Três estrelas do Sertão (Parte 2)

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Seu pai de tanto fumar

O seu cigarro de fumo

Começou a passar mal

Travaliou-se no rumo

Seu filho com atenção

Mandou buscar o paizão

Seu tratamento eu assumo

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Zé Mané disse eu aprumo

E combinou com Maria

Pra organizar as roças

E tratar o que sentia

Mas como tinha vexame

Foi logo fazer exame

Depressa no outro dia

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Disseram que carecia

E procurasse um doutor

Ele foi deu meia volta

Cassando um vereador

Que fez o encaminhamento

Inda fez o pagamento

Pois era o seu eleitor

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Disse eu sinto um amaigor

O doutor ouviu direito

Na boca de vez enquando

Tombem sinto dor no peito

Agora ta apertano

Todo dia se agravano

Num tem um chá que dê jeito

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Seu relatório foi feito

E o doutor lhe escutando

Disse que ia a Brasília

Seu filho tava esperando

Mais enquanto ele não ia

Foi contar o que sentia

E o medico já foi falando

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O senhor ta me contando

Que fuma demasiado

O famoso pé de burro

Pois pode ser o culpado

Tudo isso tem haver

Um checape é bom fazer

Antes de ser medicado

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Num papel branco e quadrado

Começou a escrever

Pediu exame de sangue

Inda era pra fazer

Também de fezes e urina

Dar instrução e ensina

Pru mode Zé entender

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Inda quero também ver

Um raiox dos dois lados

Faça tudo depois volte

Preciso dos resultados

Pra dar a medicação

Só com o exame na mão

Faz parte dos meus cuidados

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Findando os combinados

Zé Mané se foi saindo

O doutor lhe perguntou

Algo mais está sentindo

Disse não muito obrigado

E se foi injuriado

Das coisas que tava ouvindo

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Com o doutor lhe pedindo

Os exames pra fazer

Deixou ele aperreado

Porque era sem comer

O póbi quase num cômi

Inda tem qui passá fômi

Dizendo “isso é que ser”

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Mesmo sendo sem querer

Juntou o material

Um vidro de maionese

Outro vidro de Nescau

Calculou que ara a conta

Pro rapaz descer de ponta

Que no sertão é normal

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Do sitio pro hospital

Duas léguas mais ou menos

Quando Zé chegou em casa

Pro filhos fez uns acenos

Sem contar o de Brasília

Tinha nove na família

Entre os grandes e os pequenos

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O pobre sem ter terrenos

Vivia do alugado

Fazia filhos com força

Pra isso era preparado

O feijão cum mocotó

Deixa o cabra um fogo só

Sem nunca ter um enfado

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Chegando foi avisado

Que um telegrama chegou

Que o filho tinha mandado

Informando que enviou

Dinheiro para a viagem

Como também a passagem

Zé Mané se apressou

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Amanhã mermo eu vou

Fazê logo esse inzame

Foi dormir sedo da noite

Dizendo cedo mim chame

Que antes do sol sair

Eu tenho mermo que ir

E prepare os vasiâme

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E foi aquele vexame

Na hora que se acordou

No frasco de maionese

Se apoiando já mijou

Que de uma mijada só

Encheu até o gogó

Pegou a tampa e fechou

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E o outro que separou

Pras fezes tava guardado

Foi um vidro de Nescau

Já lhe deram destampado

Zé marchou pro aparei

Mirou o frasco no mei

Que na boca entrou forçado

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O frasco ficou lotado

A ponta ficou de fora

O tolete era tão grosso

Que parecia uma tora

Sem nó e sem ter emenda

Do aparei voltou pra tenda

E tampou na mesma hora

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A tampa foi à escora

Pra o bicho num balançar

Tampando inda amassou

Na hora que foi fechar

Mais como foi a continha

Quebrando só a pontinha

Num dava pra se estragar

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Depois se pois a pensar

Na fome que ia ter

Do Sítio para a cidade

Duas léguas iam ser

Pensado na agonia

Virou-se para Maria

Dizendo eu quero comer

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E ela sem entender

Disse ainda tem feijão

Tem cuscuz de ontem à noite

E um resto de rubacão

Botou café pra ferver

E Zé começou comer

Farta foi à refeição

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Pegou a requisição

Logo assim que merendou

Foi do sitio pra rodagem

Um carro logo pegou

Pra quem pensava ir a pé

Ainda foi de bulé

Logo em Princesa chegou

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A bolsa também pegou

E se foi pra o hospital

Os dois vidros dos maiores

De maionese e Nescau

Tinha sangue pra colher

E o raiox pra fazer

O exame principal

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Se passando bem ou mal

Ninguém isso perguntou

Pegou os dois frascos grandes

E a enfermeira entregou

Usando a educação

Não disse que sim ou não

Mais muito se admirou

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Tirou o sangue e marchou

Pro exame derradeiro

Que era bater a chapa

Do ardor feito braseiro

Bateu de lado e de frente

Disse eu volto novamente

Pra pegar muito ligeiro

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A atitude do roceiro

A enfermeira comenta

Olhou e tirou vista

Botando o dedo na venta

No lugar que esse passou

O mínimo que ele deixou

Foi ardido igual pimenta

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E a outra não se sustenta

Foi dizendo minha nossa

Ajudante da atendente

Nunca vi coisa tão grossa

O que sobrar desse tubo

Se transformar em adubo

Da pra adubar minha roça

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E Zé Mané nem se coça

O dever tava cumprido

Se mandou pra os correios

Em nada tava ofendido

Foi sacar a sua grana

Porque na próxima semana

Deixava o sertão querido

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Se tinha algo ardido

O ardor já tinha passado

Mas se já era costume

Também foi o comentado

Comprou passagem e voltou

E o dia certo marcou

Teve inté carro fretado

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No dito dia marcado

Veio à cidade de novo

Pegou todos os exames

Se despedindo do povo

Ia só sem a família

Pra se tratar em Brasília

Indo em busca de renovo

Leia a conclusão, muito grato!

Jailton Antas
Enviado por Jailton Antas em 19/09/2011
Reeditado em 11/07/2015
Código do texto: T3229404
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