QUEM SOUBER CANTAR SERTÃO CANTE COMO EU VOU CANTAR!!!

QUEM SOUBER CANTAR SERTÃO

CANTE COMO EU VOU CANTAR!

Canto a seca que flagela

Nosso sertanejo forte

Que só quando encara a morte

Foge pra se livrar dela

Sem comida na panela

Que possa se alimentar

É que resolve migrar

Para outra região

Quem souber cantar sertão

Cante como eu vou cantar!

Fale de mocó, de peba

De raposa, de preá

Macambira, caroá

Maniçoba, jurubeba

Do velho jegue jereba

Do vaqueiro a aboiar

Do galo, a nos despertar!

Do xexéu e do cancão

Quem souber cantar sertão

Cante como eu vou cantar!

Cante a palmeira serrana

Que chamamos catolé

Cante se sabe o que é

Baraúna e umburana

Das ramas da jitirana

Das belezas do luar

Cascatas pra se banhar

Do canto do azulão

Quem souber cantar sertão

Cante como eu vou cantar!

Cante a madrugada fria

O vento que vem do leste

As tradições do nordeste

Vaquejada, cantoria

Mas cante com alegria

Pra que possa demonstrar

As coisas do meu lugar

Que causa tanta emoção

Quem souber cantar sertão

Cante como eu vou cantar!

Pra cantar igual a mim

Tem que descrever o mato

Riacho rio regato

Calango, timbu, saguim

Peitica, papa-capim

Gibão corda de laçar

Do vaqueiro a campear

Montado num alazão

Quem souber cantar sertão

Cante como eu vou cantar!

Quando adentrar na campina

Conhecer qualquer cipó

Marmeleiro mororó

Capoeira e mata fina

Qualquer ave de rapina

Que existe nesse lugar

E nunca titubear

Fazendo a dissertação

Quem souber cantar sertão

Cante como eu vou cantar!

Mas ao fazer o relato

Coloque na sua ata

Cuscuz com leite e batata

E outras comidas do mato

Nosso cardápio é de fato

Ótimo pra se degustar

Sugiro a experimentar

Buchada com um bom pirão

Quem souber cantar sertão

Cante como eu vou cantar!

Cante da chuva a fartura

Da sequidão a sequela

Cante a paisagem bela

O sabor da rapadura

Fruta de palma, madura

Umbu bom pra se chupar

Do anzol que vai pescar

Piabas no ribeirão

Quem souber cantar sertão

Cante como eu vou cantar!

Cite a mulher magricela

Que vive desanimada

Vendo a panela emborcada

Sem nada pra botar nela

Vendo os muitos filhos dela

Com fome e sede a chorar

Sem dinheiro pra comprar

A carne o arroz e o feijão

Quem souber cantar sertão

Cante como eu vou cantar!

Dos políticos que aparecem

Querendo fazer barganha

Quando termina a campanha

Vão embora e nos esquecem

Como que nunca tivessem

Passado nesse lugar

E ali só vão retornar

Perto da próxima eleição

Quem souber cantar sertão

Cante como eu vou cantar!

Cante o bravo camponês

Que passa o maior sufoco

Quebra pedra arranca toco

Trabalha de seis as seis

E o que ganha por mês

Nem um tostão vai sobrar

Sequer vai dá pra pagar

A conta do barracão

Quem souber cantar sertão

Cante como eu vou cantar!

Mostre para o pessoal

Que trabalhos arriscados

Deixam muitos mutilados

Um exemplo é o sisal

Que já fez vitima fatal

Por não saber operar

A máquina de desfibrar

Nela tantos perdem a mão

Quem souber cantar sertão

Cante como eu vou cantar!

A injustiça grosseira

Com o vaqueiro afamado

Que ao ficar velho e cansado

Deixa o gado e a cocheira

Que passou a vida inteira

Dia e noite a trabalhar

E o prêmio que vai ganhar

É o desprezo do patrão

Quem souber cantar sertão

Cante como eu vou cantar!

Cante cada tradição

Que contém nossa cultura

Com muita desenvoltura

Fale do nosso São João

Da fogueira, do quentão

De um bom forró pra dançar

Que só promete parar

Ao pegar o sol com a mão

Quem souber cantar sertão

Cante como eu vou cantar!

Fale da mulher rendeira

Que fazia bela renda

Do engenho e da moenda

Da prensa e da bolandeira

Do balanço da peneira

Quando ia farinhar

E do nosso linguajar

Também dê explicação

Quem souber cantar sertão

Cante como eu vou cantar!

Assim falei um pouquinho

Das coisas da minha terra

Daquele meu Pé-de-Serra

A quem dedico carinho

Pra viver nesse cantinho

Ainda penso em voltar

Por hoje vou encerrar

Essa minha narração

Quem souber cantar sertão

Cante como eu vou cantar!

Carlos Aires 25/10/2011

Inteiração de Edilson Biol!!!

Pra entrar nessa festança

Vou falar-te da cabaça

Do nambu que a gente assa

E come que enche a pança

Povo que luta e não cansa

Quando a fava vai plantar

Claro. Se a chuva chegar!

Pra Ciço tem oração

No canto do meu sertão,

Isso é o que pude cantar.