LAMENTOS SERTANEJOS!!!
LAMENTOS SERTANEJOS!!!
Sertanejo é conhecido
Por ter fé e por ser forte
Faz apelo comovido
A Deus pra lhe dá suporte
Nos rumos da empreitada
É que a seca essa malvada
Voltou pra lhe flagelar
Promete ser longa e trágica
E nem precisa de mágica
Pra prever e adivinhar!
Galhos murchos ressecados
Antes frondosos tão anchos
Ora estão transformados
Em ressequidos garranchos
Catingueira desfolhada
A quixabeira pelada
Sem flores no muçambê
Nem carece da ciência
Pra explicar a consequência.
Que o próprio camponês vê!
A cacimba a cada dia
Baixando o nível da água
Só aumenta a agonia
O sofrimento e a mágoa
O açude está secando
O pasto está acabando
O gado a emagrecer
São fatores principais
Dando os primeiros sinais
Que vai demorar chover
Pássaros que cantavam antes
No reluzir da aurora
Não soam seus sons vibrantes
Porque já foram embora
Só acauã barulhenta
Num galho seco lamenta
Com seu grito de langor
E esse triste solfejo
Só traz para o sertanejo
Tristeza amargura e dor
Bandos de anus que plainavam
Pela caatinga sem vida
Fome e sede os torturavam
Por isso deram partida
A Serra imponente e bela
Não exibe mais aquela
Paisagem tão verdejante
As raposas e saguins
Deixaram esses confins
Migraram para distante
O verde que antes cobria
Todo prado na baixada
Onde pastando se via
Tranquilamente a boiada
Hoje sem gado nem pasto
O vento apagou o rasto
Sequer vestígio deixou
De um cenário de farturas
Só fracasso e desventuras
É tudo que ali restou
Casebres abandonados
Que antes foram moradias
Hoje estão desabitados
Abrigam melancolias
E quando a tarde esmorece
Que o véu da noite desce
A cortina de negrumes
Ao invés de candeeiros
São vistos pelos terreiros
Pequeninos vaga-lumes
Sol a pino ao meio-dia
Insuportável, tão quente
Parece que o chão tremia
Diante os olhos da gente
E essas dolorosas cenas
Trazem langores e penas
Para nossos corações
No quadro cruel e triste
O juazeiro persiste
Enverdecendo os sertões
Só então o sertanejo
Que já está desolado
Resolve fazer manejo
Do seu torrão adorado
Põe a família na estrada
E começa a caminhada
Em busca de alento e paz
Cabisbaixo e descontente
Os pés dão um passo à frente
E o coração, dois pra trás
Carlos Aires