O CONSELHO DE UM MATUTO!!!
Esse poema matuto foi escrito no idioma "Nordestinez" por isso aconselho ao leitor amigo que faça a leitura ouvindo o áudio para compreender melhor o sentido de cada palavra.
O Autor.
O CONSELHO DE UM MATUTO!!!
Caro doto do pudê
Inscuite a voz dum matuto
Que nunca aprendeu a lê
Se criou no mato bruto
Quaje morreno de fome
Sem tê conforto sem nome
Sem tê casa pra morá
Se abrigando numa choça
Prantando um pezim de roça
Pru mode se alimentá
Ocês do lado de lá
Nem oia o sofrê da gente
Pois come até se fartá
Drome numa cama quente
Num palacete praiano
Anda num carro do ano
Num sabe o que é vida ruim
Quem só cunhece a riqueza
Sente asco da pobreza
Tem inté nojo de mim
Essa é a verdade sim
Eu num intendo a razão!
Pra uns só sobra os inspim
Protos é frô e butão
Trabaio de só a só
Pra eu só sobra o pió
A angusta o disispero
A mão grossa, calejada.
A carça veia rasgada
E o boço sem tê dinheiro
O fio do ingenheiro
Do dotô advogado
Tem um vivê prasentero
Bem vistido,bem letrado
É cheio de privilegio
Instuda num bom colégio
Faz curso superiô
Im casa num farta nada
Televisão importada
Célulá, cumputadô!
O fio do lavradô
Num cunhece mordomia
Sem instudo sem valô
Logo qui amanhece o dia
Se acorda cedo infadado
Sai correndo pro roçado
E vai trabaiá no eito
Assonha im aprendê lê
Mas num intende pruque
Nunca teve esse direito
A mágua aperta o peito
Daquele pobe coitado
Peleja mas num tem jeito
Num passa dum flagelado
Um sem nada, um Zé Ninguém.
Qui relegado ao desdém
Vevi na maió pobreza
Num vivê sem qualidade
Passando nissidade
Sem pão pra butá na mesa
E além do mais tem certeza
Qui trabaia pra mantê
Os qui vevi na riqueza
Qui tem dinheiro e pudê
Indo pro supermeicado
É dois três carrim lotado
De fruta e muita verdura
Nem se alembra do coitado
Qui deu um duro danado
Pra que goze essa fartura
O home da agricultura
Qui ninguém lhe dá valô
E vevi uma vida dura
Diferente dos dotô
Sem conforto no sufoco
E o seu ganho é tão pouco
Qui inté sofre humilhação
Vevi comprando fiado
Quonde arrecebe um trocado
Disconta no barracão
É triste aquela afrição
Do camponês tão sufrido
Qui sofre decepção
E, além disso, é iludido.
Quonde é no tempo do voto
Vem gente tirando foto
Premetendo miorá
Aquela situação
Quonde passa as inleição
Num se alembra de vortá
Seu intento é inganá
Aquele pobe rocêro
E adispois qui chega lá
Só pensa im ganhá dinhêro
Nem liga pro inleitô
Qui nele cum fé votô
E adispois qui se elegeu
Num cumpriu o cumpomisso
Tumou um chá se sumisso
Nunca mais apareceu
E é pru isso qui eu
Tô fazeno esse relato
Num sei o qui acunteceu
Cum aquele candidato
Qui votei na insperança
Dum alento, uma mudança
Mas num cumpriu a premessa
Esse é um ano de inleição
Venha inspricar a razão
Apruveite a hora é essa
Eu num vô mais caí nessa
De acreditá nessa gente
Qui vevi apregando peça
Se fingino de decente
Já aprendi a lição
Na hora da votação
Vamo tê muito coidado
Pois seu voto é um tisôro
Qui vale mais do qui ôro
Pro candidato votado
Aqui deixei meu recado
E peço a sua atenção
Só vote num home honrado
Num é im quarqué um não
Inda tem home dereito
Pra qui seja um bom prefeito
Veriadô, deputado
Dê seu voto cunsiente
Sem favô e sem presente
De pulitico discarado!
Carlos Aires 11/03/2012