Meu recanto.

Peguei meu jumento pêga;

Na boca da claridade;

E quando o galo cantava;

Com sua pontualidade;

Deixava minha palhoça;

O meu recanto da roça;

Para passear na cidade.

Botei a sela no lombo;

Do meu fiel companheiro;

Calcei as botas de couro;

E meu chapéu boiadeiro;

e quando o sol mostrou a cara;

que vi a cerca de vara;

por detrás do juazeiro;

Dali adiante era rua;

De pedra e com calçamento;

Então procurei uma sobra;

Para amarar meu jumento;

Lugar fresco e arejado;

Porque o pobre coitado;

Não merece sofrimento.

Cheguei cedo na cidade;

Comprei logo umas besteira;

Sabonete ,pasta de dente;

Querosene e ratoeira;

Pão de sal e de fubá;

Joguei tudo no inborná;

Porque pobre não faz feira.

Dos trinta conto que tinha;

Que gastei com umas bobagens;

Não sobrou uma moedinha;

Para mim contar vantagem;

Mas ainda tive sorte;

De certo que meu transporte;

Eu não pagava passagem.

Sentei num banco da praça;

Num lugar movimentado;

Em outro banco em frente;

Tinha um homem bem calçado;

Camisa de linho passada;

Mas tinha uma mente estressada;

E um rosto de preocupado.

Bati no ombro do Cabra;

E ele frigiu a testa;

Apresentei me com meu nome;

Puxei mais uma conversa;

Ele foi interrogado;

Abriu o baú encantado;

Só de coisa que não presta.

Sou casado tem dez anos;

Tenho quatro filho estudando;

E um que já é formado;

Minha mulher é professora;

Fim do mês passo a vassoura;

É num acho mais um cruzado;

Minha casa é o único bem;

Tem esse carro também;

Porém esse comprei fiado;

Eu digo uma coisa a você;

Hoje mesmo olhei o carnê;

Que Já está tudo atrasado.

É para tirar o caborje;

Pedir uma missa a são Jorge;

Beijei o pé do altar;

Foi uma grande devoção;

Mas no fim da procissão;

O padre mandou cobrar.

De todo jeito me lasco;

Já não tem para onde andar;

Estou devendo no açougue;

E a conta da Telemar;

Tem também a padaria;

E as contas da energia;

Os homens vieram cortar.

Eu vou te dar um conselho;

Para refrescar o seu sono;

Alugue sua linda casa;

Entregue o carro pro dono;

Vamos lá pro meu roçado;

Trabalhar,viver sossegado;

E saía desse abandono.

Lá nós vamos fazer açude;

Fazer uma horta bacana;

Plantar alho,coentro e cebola;

E boa roça de cana;

Cerca um lote de terra;

Lá entre as gratas da serra;

Só para nós plantar banana.

A casa você não preocupe;

Lá tem uma de primeira;

Limpinha de piso batido;

No descambo da ladeira;

Uma latada no terreiro;

Cercada de pés de coqueiro;

Bem Pertinho da cachoeira.

Tem uma varada espaçosa;

De enchimento nas paredes;

Um peitoril ventilado;

Com meia dúzia de redes;

E os pássaros em sintonia;

Na mais perfeita harmonia;

Em contato com o verde.

Lá nós vamos plantar de tudo;

Arroz, mandioca e feijão;

Preparar adubo para a terra;

Plantar milho e algodão;

Pegar no cabo da enxada;

Tirar leite ,fazer qualhada;

Fazer cuscuz e requeijão.

Lá todo mundo respeita;

Todo mundo se conhece;

A vida é mais tranqüila;

Agente colhe o que merece;

E o trabalho na fazenda;

Com o barulho das moendas;

Logo quando o dia amanhece.

O povo já tem o costume;

E daquilo não esquece;

As igrejas são lotadas;

E os Pelegrinos padece;

Tem novena e procissão;

Sempre é aquela multidão;

Alegrando as quermesses.

As mulheres são verdades;

E com sua virgindade;

Tem sempre a sede de amar;

É como um fruto bonito;

Que nunca sentiu o bico;

De um nobre sabiá.

No sertão o trabalho é duro;

Que deixa o corpo cansado;

Mas um descanso na calçada;

Deixa a gente aliviado;

Vendo sol entrar na mata;

E a lua cor de prata;

Enfeita o céu estrelado.

Arrisque a felicidade;

Procure isso sem medo;

Mora na roça é gostoso;

É fácil não tem segredo;

Eu vou rompendo na frente;

Avise para seus parentes;

E te espero amanhã cedo.

Fim.

Ivan Sousa
Enviado por Ivan Sousa em 29/08/2011
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