A ASTUCIA DO MATUTO!!! (causo)
A ASTUCIA DO MATUTO!!!
(causo)
Há quem pense que o matuto
Sem ter escolaridade
É obrigado a ser bruto
Viver na ingenuidade
É aí que a coisa pega!!
Existe camponês brega
Porém besta isso é engano
E desde já fique certo
Tem matuto tão esperto
Que engana até um cigano!!
Joaquim de Chico Pereira
Caboclo do pé rachado
Morava na Pitombeira
Distante do povoado
Criado passando fome
Sequer assinava o nome
Nunca pisou numa escola
Só trabalhou como guia
Do cego João de Luzia
Na feira pedindo esmola!!
Pense num cabra estradeiro
Velhaco, astuto, sagaz
Conversador trapaceiro
Ninguém lhe passou pra trás
Era águia no negócio
Além disso, tinha um sócio
Por nome Mané Zambeta
Que era o cão chupando manga
Malandro cheio de munganga
Um campeão na mutreta
E assim Mané e Joaquim
Davam uma de artistas
Mas na verdade eram sim
Dois tremendos vigaristas
Sem ter classe, salafrário
Quando encontrava um otário
Jogava um palavreado
Uma lábia, um converseiro
Levavam todo dinheiro
Daquele pobre coitado
Sem o mínimo de pudor
E sem ter ressentimento
Magoa receio ou rancor
Vergonha ou constrangimento
Sem esboçar ameaça
Só na base da trapaça
Sem causar desconfiança
Assim sorrateiramente
Traiam frequentemente
Jovem, idoso ou criança
Mané era mais matreiro
Astuto, esperto, engenhoso
Com um instinto interesseiro
Nefasto, grave, danoso
Completo de mal intentos
Usava os conhecimentos
De forma vil e maldosa
E assim o dito-cujo
Aplicava golpe sujo
De forma ardil e dolosa
Inventou uma pomada
A base de vaselina
E em meio à misturada
Colocou mel e resina
E uma espécie de corante
Que além do aspecto brilhante
A deixava bem verdinha
E pra melhorar a imagem
Colocou numa embalagem
Uma pequena caixinha!!
Depois de terem embalado
Enrolaram numa esteira
E seguiram pra Condado
Pra vender naquela feira
O prodígio, a maravilha
Que a pequenina vasilha
Detinha, o tal conteúdo
Que segundo os vendedores
Curava feridas, dores
Servia pra quase tudo
Após o produto exposto
Joaquim entrou em ação
Vem meu povo! Estou disposto
A vender na promoção
Esse remédio é potente
Serve praquele que sente
Dor nos ossos reumatismo
Pra dor de cabeça intensa
Ou qualquer outra doença
Que lhe afete o organismo
E aquele velho impotente
Que perdeu a validade
Vai se sentir novamente
Com vinte anos de idade
Entra outra vez no jogo
Volta a acender o fogo
Que a muito estava apagado
Fica forte igual um touro
Feliz, volta a “dá no couro”
Compre e veja o resultado
E além desse predicado
Serve pra dor de barriga
Dor de dente bucho inchado
Coceira braba, lombriga
Vitamina tem de sobra!
Cura mordida de cobra
E de cachorro doente
E pra quem é cachaceiro
Acaba o vício ligeiro
Se duvida, experimente
Vem logo comprar, depressa
Num vá deixar pra depois
E a promoção é essa
Pague três e leve dois
E aquele povo inocente
Voltou pra casa contente
Feliz e muito animado
Durou pouco esse prazer
Logo deu pra perceber
Que tinha sido enganado
E assim tudo que levaram
Venderam rapidamente
Depois nunca mais voltaram
Nessa feira novamente
Dividiram o apurado
Saiu cada um pra um lado
Sem sequer olhar pra trás
Quem ilude esse honesto povo
Se ali retornar de novo
Pagará caro demais!!!
Carlos Aires 09/06/2011