Balbúcios da mente

1

Na esquina de um tempo

Eu fico lá de bituca

Esperando ele passar

Cai o cabelo da nuca

Me assento em meu destino

Sem esperança e nem tino

Tendo o vento de peruca

2

Num castelo de açúcar

Na luz do sol lentamente

Vão se passando os dias

Madurecendo a semente

Na copa do intelecto

Repousa o meu dialeto

E a imaginação consente

3

Na lucidez dessa mente

Dorme o sono já cansado

A alma vigia o sono

De um cérebro enfadado

O coração bem aceso

Bombeia o sangue preso

Do caboclo apaixonado

4

É um mistério encantado

Palmilhando na idéia

Consolidando ensaios

Da vida em epopeia

Sem digerir conteúdo

O grande se faz miúdo

Que não se acha em bateia

5

Na cólica da diarréia

Sofre o tempo desnutrido

A lagrima seca ao vento

De um calor adormecido

Já o suor da frieza

Deslizando na tristeza

De um lamento escorrido

6

Num imaginário florido

Em alpendre de labor

Caduca a sinceridade

Mendigando por favor

Quem lhe dê a atenção

E tome em seu coração

Sem distinção e amor

7

Entre lacunas de dor

Inconformaçao habita

O sossego vai embora

A classe desabilita

Em náuseas de ansiedade

Recordando com saudade

Revendo uma frase escrita

8

A vanglória maldita

Costura o entendimento

Se debruça sobre os pontos

Só assistindo o tormento

Do fracassado infeliz

Que morre na cicatriz

Da pauta do sofrimento

9

Consumindo a passo lento

A vida vai e não volta

Vigiadas de agruras

Conduzindo como escolta

Cruzando o mesmo caminho

Pisando no mesmo espinho

Nem se prende e nem se solta

10

Alimentando a revolta

Ancora na solidão

Navega em muitas magoas

Termina na contra mão

Abandonando amizades

Sobre trilhos de maldades

Duma vida de invenção

11

Lá onde mora o trovão

Noutra esquina mais na frente

Patina um viciado

Do cérebro todo dormente

Sem achar uma saída

Não volta porque a ida

Não deixou nada na mente

12

Só chora quem algo sente

Eu choro quando não quero

Quando eu quero nunca choro

Mais muito me acelero

Sem controlar a pressão

Flutuo feito avião

Mesmo no chão me altero

13

No brilho do olhar sincero

Onde eu desejo morar

Mesmo em casa de taipa

Vivia sem reclamar

Pra contemplar o jardim

Cheio de arnica e jasmim

Sonhando sem me acordar

14

Meu cordel eu ia cantar

Como o Céu é bonito

E numa esquina do Céu

O mundo ouvir meu grito

Lá nas nuvens deslizando

Vez por outra acampando

Cantando a Deus Bendito

15

O amor era infinito

E todos podiam ver

Assistir em tela plana

Sem precisar de tv

Relendo o que a mente diz

Sobre um poeta feliz

Pelo o prazer de viver

16

Canta mesmo sem saber

Mas rima como convém

Se inspira no arco-íris

Que não sabe de onde vem

Sete versos sete cores

Ajudam expulsar as dores

Contraídas por alguém

17

Na curta vida que tem

Pois logo desaparece

Mas o alto Céu enfeita

No pouco que permanece

Inspirando a mente fria

Depois que traz alegria

Do nada se desvanece

18

Por certo só obedece

Só faz o que vem fazer

Me inspira e vai embora

Montado em quem veio trazer

Vai e vem e vem e vai

Não balança e nunca cai

Sua beleza tá em ver

19

Quando ele envelhecer

Ficando todo grisalho

Lembrando a sua infância

Descansando do trabalho

Deve ficar orgulhoso

Desfrutando no seu gozo

Pois muito quebrou meu galho

20

Me banho no mesmo orvalho

Na sua brisa me assento

Faço manobras de riscos

Nas sinuosas do vento

Vou driblando a ventania

Na fina sabedoria

Brotadas do pensamento

21

Vou buscando argumento

A onde não posso ver

Na luz do sol bem suave

Beijando o amanhecer

Com um raio sonolento

Sugando o vapor sangrento

Que a noite o fez descer

22

Ou mesmo no entardecer

Me assento na janela

Dum palácio imaginário

Estando só eu e ela

Enquanto o sol vai indo

Adoro velo dormindo

Na noite cor de canela

23

Na sensação tão bela

Quando o calor é vencido

Continuo em meu palácio

Num cenário colorido

Afagando o meu saber

Com meu bem a me aquecer

Depois que o sol tem ido

24

Num castelo construído

Com paredes bem rimadas

Cada esquina é uma virgula

Com frases acentuadas

De cobertura um refrão

Melodia é o portão

As letras são as escadas

25

Ainda faço montadas

Pra viajar sem segredo

Nas asas da covardia

Ou na corcunda do medo

Vou levando a poesia

Com náuseas ou nostalgia

Na descrição de enredo

26

Quando acordo bem sedo

No apagar do vaga-lume

Ele apaga me acendendo

Tira da mente o betume

Pois não dormi sobre a fronha

Na noite fria ou risonha

Que me encheu de ciúme

27

O vaga é um estrume

Para a mente do poeta

Um plantonista da noite

Vai piscando feito seta

Sem dobrar o maquinário

Que ilumina o cenário

Sua função predileta

28

Movimenta feito atleta

O incansável bichinho

E eu cá em minha janela

Bem longe vejo o clarinho

Que quando acende e apaga

Sua beleza propaga

Enfeitando o escurinho

29

Segue voando baixinho

Sem atropelar ninguém

Clareando a sua estrada

E iluminando alguém

Poeta gosta de ver

Desejando também ser

Um vaga-lume também

30

E voando vai e vem

Na reta imaginação

Na pista do intelecto

Com verdade ou invenção

Vai maquinando sem trem

Onde amargura não tem

Se tiver vira canção

31

Canta com o coração

Batendo fraco ou forte

Aplaudido pelo os tempos

Que levam como transporte

Na carruagem obscura

Que destrói a amargura

Levando a vida na sorte

32

E quando chegar a morte

Poeta não vai sentir

A mente tá versejando

Os lábios não vão sorrir

Com lágrimas derramando

É o coração chorando

Todos podem conferir

33

Eu não vou poder fingir

Nos minutos derradeiros

Os dedos não podem mais

Nem se quer abrir letreiros

A emoção tá patente

Naquela lagrima corrente

De soluços verdadeiros

34

Meus rins serão os primeiros

A cansar nessa jornada

E vou senti-los parar

Não posso escrever mais nada

Mas naquela sensação

Faço versos de montão

Deixando a fronha molhada

35

Na sequencia é só parada

Os órgãos vão pondo o fim

Quem tiver ao meu redor

Pode se orgulhar de mim

Que estou ouvindo vocês

Na perfeita lucidez

Não sei se é bom ou ruim

36

E prosseguindo assim

Vou tragando a emoção

A mente também fracassa

Por causa do coração

Que batendo compassado

Dando sinal de cansado

Encerrando seu serão

37

Vem na boca a sequidão

O som some dos ouvidos

Paralisado os órgãos

Vou perdendo os sentidos

Encerra a inspiração

Para mente e coração

Designe-os concluídos

38

Jaz os versos pra ser lidos

A matéria perde a luz

Imortal é o espirito

Legiões logo os conduz

Transformando em santo o réu

Onde vai versar no Céu

Na presença de Jesus.

O POETA NÃO MORRE!!

Jailton Antas
Enviado por Jailton Antas em 15/07/2011
Reeditado em 04/02/2024
Código do texto: T3096369
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