APOSENTANDO A VIOLA!!!

APOSENTANDO A VIOLA!!!

Aposentei a viola

Que me deu felicidade

Hoje está dependurada

Na parede da saudade

E já não suporto o peso

Do grande fardo da idade

Já caiu pela metade

A fonte de inspiração

Perco-me numa sextilha

Erro o toque do baião

O canto é sem melodia

A voz é só rouquidão

Pra cantar uma canção

Começo a não chego ao fim

Quem me aplaudia no outrora

Agora zomba de mim

Além de ficar vaiando

Diz: Eita cantador ruim

Já fui veludo e cetim

Hoje não passo de chita

Eu tinha voz de tenor

Cantava musica erudita

Ora quando canto um verso

A voz é fraca e esquisita

Eu antes fazia “fita”

No palco ou pé de parede

Corria léguas da cama

Hoje só vivo na rede

É mesmo que está no poço

Sem poder matar a sede

É isso que me impede

E faz-me parar agora

Quem rege o ciclo da vida

Conhece minuto e hora

Indicando o tempo exato

Do momento de ir embora

Quem não mais se revigora

Logo se entrega ao cansaço

Eu antes causava encanto

Hoje sirvo de embaraço

Pra quem já foi fortaleza

Estranha qualquer fracasso

Vou deixar livre o espaço

Estou pendurando a chuteira

Demorei chegar ao ponto

Mais alto da cordilheira

Mas é hora da descida

E essa é bastante ligeira

De por um fim na carreira

Decidi que está na hora

Tem que acontecer um dia

É melhor que seja agora

Deixo o espaço pra quem canta

Vou pro lugar de quem chora!

Carlos Aires 25/12/2011

(é só brincadeirinha)

BELA INTEIRAÇÃO DO POETA HELIO FERREIRA

DEIXEI A VIOLA

Vou pro lugar de quem chora

No lugar que é só de pranto

Eu deixei minha viola

Por ela perdi o encanto

Minha viola na parede

Minha voz, sede de canto

Sinto o cheiro de quebranto

Já não sirvo pro serviço

Quebrantaram a viola

Quebraram também meu viço

Do meu vigor de cantar

Verso bom, forte e roliço

Sinto o cheiro de feitiço

Sinto um cheiro de alfazema

Galinha preta zangada

Com pena da siriema

Cachaça na encruzilhada

Encharcando meu poema

Nos braços sinto a algema

Nos pulsos sinto a argola

Na garganta sinto um nó

Meu verso tá na cachola

Mas a minha voz não sai

Sem a voz duma viola

Hélio Ferreira

Petrolina/PE, 25.12.2011

Carlos Aires
Enviado por Carlos Aires em 25/12/2011
Reeditado em 25/12/2011
Código do texto: T3405735
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