Minha Cultura.
Sou do tempo do sossego;
Do mundo sem violência;
Do tempo da lamparina;
Sem brigas e desavenças;
As magoas não tinha visto;
E as fotos de Jesus cristo;
Refletia minha crença.
Meu radio de pinha velho;
Só dava notícias boas;
O fogão movido a lenha;
Fazia comida das boas;
Lembro-me do arroz de pilão;
A carne de sol no feijão;
Feito por minha patroa.
A neblina no pé da serra;
Molhava o lombo do gado;
Os pássaros na goiabeira;
Deixava o dia encantado;
Eu matuto sem informação;
Mas sem stress e depressão;
Desse mundo globalizado.
O dia era de trabalho;
A noite de diversão;
Com toda família unida;
Na hora da refeição;
Tinha causos e piadas;
Agente dava boas risadas;
Sem a tal televisão.
Esse aparelho que poda;
A forma de educar;
Tira o poder dos pais;
De os filhos conversar;
E na hora da refeição;
Uns almoça no colchão;
Outros sentam no sofá.
Programas assustadores;
Que só trazem violência;
Preocupam só em manter;
A tal de uma audiência;
Que pregam a ideologia;
Violência a cada dia;
Sempre na mesma freqüência.
Programas que oferecem;
Viagens e até um milhão.
Com apresentador engomado;
Conhecido da nação;
Onde o ser é encurralado;
E antes de ser eliminado;
Se esmaga no paredão.
Crianças aprendem cedo;
As fantasias sexuais ;
Isso através de novelas;
Que trata de temas banais;
O ato de beija na boca;
Casais que trasam sem roupas;
Como se fosse animais.
Queria que essa máquina;
Mudasse sua postura;
Ajudasse a pobreza;
E dividisse essa fartura;
E pra ser mais otimista;
Que valorizasse o artista;
E as raízes de nossa cultura.
Que essa maquina poderosa;
Sirva de um alçapão;
Para prender poderosos;
Que representa a nação;
E acabe com essa rotina;
De ter que pagar propina;
Aos fantasmas do mensalão.
Queria que o tempo voltasse;
Sempre na mesma direção;
Pra eu viver lá roça;
Sem a tal televisão;
Só ouvindo o riacho;
E tirando fruta do cacho;
Como um matuto do sertão.