Três estrelas do Sertão (Parte 1)
01
Poeta não dorme cedo
Não é por falta de sono
E vendo o céu estrelado
Na estação de outono
Três estrelas que alumia
Tem nome de três Maria
E o universo é o dono
02
Nessa historia eu não clono
A idéia de seu ninguém
Mas esse trio lá do céu
Beleza maior não tem
De verdade nunca briga
Não dar lugar a intriga
Nem a fofoca também
03
Vai noite e noite vem
E elas tão de plantão
Pra quem quiser comprovar
Pode olhar a escuridão
Que elas estão brilhando
E o matuto admirando
Não perde a ocasião
04
Pras banda do meu sertão
Tem três estrelas também
O sertão todo se orgulha
Dando nome a quem não tem
Pois quando nasce um pagão
Entra a estrela em ação
E brilha como ninguém
05
Filho do homem de bem
Já ganha o nome de Zé
Já pra o pobre ser estrela
Ganha o nome de Mané
Pra fêmeas é covardia
Sua estrela é Maria
Que também estrala é
06
O nome não cai no ajé
Pois ele nada escolheu
Não importa quem deu nome
Ou se um Mané nasceu
O nome em nada influi
E o certo que se conclui
É que algum nome se deu
07
Se alguém se arrependeu
Pelo nome escolhido
Aparece um confortante
Dizendo que é apelido
Zé tem nome de José
Manoel é o Mané
Só Maria é o mantido
08
Se o dito vive afligido
Com o nome que ganhou
Se conforma com o tempo
Na vida nada mudou
São as estrelas que eu chamo
São três nomes que eu amo
E o brilho que mais brilhou
09
São nomes que conquistou
O sertão bem informado
Conservando a tradição
O nome vira legado
Pra honrar um falecido
Que era bem conhecido
Faz seu nome renovado
10
Esses nomes têm brilhado
Pelo meu sertão a fora
Não brilham como as estrelas
Que dão o claro pra fora
Mas brilha na tradição
Mantendo a conservação
Honrando que foi embora
11
Vez enquanto o novo chora
E sente forte emoção
Meu nome foi pra lembrar
Um avô, pai ou irmão
Consolando a cicatriz
Leva uma vida feliz
São estrelas no sertão
12
Agora peço atenção
Para um fato ocorrido
Depois de feito um relato
Desse meu sertão querido
Pra falar de um premiado
Zé Mané vai ser citado
Por ser muito divertido
13
O dito era marido
De uma mulé sadia
E nessa casa singela
O trio lá residia
Era ele o Zé Mané
E sua amada mulé
Se chamava Ana Maria
14
Três nomes em harmonia
Gerando vidas também
Muitos filhos do casal
Sem inveja de ninguém
Um trabalhador da roça
Satisfeito da mão grossa
E a todos fazia bem
15
O meu pai inté que tem
O nome Zé por sinal
Zé Mané lhe procurou
E o assunto principal
Foi lhe dar um afilhado
Pra depois de batizado
O pagão viver normal
16
Muitos filhos o casal
Fizeram no simples leito
Zé Mané trabalhador
Honesto e satisfeito
Os filhos seguiam a risca
Do casal nada se risca
Vivendo do mesmo jeito
17
Um pobre sem preconceito
Lutava na agricultura
Lábios rachados do sol
Ressecado da quentura
Seu vicio contava um só
Nunca largava um boró
De fumo e seda pura
18
Não importava a grossura
Do cigarro que fazia
Passava a língua na seda
Que o fumo ela prendia
O mesmo cuspe que usava
E a seda toda colava
Era o mesmo que tingia
19
Depois de preto fedia
E ele prendia no dente
Trabalhava o dia todo
Dando trago no sol quente
Depois que mudava a cor
Aquele forte fedor
Ardia no nariz da gente
20
Seu transporte era descente
Que ele cuidava atento
Tratava com muito zelo
Alívio pro sofrimento
Transportava quase tudo
Da família sem estudo
O socorro era um jumento
21
Pra levar barro e cimento
E pro Zé fazer a feira
Carregar lenha em cambito
Todo dia sem canseira
Botar água em ancoretas
Não fazia nem caretas
Pro jeguim era besteira
22
E a Maria interesseira
Ajudava Zé também
Ralava míi pra cuscuz
Fazia angu do xerém
Comida lá nutritiva
Puriço vivia ativa
Mantendo Zé de refém
23
Não carecia outro alguém
Para lhe complementar
Quando queria amar Zé
Bastava um nome chamar
Se quisesse outro home
Chamava o segundo nome
Tinha dois sem revezar
24
Grande nome a brilhar
No seu pedaço de chão
Com dois nomes de heróis
E grandeza do sertão
Unida era a família
Ate que um dia Brasília
Causou uma divisão
25
Foi sem haver confusão
Mais em busca de saída
Um filho disse meu pai
To cansado dessa vida
Trabalho de sol a sol
Ainda pesco de anzol
A mistura pra comida
26
Nessa noite mal dormida
Aproveitei pra pensar
Vou embora pra Brasília
Caçar onde trabalhar
Lá arrumando um emprego
Eu sei que vou ter sossego
Inda poso te ajudar
27
Todo mês eu vou mandar
Uns trocado pru sinhor
Que já ta véi e cansado
Cumeçano a sintí dor
Num importa quanto eu gãe
Ajudo também mamãe
Mandando qualquer valor
28
E o velho pai fumador
Fez força pru filho ir
Choraram a semana inteira
Inda antes de partir
Fizeram a despedida
E o fíi do Zé fez partida
Para a vida prosseguir
29
Sem estudo possuir
Mas lá num foi empecilho
Lembrou se do velho lar
Sentido prazer de filho
Pois no dia que chegou
Emprego já arranjou
Seu semblante era só brilho
30
A cabeça entrou no trilho
Gostava de trabalhar
Ajudava todo mundo
Pai e mãe sem reclamar
Do jeito que prometeu
Num deu mais porque num deu
Nunca deixou de mandar
-Muito grato pela visita, leia a segunda parte!