O censo do matuto (Parte 2)

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Se aninha inquarquer lugá

Como gosto do bichim

Num ta preso mai eu cri

Do jeito qui cri salguim

Que vai e vem todo dia

Num canta mai assubia

Morá no mato é assim

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Já o meu papa capim

Nessa gaióla de tala

Se junta ca pinta silva

E o caboquim nem se fala

Condo se ajunta tudim

Fai o mai belo festim

Que chega o rancho se abala

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E dispoi quêles imbala

Eu levanto bem contente

E saio do camarim

Me sento lá no batente

Pá ispiar minha visinha

Qui de tarde e manhanzinha

Buscá iágua na nascente

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E derce toda contente

Intuano uma canção

Da minha casa pra dela

Tem uma boa visão

E eu vejo ela descê

Na hora do bardo inchê

Eu presto bem atenção

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Enche o bardo cum a mão

Cum a cúia que vem dento

Se abacha lá pro meu lado

Dexano o mundo sinzento

Infeita as ribancêra

A cacimba e suas bêra

Levanta inté pensamento

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Condo acaba o atrivimento

Faz tudo sem tê mardade

Arrudiano a cacimba

Fai ôta prevecidade

Se acocora e num disfaça

Dispôi que arrêa as cássa

E fai as nicessidade

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Pra um véi da minha idade

Muita coisa num cumbina

Mai mermo im minha passáge

Arrêa as cássa e urina

Fai buraqim lá no chão

Eu desço cum meu galão

Só pensano na minina

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No fim da varêda fina

Lá a onde se ispaiô

Fei lá o seu sirvicim

Nem sei cunquê se alimpô

Mai a descença no chão

Indica toda pressão

Da forma cuma assoprô

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Pegô a iágua e vortô

Eu pego e vórto tombém

Fico ispiando de casa

Aquele seu vai e vem

Dispoi que enche as panela

Praneja a hora mai bela

Pôi tumá um bãe fai bem

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Lá atrai de casa tem

Uma latada de páia

Onde toma bãe de cuia

E sim rola na tuáia

E dispôi seca o cabelo

Do lado que eu vou velo

Isso tudo me atrapáia

43

Inda bota mine sáia

Que feita de pano pôco

Já insibita o cabelo

Cum puro óio de côco

E se pintea me veno

Ispaiano seu veneno

Que vai me dexano lôco

44

E eu chamo de sufôco

Pôi condo eu vou li vêno

Fico imaginano o bãe

E aquela iagua iscorrêno

Nas cruiva do seu coipim

Cariciano todim

Seu lindo coipo morêno

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É piqueno meu terreno

Cuma o sinhô pode vê

Nessa casinha de taipa

De sipó e massapê

Barro batido no piso

Num tem Cuma fica liso

Mai é bonzim de vivê

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Vortano a li dizê

Contano meus pissuido

Discuipe eu tê mim pogado

E dos assunto fugido

Mai êta moço iducado

Me iscutano calado

Mêrmo eu teno interrompido

47

Por tê subido e dicido

Tumano o lugá do jegue

Cum galão sem incuretas

Nem que as urtiga me pegue

Num nego as minhas astuça

Num fuço onde ôtos fuça

Se num for verdade eu segue

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Seu moço se assucegue

Que eu num vô falá mintira

Eu só tenho essa visinha

Lá no mei da mancambira

A mãe dela é gente boa

E são as mió pessoa

Qui eu i a veia admira

49

Condo a cabeça vira

Eu tomo um chá adurmeço

As vezes sonho cum ela

Sabeno qui num mereço

Mai sua beleza é tanta

Que veiz purota minspanta

Só de olhar eu me aqueço

50

Im maio o mêis do têço

Adoração e novena

É reza aqui e lá

Onde eu vô mai Filomena

Minha resa é poquinha

Passo a novena todinha

Ispionano a morena

51

Vorto cá gota serena

Cum vigô de caba macho

Naquela vareda iscura

Quilariada cum facho

Trazeno a santa na mão

Pôi regra de adoração

Num pode tê cambalacho

52

Lá im casa onde eu incacho

Mai pavi no candinhêro

Qué mode almentá o fogo

E clariá mai ligêro

Aqui incasa eu nem reso

Pruque eu já fico leso

Li oiano o tempo intêro

53

Aqueço o fogarêro

Pra fazê um bom café

Que é morrido no pau

Torradim num caco inté

E sirvo pra as visinha

Que adora a mãe rainha

Qué muié de Som José

54

Se eu fico mei lelé

Pruque vi tanta beleza

Filomena nem precebe

Que fico de vela asseza

Canta ingual a andurinha

Eu tombem fico na minha

Pra nuassustá a freguesa

55

Vortano a minha riqueza

Do jegue tem a cangáia

Cum cabeçote de lenha

Tem inchimento de páia

Inté um pá de incureta

Tem caçuá e maleta

Preu carregá minhas tráia

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E como o jeguim trabáia

Sofreno o dia intêro

Inda tem a cela bruta

Quer mode eu chegá ligêro

Condo vô fazê a fêra

Num pricisa de Carrêra

Nem tombem de disispêro

57

Num gasto munto dinhêro

Poi de tudo eu produso

Pra prende eu uso prego

No lugar de parafuso

Pra fezê um pitisquero

Boto os pé de maimelêro

Lí digo as taba que uso

58

Do trabai eu num abuso

Nem fujo em meia manobra

Dicasco mandacaru

Inte mermo maniçobra

Serro as tabas bem fininha

Mobilho a casa todinha

Valorizo a minha obra

59

Nas horazinha que sobra

Eu faço de tudo um poco

Eu casso de ispingarda

Na roça eu arranco toco

No serrote armo um quichó

Pego preá e mocó

Num sei o que é sufoco

60

Na catingueira de oco

Eu mi sinto saciado

As abêa italiana

Faz seu mé bem preparado

Eu guardo mode cumê

Inda sobra pra vendê

Qué mé muito precurado

61

Tem um garrote selvado

Uma vaquinha xuíte

Bebo leite cum mastruz

Mermo sem ter apitíte

Que o doutor mando Tuma

Quera mode aliviá

A astroze e astrite

62

Você manda que eu cite

E pede pra eu dizê

Arado Paraguaçu

Pra ará o massapê

A maquina pé de grilo

Um pilão que eu mermo pilo

O café de nois bebê

63

Eu num sei se vai cabê

Onde tu ta iscreveno

Tenho quatro caçuá

Dois grande e dois piqueno

Inxada, inxadeco e pá

Bomba de proverizá

O remédio e o veneno

64

Todo dia eu dou um treno

Cortano paima e capim

Machuco a ispnha doçá

Tomo xá de alicrim

Cum pião roxo e urtiga

Um temédio das antiga

Que mãe insinou a mim

65

Vida da roça é assim

As ferramenta é braçá

Tem istrovenga e inchó

E maquina de aprantá

Espingarda lazarina

Uma grossa e outra fina

Pra caça grande a preá

66

Um cilo de armazená

Milho, fava e o fejão

Tem cera de aripuá

Pra fazê a vedação

Martelo de batê prego

Uma inchada do ôi sego

Tem também carrim de mão

67

Inda tem um cacimbão

Bem na boca um carrité

Que cavei e num deu água

Midino dez braça inté

Cavei pru detrai de casa

Nem água funda e nem rasa

Minô qui muiasse os pé

68

Vá anotano onde dé

Tenho pá e roçadêra

Um facão rabo de galo

Uma marreta e pexêra

Tem picarete e pixote

Mode quebrá o serrote

Condo a rocha é verdadêra

69

Uma faca capadêra

Pois capo poico e jumento

Só lavo cum água e sá

Pra sará o firimento

Alicate e alavanca

Serra de aço e chibanca

Tudo meu quantim tem dento

70

No teiádo um cata vento

Que o véio pai dexô

Tem pé ispirradêra

Chei de cacho de fulô

E na biquera um tuné

Pra condo achuva vié

Inchê os bardos e tambô

71

Tem tobém arrancadô

De grampo e isticão

Uma cabaça bem limpa

Cum sabugo de tampão

Um radio no aparadô

Prêu iscutá cantadô

Cum canturia e canção

72

A cama num conta não

Pruquê é quato fuiquia

Bem infiada no chão

Tem a merma sirvintia

Nem fai medo de caí

Nem range condo eu subí

Mode brinca cum Maria

73

Faço isso todo dia

Nas vara condo me deito

No cochão de pano e páia

Que pureu mermo foi feito

Qui num precisa ser mole

Nois mexe e nem se bole

Nem nunca deu um defeito

74

Qué preguntá eu aceito

Pregunte o que quizé

Pare de oiá pra eu

E iscrevê nos papé

Beba iagua do meu pote

E Filomena nur bote

Pra nóis bebê um café

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Jailton Antas
Enviado por Jailton Antas em 15/07/2011
Reeditado em 11/07/2015
Código do texto: T3096362
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