O vôe da matuta (Parte 1)

01

Seu Antõe Belarmino

Pru cima ainda olivêra

Naceu no Siíto Macacu

Terra boa de primêra

Mai vêi morá na cidade

Condo amô de verdade

Uma Sinhora facêra

02

No istudo num fez carrêra

Pruque esse dom num tinha

Sêno criado na roça

No mêi de dúa serrinha

E lá onde foi nacído

Saiu de lá cunhicído

Puru nome de arapinha

03

Acordá demanhãzinha

Era sua abrigação

Custume lá do roçado

Sofreno pertubação

Sem nada mode fazer

Começô a se benzer

E Investí nas oração

04

Rogava a Frei Damião

Rezano era arvoroço

Sem trabáio e sem dinhêro

Apenas dedo nos bôço

Tomô uma iniciativa

E nessa idéi criativa

Dexô o sitho seu moço

05

Matuto dos dedos grosso

Vêi pra Princesa Isabé

Quando saiu lá do Sitho

Na serra de Som José

Mai o distino era o sú

Trabaiá ganhá tutu

Mode ajudá a muié

06

Se arrumô, fez finca pé

Deixô novena de mái

Deixô o jogo do bicho

De domino e de barái

Foi pará na terra fria

Som Paulo só alegria

Fartá dinhêro num vai

07

De sua mente num sai

A muié e os minino

Juntou dinhêro e vortô

Que paricia um granfino

Pôi vortô de avião

Lá pra merma região

Cuns coro dos dedo fino

08

Já chegô munto traquino

E cum suas traquinági

Uma sacola nas costa

Outros monte de bagági

Óclus im cima da venta

Chei de nota de cinqüenta

Chegô filiz de viági

09

Recebeu as humenági

Da famía a esperá

E a sacola de dinhêro

Já viro ele amostrá

Fei inveja a todo mundo

Se escapuliu num segundo

E foi simbora jogá

10

E danô-se a cumentá

Logo no dia siguinte

Cuma era o avião

Num lhe fartava uvinte

E Siva sua adotiva

Gostô da iniciativa

Quis logo ver o riquinte

11

Nem qui oito ou sete eu pinte

Eu largo essa Prencesa

Vô andá de avião

Vê di perto a beleza

Começô a estripulia

I a moça nada fazia

Mostrano sua firmeza

12

Morena pur natureza

Pele fina bom cabelo

Naturá lá de Sertânia

Limpo o zóio só im vêlo

É Siva muié bunita

Possu dizê que é bendita

Todo home qué te têlo

13

Nessa istoria faço apêlo

A quem tem sabidoria

Deus Pai que manda im tudo

Cumigo faz sintunia

Contá pra toda Prencesa

Que Siva fez com destreza

O matuto se arripia.

14

Nu solo qui residia

Acunchegante e moreno

Nu sertão de barro e péda

De só quente e bom sereno

Pra mulata cor de cravo

Meu velso num é agravo

Num é grandi e nem piqueno

15

Perdeu logo seu veneno

Cum os papos de Arapinha

Só falava im avião

A todu mundo qui vinha

E Siva de longe veno

Tava seus plano fazeno

Vô dá uma viajadinha

16

Disse ele a moreninha

Coisa boa é vê o mundo

Pru cima de terra e má

Marcano a cada sigundo

Tudo qui de cima eu via

Pra contá pra minha fia

Esse meu prazê profundo

17

Alégri e cum muito abundo

E chêi de contentamento

Contô a sua aventura

Vi de cima o firmamento

Incheu Siva de dezejo

Custume de sertanêjo

Imitar quarquer ivento

18

E disse eu mi arrebento

Mai eu ando de avião

Tu vuou eu vôi também

Vô de cima oiá o chão

Vô vuar se Deus quizé

Té onde o dinheiro dé

Pra Som Paulo ou pru Japão

19

Vendu galinha e capão

Piru, bode, poico novo

Guiné, a fava do silo

Galinha chocano ovo

As panela que não uso

Quero atravessá o fuso

Começô dizer au povo

20

Mai logu incontrô istrovo

Tem fofoca im todo canto

As amigas envejosa

Contrariano o incanto

Quereno só ajudá

Dizia que pra viajá

Fizé-se promessa a um santo

21

Precuposse e no intanto

Resolveu logo o impassi

Ouvindo outras amigas

Dissero que preparassi

Farofa para merenda

Que o avião num tem venda

Nem lugá que se comprassi

22

A mãe disse que isperassi

A apusentadoria

Pra ajudá na passagi

Dêxasse de agunia

Mai a mulata arroganti

Vendeu tudo num estanti

Pra viajá no outro dia

23

Vendeu tudo qui havia

Separado pra viági

Vendeu o fêjão na foia

Mermo ainda sem te Báji

Vendeu a vaca pintada

E a cabra da mininada

Arrumou logo a bagági

24

Seu padrasto num reági

Ficou de longe ispiano

O arvorosso era feio

Capão e piru matano

Juntô ôvos de galinha

Mandô compra a farinha

E os ôvos foi cozinhano

25

Cada passu qui ia dano

Aumentava o arvoroço

A manga espada pro lanche

A farofa pru armoço

Quissuco num garrafão

Pruquê o tá de avião

Num vende nada seu moço

26

Imbuzada cum carôço

Em um poti bem tampado

Cualhada de leite fresco

Nôtro poti cungelado

Em mei a arrumação

Inda fez um rubacão

Cum bode e carnêro assado

27

Aperrei pra todu lado

Grandi agitação se fez

Um chororo se formô

Tornou-si a bola da vêiz

Sem sabê condo vortava

As hora si aproximava

Viági pra mai de mêis...

28

Num deu lugar au tavêiz

Quis logo ficá bunita

Mandô comprá alfazema

Comprô vestido de xita

Incheu us dedo de ané

Com bota xiques nos pé

Ligêro se impiriquita

29

Cada vei mai si agita

Botô bobs nus cabelo

Pintô zunhas de vermêi

Das perna raspô os pelo

A seu zóio ficou facêra

Ainda fez uma fêra

Na venda cum muito zelo

30

Nem lembrô de cumprá gelo

Isqueceu dum izopô

Na cáxa de papelão

A cumida colocô

E as roupas que ia uzá

Arrumou sem ingomá

Numa malimha do avô

31

Ligêro se arrumô

Dicidida determina

Ia comprá um urinó

Poi num levava a Latrina

E isculheu um nu tamanho

Daqueles bom de istanho

Pra apará bosta e urina

32

Butô em bossa granfina

Quera pru mode iscondê

Disse lá vou pricisá

Eu num vo me arrependê

É só achá um iscurim

Que eu faço meu sivissim

Sem ninguém mi interrompê

33

Amarrô sem ninguém vê

A boca da sacolinha

Pego a mala da roupa

Marcô cum uma tirinha

Quera pra num misturá

Tudo dela ia marcá

Cuma tira vermeínha

34

Amarrô caxa e a malinha

Dando uns quato ou cinco nó

Mandô chamá Zé Caçula

Dos taxi era o mió

Pra lhi pegar bem cedim

Num horáro bem certim

Antis de nascê o só

35

Pegôr um grosso lençó

Sum Paulo era o distino

Se dispediu do padrasto

Sua mãe e dos menino

Pegô vrido de eparema

Pumadas pra equizema

E pra os piôi pente fino

36

Pegôr um xale granfino

Du padrasto foi presenti

Calçô as botas da Xuxa

Pintô de batom us denti

Comprô um fubá de mi

Confesso que nunca vi

Tanto alvoroço de genti

37

Mandô cumprar aguadenti

E açúcar pra prepará

Um ta di leite de onça

Quera mode relaxá

Botô a cana todinha

E a farofa di galinha

Tinha coisa pra daná

38

Num quis comprá guaraná

Comprô um poti de rapé

Comprô quissuque de uva

Transformô em capilé

Éssa bebida granfina

Que dêxa a pele fina

E da sustancia a muié

39

Comprôr um lito de mé

De abêia outro de ingém

Botô tudo pra viági

Jantô de noiti cherém

Era o vulgo angu com leite

E ainda bebeu azeite

Qui pra degestão fai bem

40

Marcô cum taxi também

Pra vim no dia siguinti

Cinco horas da manhã

Istorano cinco e vinti

Prifiro sai bem cedo

Cumigo não tem segredo

Tinha mais de cem ôvinti

41

Ia dêxar o requinti

Se dispediu dos presenti

Passano à noite im festa

Intrava e saía genti

Pegô o ônibus das seis

Curtino Mauríço Reis

Num belo som ambienti

42

Achô divera atraenti

Aquele ôinbus fresquim

Cumparava ao avião

Sonhano pelo camim

Viájar nessa beleza

Já se isqueceu de Prencesa

Só no frescor do azim

43

Achô o banco fofim

Deu possi duma janela

Quis butá os braço fora

O vrido foi à tramela

Mermo assim num recramô

Quando im Têxêra chegô

Quis cumê numa tigela

44

De fomi tava amarela

Pôi comia de hora im hora

Era hora de armoço

Recramô-si da demora

Quiria um prato maió

Cum fejão e mocotó

Dissero calma sinhora

45

Aqui ninguém li ixprora

Cumida tem pra valê

Se sente ispere um pôco

Qui dô um prato a você

E a moça fez um bem chei

Cumeu naquele aperrei

Cumeçô se mardizê

46

Seu charmi dava pra vê

Naquela xiqui aparença

Comeno e derramano

Já num tinha mais decença

Depois de tê terminado

Quis bebê café torrado

Cumeçô a dizavença

47

Mai de Deus caiu a bença

Ela logo se acaimô

Entrô nu oinbu arrotano

Qui coca-cola tumô

E pra num saí de beca

Tirô a bela soneca

Em Jom Pessoa chegô

48

Logo que dezimbarcô

Ajuntô as moginganga

Pegô caxa da merenda

ôtra que ia cum as manga

A maleta das miudeza

Os pertenci da beleza

Lençol, baton, roupa e tanga

49

Começô fazê monganga

Cum raiva do motorista

Num dêxô no aeroporto

Chamô o mermo de artísta

Chamano de sabidinho

Parô no mei do caminho

Você ta na minha lista

50

Mai logo baxo a crista

Condo avistô um sordado

E dixe que ta havendo?

Tem arguém a revortado?

Mai ela num respondeu

Paricía que intendeu

E dixe ta explicado!

Jailton Antas
Enviado por Jailton Antas em 19/08/2011
Reeditado em 11/07/2015
Código do texto: T3170467
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