O vôe da matuta (Parte 2)

Parte 1: http://www.recantodasletras.com.br/cordel/3170467

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Inda disse ingraçado

Mai falô meio pra dento

Pegô o taxi da vez

Chamano nome cum vento

E foi pru o aeroporto

Num taxi sem ter conforto

Di nomi chamô um cento

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Um guarda ficô atento

Condo viu ela sartá

Do carro toda infeitada

Cum sacolas a arrastá

Mostrô que tinha um carrim

Guiou até o chequim

Mode ela se assiná

53

Voltô a si esperniá

Cum a gintil atendenti

Que lhe mandô no barcão

Qui era bem mai na frenti

E ela dissi é disfeita

Veja lá si mi respeita

Sô nega mai eu sou genti

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E o guarda inteligenti

Disconfiô da matuta

Ajuntano a bagagi

Sozinha naquela luta

Chegano lá preguntô

Que passagi num achô

Lí chamô di fí da puta!

55

O guarda era recruta

Disistiu e foi imbora

Ela rodano a baiana

Valente inguá a caipora

Vei um rapai educado

Cum jeitim bem delicado

Chamô ela de sinhora

56

Ela disse va simbora

Qui num gosto de viado

Quero cumpra a passagi

Ta pensano que é fiado

Ande logo arrume um jeito

Gritano batia aos peito

Chamano cabra safado

57

Bateu di mão aos trocado

O dinhêro que trazia

Só vai tê para manhã

Arguém logo respondia

Condo contô as mueda

Quasi qui ia as queda

Cum qui ela num sabia

58

O dinhêro que trazia

Era pôco pra vuá

Passagi pro ôtro dia

Num era mais o fuá

Agora a discução

Era o tá de avião

Bicho caru pra daná

59

E dipôi de carculá

Passagi logo cumprô

Poi só deu inte ricife

Qui o dinhêro se acabô

Cumprô a vorta e ida

Perguntô e a durmida?

Pernoitá aqui num vô

60

Num foi Cuma pranejô

Seu sonho tava frustado

Li oferecêro um banco

Mode dormi assentado

Mostraro a lonchonete

Ela disse num se mete

Meu cumê já ta guardado

61

Procurôr um reselvado

E a cacha do rango abriu

E cumeu de tudo um pôco

Na farofa ripitiu

Depois tumo capilé

Cuma num tinha café

E imbuzada e durmiu

62

Horáro que cunsiguiu

A passagi pra cumprá

No finá do ôtro dia

Poi se logo a si pensá

Qui já vortava im dois dia

E então se mardizia

Num tinha Cuma ivitá

63

Na hora de merendá

Dispoi qui o dia amãeceu

Istava toda quebrada

Qui sentada adurmeceu

Foi no banhêro e vortô

Junto à caxa se assentô

Munta farofa cumeu

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O mé de ingem bebeu

Arrotou e repetiu

Cumeu farofa de ovo

Um forte chêro sintiu

Achô que num era nada

É pruque tava abafada

Quessi mau chêro saiu

65

Munto até se divirtiu

Té a hora de armuçá

Andô de iscada rolante

Num quiria mais pará

Das paisagi que assistia

Tirô umas fotografia

Quera pro mode amostrá

66

Ia sirvi pra rescordá

E mostra prus cumpanhêro

Poi num ia inté Som Paulo

Japão, ou Ri de Janêro

Mai tava curtino a vida

Mermo a viagi sufrida

Sem cunforto e disispêro

67

E passô o dia intêro

Vei à tarde a hora bôa

Não armuçô de anciosa

Pensano como se vôa

Almentava a imoção

Sulerava o coração

O sofrê num era atôa

68

E ajuntosse as pessôa

Qui chegava pra viági

Fez chekim e achô face

Inviou as imbalági

Mas a caxa da cumida

Tava bastante fedida

Ela intão logo reági

69

Condo pegaro a bagági

Preguntaro quera aquilo

Ela disse é cumida

Tu pode ficá tranqüilo

Qui sô preta privinida

Ando lordi e bem vistida

Tudo isso é meu istilo

70

Mai já ôvi um impecilo

A caxa num imbarcô

O auroma era forte

Logo ali incomodô

Pra acabá a questão

Dissi eu levo na mão

O fiscá se assustô

71

Di supetão arrastô

Dê pra cá minha cumida

Eu fiz cum tanto trabai

Só sei andá privinida

Seis gosta di confusão

Dêxe queu levo na mão

A viági nué cumprida

72

Pra Ricife a minha ida

Num tem pressa nem ressei

Dexe eu passar seu fiscá

Arredi tudo do mei

No ar, o puro azidúme

E ela chêa de ciúme

Passano grande aperrei

73

O fiscá ficô vermei

Mandô o povo afastá

Ela logo entrô na frenti

Todo mundo a espiá

E machô pro avião

Qui nem bala de cãião

Era capaiz de pegá

74

Quizero li interrogá

Mas nada adiantô

Fizero intão vista grossa

No avião ela intrô

Se assentô no lugá certo

E a caxa fedida perto

Ninguém mais lhe incomodô

75

E o avião imbarcô

A caxa apertô qua mão

Que tava im cima das coxa

Já foi chamada atenção

Mas disse fique tranqüila

Queu trago nessa moxila

Só a minha refeição

76

Moça de boa feição

Fiscalizano se foi

Mandano bota os sinto

Mas vorto logo dispôi

Olhou pra caxa fedida

E disse: tu é privinida

Ela respondeu, e apôi!!!

77

O avião tomô voi

A nega se arripiô

Deu um grito assulerado

E todo mundo espiô

Gritano ai!! minha barriga!!

Ta mi dano uma fadiga

E ninguém se agüentô

78

Quem já sitia o fedô

Cumeçô a compará

Pensava que era peido

Mai fidia sem Pará

Quanto mai ele subia

Mais a catinga fidia

Viero lhe perguntá

79

Morena olhi pra cá

Ela olhano pra jinela

A sinhorita istá bem?

A pregunta feita a ela

Boa dimais pro siná

Mai nada de arredá

A sua mão das panela

80

Perguntô se era favela

O qui via lá de cima

A eromoça surrindo

Respondeno em tom de rima

E dice não sinhorita!

Fora a paisagi é bonita!

Mas aqui, pense num clima!

81

Siva disse minha prima

A eromoça fastô

E já chamô- lá de irmã

A gíria já cumeçô

Qualé a tua meu bem

Eu num pertubo ninguém

A roleta cumeçô

82

A nega se levantô

A caxa então se abriu

Caiu o vidro de mé

No corredô se partiu

Na eromoça deu intalo

Ela pegou o gargalo

Ligero se priviniu.

83

Quando o piloto invertiu

O sintido do avião

Na curva a mêa banda

A caxa rolo no chão

E a farofa de ôvo

Espaiô nos pés dos povo

E se abriu o rubacâo

84

Da farofa du capão

A tampa saiu tombém

E a farofa escurria

Junta cum o mé de ingém

I bateu nela a fraqueza

Condo viu sua riqueza

Lá no chão num vai e vem

85

Logo apariceu olguém

Lhi chamô pra cunvessá

Apanhô o que sobrô

E dava pra apruveitá

Escapô o capilé

E um pacote bem filé

Que ninguém quis cumentá

86

Chegô no dito lugà

O Ricife tão quirido

Foi desseno o avião

Ela fexô os uvido

Na hora quele parô

A nega se levantô

Passou pru cima dos vrido

87

O seu cabelo cumprido

Na pressa ia abanano

Quem inda tava assentado

Logo ia se levatano

Poi aquele xêro forte

Contagiava o transporte

Pois ela ia carregano

88

E a sacola levano

Foi pra sala de inspera

Pegô a mala do avô

Cunfiriu logo se era

E saiu pru lá andano

Todo mundo li ispiano

Vos chamava de miséra

89

Sortano sempre piléra

Ia siguino seu distino

Vortava no mesmo dia

Lamentô seu disatino

Sofreno de anti-mão

Cum zunido im refrão

Na zurêa um som de sino

90

Fou num banhêro grafino

Fazê as nicissidade

Lá usôr um cuntonete

Mai num viu filicidade

Poi a ainda mai duía

E a catinga li siguia

Pra sua infilicidade

91

Andô pôco na verdade

Retratos foi resumido

A fome num apertô

Niguem era cunhicido

Vem a primêra chamada

Já estava acusmada

Neim palavrão neim ruído

92

O xêro forte vincido

Do pacotim lá de mão

Num quis botar na bagagi

Dixe eu levo no avião

Que tu dêxe ou num dêxe

E machô fedeno a pêxe

Sem sabê quá o portão

93

Chamava intão ateção

O pacote qui trazia

Qui quanto mai infregava

Mai o danado fidia

Tava inté bem inrrolado

Num pacote bem suado

Qui inté água iscurria

94

Quem lí oiáva surria

Só cum pena da morena

Pensava qui o fedô

Era das parte piquena

Poi quem nela se incostava

Menó nomi qui chamava

“Fedô da gota serena”

95

Cortada dipressa a sena

Condo a chamada si fez

Poi si levanto primêro

Deu rabissaca di vez

Machô em rumu o avião

Cum a sacola na mão

Numa sobrada altivez

96

U sonho quera de mês

Duma viagi comprida

Cum dois dia ia vortá

Bastanti disiludida

Já tava a fomi apertano

Condo itrô foi se assentano

Lançano mão da cumida

97

Aquela água iscurrida

Do papé di inrrolá pão

Acumulô na sacola

Qui ela trazia na mão

Já abriu o capilé

Se ispriguissôsse e impé

Chamô do povo atenção

98

Insençou o avião

Aeromoça veiu vê

Cum chêro de bacalhau

Paricia num sei cum quê

Era um pacote de quejo

Cardápo do sertenejo

Que troxe mode comê

99

E danosse a iscorrê

Do saco passô pru banco

Pegô um quêjo e partiu

Qui já mum tava mai branco

E danô no mei dur dente

Insensano o ambiente

Cum istupidei e arranco

100

Dava um paimo seus tamanco

Um pé tamanho quarenta

A erumoça lhi olhou

Ca boca toda sebenta

Falou cum maió carim

Pidiu o papé do chequim

Tinha quejo inté na venta

Jailton Antas
Enviado por Jailton Antas em 24/08/2011
Reeditado em 11/07/2015
Código do texto: T3178873
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