O ENCONTRO DO CEGO ESMOLÉ COM JESUS

Amigo não se abisme com meu jeito
Por está aqui maltrapilho na calçada
Não quero bloquear seu caminho feito
Nem desviar sua atenção na jornada
Quero apenas externar a dor do peito.
 
Venho aqui todos os dias pedir esmola
Não tive a sorte como muitos distintos
Que em vez de trabalhar foram à escola
Estudaram muito e hoje colhem os frutos
Do conhecimento adquirido sem enrola.
 
Meu estado não é bom à cegueira me enjaula
Mas escuto a moeda na minha cuia lascada
A volta que ela dar define o valor da esmola
Quando um cristão de coração joga com fé
Agradeço de coração toda moeda é sagrada.
 
Minha cegueira não é castigo de nascença
Ela veio no primeiro olho com um carrapicho
Que trabalhando no roçado não tive capricho
O segundo foi tangendo boiada na estrada
Ao perseguir uma vaca ligeira desgarrada.
 
Sinto pelo seu semblante que não é do lugar
Sinto que sua alma flutua leve como penas
Sei de tua missão e o que estás a promulgar
Separar os injustos dos justos para ponderar
Só não sei se após eras ainda vale apenas.
 
Amigo após tua partida e promessas feitas
O mundo vem tomando um rumo profundo
Cheio de falsas religiões e verdadeiras seitas
Uns pregam a fé e outros o fim do mundo
Todos em busca de aumentar suas receitas.
 
Acho que falo demais e não percebo o erro
Não quero ver o Nosso Senhor aqui parado
Pensando que sou um relator muito severo
Moralizando feito político que nada vê errado
Pondo a culpa nos outros sem dolo e aparo.
 
Amigo não se preocupe com suas falas
Nem se cometeste erro torpe ou mortal
Infeliz é aquele que tudo vê e nada fala
Pois é covarde e oculta o veneno fatal
Nega o nome e comete suicídio moral.
 
Estou de volta a minha terra sagrada
Para saber se alguns com fé seguem
Meus ensinamentos em sua jornada
Ou como meu delator injusto fugiu
Rumo ao desconhecido sem nada.
 
Senhor talvez não seja o cabra certo
Para dizer como anda o mundo agora
Como ver, não enxergo e tudo é incerto
Minha vida foi difícil do inicio até agora
Mais sobrevivo nesta rua de concreto.
 
Sei que não é certo pedir mendiga
Mais foi a forma deste seu ancestral
Sobreviver sem um vazio na barriga
Juntando as esmola jogada na cuia
Sem precisar brigar e fazer o mau.
 
Amigo maltrapilho eu não escolho
Nem digo que tens que me seguir
Não importa se não tens seus olhos
Se tão pouco tens comida pra servir
O que interessa é tua fé sem atalho.
 
Pois seguir um homem sem observar
É a pura fé que busco agora no fim
Por que muitos que tem olhos sadios
Dividam e não tem afeições por mim
Buscam poder e ambição sem amar
 
Isto é pura verdade meu Senhor Jesus
Não quero com estas palavras julgar
Ou condenar um infeliz sem foro e juiz
Mais a maldade está em todo lugar
Só nos resta como defesa o sinal da cruz.
 
Os pobres estão cada vez mais pobres
Nobres e políticos se revezam no esquema
Uns exploram e maltratam trabalhadores
Outros enganam o povo sem problema
E usam o nome do Senhor como cédula.
 
Amigo não se atente, pois serão julgados
Nada escapará do ajuizamento justo e final
Quem merecer um lugar estará nos céus
Quem não merecer terá um inferno astral
Pois da verdade ninguém escapa afinal.
 
Se quiser me seguir que venha sem medo
Pois seus pecados foram perdoados por mim
Sei de seus problemas e de seus segredos
Sei de tudo que está para acontecer até o fim
Mas quero que você decida se que vir sozinho.
 
Senhor esta decisão me deixa encabulado
Como poço servir se sou um pobre coitado
Não vejo e muito falo, não ando pra todo lado
Como levar ao povo sua fala e seu recado
Se ninguém confia em um cego esmolambado.
 
Ainda tem os ricos, políticos e pastores
Que brigam e pescam trabalhadores
Com redes de conversas e televisores
Ninguém escapa de seus predadores
Um preço qualquer compram senhores.
 
Agora terá uma única moeda na terra
Não haverá outra oferta nesta esfera
Pois acabou o ódio, a ira e a guerra
Viveremos um novo dia sem quimera
Todos em um novo mundo nesta era
 
Teus olhos cegos não será problema
Pois estarás viajando em outra nave
Tua visão será completa, nítida e serena
Como os da águia que caça lebre na neve
Pescarás homens em bordeis e novenas.
 
Senhor agora eu quero detalhes da missão
O que terei que fazer para conter os fieis
Montarei templos, igrejas, farei procissão
Ou os mantereis confinados em quarteis
Como gados marcados em confinação.
 
Esta missão é sagrada e uma nova direção
Não quero decepcionar meu Senhor Deus
Quero trazer cada fiel segurando sua mão
Não importa seus defeitos e pecados teus
Apenas quero resgatar sua alma sem sermão.
 
Amigo cego não se aprece para esta missão
Não venda e use imagem pregada em quadro
Não cobre um tostão de um fiel nesta ocasião
Não diga nada que não seja puro e verdadeiro
Não deixe o cobre comprar sua alma, sua mão.
 
Ainda vós dizeis amigo cego no momento
Ninguém é obrigado a seguir-me e ser fiel
Pois ninguém precisa fazer juramento
Não quero ser um pai carrasco e cruel
Tendo tonto poder em todo o firmamento.
 
Senhor estou invocado com esta missão
Durante toda minha vida aqui nesta terra
Nunca vi um pastor, padre ou sacristão
Arrebanhar fieis sem vender alma do cristão
Como posso converter sem fazer uma guerra.
 
Aqui meu Senhor todos tem um preço
Como posso conquistar o que lhe ofereço
Não sou bom com as palavras, o que faço
Não sei pra onde os guiar não sei o endereço
Como conquistar a todos segurando um terço.
 
Amigo cego e maltrapilho segure esta cruz
Siga este caminho firme na fé que te conduz
Verás que mais a frente enxergará uma luz
Não pare, siga o caminho, siga o que reluz
Pois à frente verás um homem, este é Jesus.
 
Deste dia em diante o cego não foi visto na calçada
Ninguém sabe seu paradeiro e também sua jornada
Ninguém sabe por que ali ficou sua cuia lascada
Esperando uma moeda que nunca mais foi jogada
Talvez estivesse ali pra ser de algum jeito decifrada.
Léo Pajeú Léo Bargom Leonires
Enviado por Léo Pajeú Léo Bargom Leonires em 24/09/2011
Reeditado em 26/09/2011
Código do texto: T3239260
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