motorista perfeito

Não cobrava satisfeito

Sendo feliz de verdade.

17

Do Olho Dágua dos Antas,

Subiam de serra acima

Meus tios de alta estima

Levando Santos e Santas

Ainda galhos de plantas

Para benzer em Princesa

Dali já enchia o carro,

Melando tudo de barro

Meu povo também eu narro

Conto tudo com franqueza.

18

Se o carro vinha lotado

Sem ter nem uma brechinha

Chegando em Zé de Cabrinha

Tava Cabrinha assentado

Desde cedo ali plantado,

Queria à Princesa ir

Ao amanhecer do dia

Todo aposentado ia

Ele apertava e cabia,

Um jeitinho pra subir.

19

No dia de pagamentos

Manaira sem ter banco

O carro velho no tranco

Aumentando sofrimentos

Pra tantos faltando assentos

A cena se repetia,

Abria a tampa traseira

Enchendo até a beira

De gente, animais, e feira

Todo espaço preenchia.

20

Sábado a grande feira

Manaíra oferecia

E muita gente fugia,

Cortando sol e poeira

Porque da mesma maneira

Princesa tinha também

Igualmente a Manaíra

Caçuá, balai de embira

Guiné, galinha caipira

Que até hoje inda tem.

21

Manairences saíam

Deixando a feira de perto,

A concorrência por certo

Muito mais lhes agradavam

Transporte que os levavam

Certo mesmo só Bidula

Caprichoso no volante

Nasceu pra ser viajante

Por isso tão importante

Té pro Saco dos caçula

22

Do Saco descia a pé

Fosse de Baixo e Cima

Não é só pra fazer rima!

Desciam pra São José

Lugar dos homens de fé,

Encontro ali garantido

O carro já vinha cheio

Pesado e fedendo a freio

Mas quem lá do Saco veio

Seria bem atendido.

23

Parecia um coração

Da maior mamãe do mundo

Trambiqueiro, vagabundo

Dava mesma atenção,

Ruda e tõi Macarrão,

E Netim do Cavaquim,

Dividiam mesmo espaço

Ao som das cordas de aço,

Dizendo eu sou ricaço

E aqui só tem Netim.

24

Até os povos ciganos

Freqüentes na região

Sem fé ou religião

Católicos ou profanos,

Que em casinhas de panos

Passavam dias ou meses,

Na beirada da estrada

Sem medo de tudo ou nada

Vida boa aperreada,

Mas eram Dele; fregueses.

25

As estradas perigosas

Nunca machucou ninguém,

Naquele seu vai e vem

Não viveu um mar-de-rosas

Mais levou moças fogosas,

E moças lindas também,

Como Adelma Vicente

Freguesa muito frequente,

Que a chamava sorridente

Indinha que quero bem.

26

Sua casa na metade

De Manaíra e Princesa

Além da bela freguesa,

Tinha outros na verdade

Não vinha em velocidade

Pelo peso da traseira

Quase arrastando no chão

Passageiro dava a mão,

Parava dando atenção

O grande amigo Tonheira.

27

Sem medidas no aperto,

Demonstrava alegria,

Caminho a fora seguia

Na estrada sem concerto,

Naquela vida de acerto

Bem feliz por conduzir

Na ida e no regresso

Fazendo o maior sucesso

Dos nomes que cito em verso

Ajudando evoluir

28

Até seu Antõe Brejeiro

No sábado ia pra feira,

Comprar carne e macaxeira

Era um fiel passageiro

Na volta era o primeiro

A procurar um assento

E esperava lotar

Seguiam bem devagar,

Gente de todo lugar

Exposto ao sol e vento.

29

E lá do Sítio Baixio

Geraldo, filho e mulé

Subia a vereda a pé

Cedinho e fazendo frio,

Manhã de chuva ou estio

Pra os filhos tomar vacina

Botava os zóio na estrada

Já que não ouvia a nada

Não escutava a zoada

Forçava então retina.

30

Meu avô também andou

Bidula serviu a todos,

A casa cheia de engôdos

Moças belas carregou,

Rapazes também levou,

De Manaíra ou Princesa

Que vinham as escondidas

Aproveitar as saídas

Pra namorar sem medidas

Com conforto e sutileza

31

Modesto e respeitador

Qualidade pura e impa

Vivendo com alma limpa

Sem guardar mágoa e rancor

Seus hábitos cheios de amor

Sem nunca ser imitado

Modos que só ele tinha

De tratar bem a velhinha,

Rapaz e também mocinha,

E o vovô aposentado

32

Fiado ou a dinheiro

Seu carro via se encher,

Nunca mandava descer

Um liso ou cachaceiro,

Dava carona ao roceiro,

Na época de emergência

Tirava gente do prego,

O doente, surdo ou cego...

Nesse embalo, eu não nego!

Não viveu de aparência

33

Logo cedo interrompia

O sono que Deus lhe deu,

Não sei o quanto sofreu,

Lá no amanhecer do dia.

Na manhã chuvosa e fria

Mostrava então seu vigor

Não pensava em vaidades,

Nas suas simplicidades

Interligava as cidades,

Trabalho sim de valor.

34

Nunca soube calcular

O quanto foi importante

Sendo simples viajante,

Tá fácil de recordar,

Só quem não quer se lembrar

Não ver o real valor

Levando e trazendo gente

Estradas ruins, sol quente!

Se hoje fosse vivente

Merecia andar de “andor”.

35

No tempo quele vivia

Tinha promessas de sobras

Asfalto uma das obras,

Que o governo prometia

E sempre se repetia

Cada ano e cada pleito

A estrada nunca saiu

Quem prometeu num cumpriu

Bidula foi quem dormiu

Sem ver o asfalto feito.

36

Lamento aqueles heróis

Não viverem hoje em dia

Pra lembrar quanto sofria

E comentar junto a nós,

Que bradando em alta voz

Recordava a velha estrada

Onde maquinas não passavam,

E os governos cadastravam,

Homens então trabalhavam,

Ganhando ali quase nada.

37

Feliz quem tivesse a sorte

Na emergência falada

A Paraíba abalada

Desde o sul ate o norte,

Quem tivesse um peixe forte

Se alistava primeiro

Ou então era o feitor,

Bem tratado de senhor

E o pobre trabalhador

Ganhava menos dinheiro.

38

Eram chamados cassacos,

Aqueles que se alistavam

E no trecho se acampavam

Dormia em lençol de sacos

De dia tapar buracos

Da estrada prometida,

Prometida todo ano

E o povo entrava no cano

Conversa mole e engano,

Sem a promessa cumprida.

39

Muitos se foram sem ver

O asfalto desejado

Que por todos almejado

Para o progresso crescer,

... isso hoje acontecer

Sem o Bidula está vivo

Pois sei se vivo estivesse

Recordava seu estresse

E o seu alto-revesse

Ia tudo pra o arquivo.

40

Bidula só resta o nome

E as doces recordações

Sem recursos e mansões

Das viagens, sede e fome,

Quem for motorista tome

O exemplo do herói

Matuto do pé da serra

No mundo enfrentou guerra

Sendo um exemplo na terra

Seu nome ninguém destrói.

41

No meu tempo de menino

Ele me dava carona

Se chovesse usava lona

Quando eu voltava do ensino,

Da tampa tirava o pino

Pra poder caber mais gente,

E meninada gostava

Quando nos via parava

Todo mundo se atrepava

Fazia constantemente.

42

Nessa estrada tortuosa

Donde tirava o sustento

Não se fazia lamento

Na lida dura e penosa,

E a profissão caprichosa

Lembro que só ele tinha

Quando levava o povo

No outro dia de novo

Do nada tendo renovo

Sempre a cada manhãzinha.

43

Como todo motorista

Não é bom andar com medo

Escuta, guarda segredo,

Sendo assim é um artista

Recordo e lá vai à lista

Dos heróis de São José

Que a pinga um dia provou

Meu avô nunca parou

Morreu e Lula enterrou

Mais Jorge Vigó ainda é.

44

Pra sempre será defunto

Mais precisa ser lembrado

Onde Lula embriagado

Cavou a cova bem junto,

Das outras e fez rejunto,

Dando nome a profissão

Abria a cova com amor

Enterrava sem ter dor

Independente da cor

Cheio de satisfação.

45

Vô! Passageiro fiel,

Seu Lula era também

Coveiro, homem de bem,

Cumpridor do seu papel

Com fé no Emanuel

Bidula aos dois serviu

Davam trabalho ao subir

Quase sujeito a cair

De vagar ia a seguir

Com toda atenção seguiu.

46

Antonio de Olindrina

Tena de Duca e Baiano

Bebiam, pinga, indiano

Bebida de gente fina

Bidula com sua sina

No seu carro acomodava

Arruaça nem pensar,

E o grande mestre Jeová

Que quando ia trabalhar

Bidula também levava.

47

Me lembra o Antôi Jovêncio

Cum “trinta e oito” na cinta

Pois da sexta até na quinta

São José tinha silêncio

Sem acordo e sem convêncio

Atirava e ameaçava

Subia no carro assim

Com o Luis de Nezim

O suspense ia ter fim

Quando em Princesa chegava.

48

E Drô! Esse nem se fala!

Valente igual Lampião!

Uma pistola ou facão,

Nos bolso só tinha bala,

Nem só Bidula se cala

Com a educação das belas,

E em São José descia

Em todos bares bebia

As armas que conduzia

Caia por cima delas...

49

Nunca ofendeu a ninguém

Sempre andou prevenido

Se ouvisse qualquer ruído

Gritava “quem de lá vem?”

Brigava até com cem

Só na boca a coragem

Voltava pro salgadinho

Caindo pelo caminho

Dentro de vala e espinho

Que oferecia massagem!

50

E o grande homem Major

Irmão de Zé de Cordina

Tinha vaga na cabina

Pelo respeito maior

Do grande e do menor

Temendo lhes respeitavam,

Subia Lurde Galdino

Na zarêia Antõe Rufino,

Rodeado de menino

E até cachorros levavam.

51

E o Fernando Marreco

Quando ia pro cabaré

Sentado ou mesmo em pé

Seu vigor não dava treco

Se enfeitava igual boneco

Mais só uma vez no mês,

Quando ajuntava um trocado

Trabalhando no alugado

No sábado ou feriado

Ia ouvir Mauricio Reis.

52

Quem não lembra de Cocó

E a sua preguicinha

Pé no chão de manhãzinha

Na casa de João Vigó

O motorista com dó

Lhes dava a caroninha

Sem coragem já parando

Subia logo fumando

Ia à rua vez em quando

Mendigar uma ajudinha

53

Lembro Síba e os cacetes

Que a ninguém fazia medo

De estrada a fora bem cedo

Com seis paus feitos roletes,

Registro e faço lembretes

Pois Bidula lhes serviu

Quando lhes viu apressado

Estrada a fora cansado

Dando aboio sem ter gado

Em seu carro se subiu

54

Bolsos cheios de papéis

Seu assunto era gado

Respeitador! Respeitado,

Aprendeu dos coronéis

Não andou com infiéis

Era um puro pecuarista,

Dizendo: tinha de tudo,

Boi nelore ou orelhudo

Boi sem ponta ou boi chifrudo,

Com histórias de artista.

56

O velho Zé Florentino

Ex-combatente e guerreiro,

Tomava velho barreiro,

Me lembro quando menino

Se foi soldado interino,

Não sei bem sua história

Mais sei dizer no repente,

QuEle levou sorridente

O velho fraco da mente

Que todos, têm na memória.

57

Três grandes heróis nativos

Siqueira, Cocó e Zé.

São José sabe quem é

Não fiz imaginativos,

E se hoje fossem vivos

Por certo também dizia

Tudo que estou dizendo,

Amava o que tô fazendo

E aqui termino escrevendo

Quanto Bidula os servia.

58

Não há um profissional

Que faça do mesmo jeito

Não escrevo o meu conceito

Nem minto como jornal

Quem ler não entenda mal

Compreenda o que digo

Por não ter a concorrência

Podia agir sem coerência,

Tratar bem por aparência

Só dar carona a amigo.

59

Levou quem pedia esmola

Sem cobrar nem um tostão,

Quem tava de pé no chão,

Menino que ia pra escola,

Feirante e sua sacola,

Toda honra a Manaíra,

Reconheçam seu sucesso,

Enxerguem que o progresso,

Foi escrito no meu verso,

Proteste! Se for mentira!

60

Manaíra é amada

Comenta quem vai embora

Com saudade sofre e chora,

Não dá seu amor por nada

Recordação deslumbrada,

Dar vontade de voltar,

Ganha espaço a solidão

Falta sempre condição

E a saudade do torrão

Não tem quem faça faltar.

61

Quem saiu de lá um dia

Como eu que vim embora

Vim tentar a vida fora

Sofro tremenda agonia,

Olhar sem sono vigia

A esperança de voltar

O caminho bem estreito,

Não é mais do mesmo jeito,

Meus planos não têm efeito,

O fácil é recordar.

62

A noite não tenho sono

O galo não vem cantar,

Não escuto vaca berrar,

De nada me sinto dono

Me pego nesse abandono

Sem nada aqui possuir

Apelo pra manhãzinha

Dos pardais sua festinha

Sem sabiá e rolinha,

Para me fazer sorrir.

63

Bidula, foi um herói

O bem-te-vi inda é

Pois bem cedo esta de pé

Em umbuzeiro e aveloz

Saudade que esta em nós

Uma poderá ter fim!

Bidula não vai voltar,

Essa não pode acabar,

Mas, o bem-te-vi cantar!

É...!voltar pro meu cantim!!!

64

Jamais verei esses dias

Afirmo isso com dor

Indo curtindo o ardor

Lembranças dar agonias,

Tardes quentes, tardes frias,

Onde a vida era real

Nada tinha de anormal

Fingimento também não

Imagem, recordação!

Me levam a passar mal

Jailton Antas
Enviado por Jailton Antas em 31/05/2012
Reeditado em 20/08/2019
Código do texto: T3697533
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