SE É PRA FALAR DE SERTÃO / EU FALO COMO NINGUÉM!!!
SE É PRA FALAR DE SERTÃO
EU FALO COMO NINGUÉM!!!
Criei-me nos cafundós
E conheço seus segredos
Vendo por entre os lajedos
Os assustados mocós
Das terras dos meus avós
Só a lembrança hoje tem
Mas a saudade ainda vem
Mexer com minha emoção
Se é pra falar de sertão
Eu falo como ninguém!!
Eu falo de caroá
Caipora e curupira
Maniçoba macambira
Morcego e maracajá
Gavião e carcará
Angu cuscuz e xerém
Galo campina, vemvem
Calango e camaleão
Se é pra falar de sertão
Eu falo como ninguém!!
Eu conheço a capoeira
E tudo que tem no mato
Calumbi unha-de-gato
Marmeleiro e catingueira
Urtiga que dá coceira
Muitas plantas que contém
Remédios que fazem bem
Pra toda população
Se é pra falar de sertão
Eu falo como ninguém!!
Eu falo de mata-fome
Jurubeba jitirana
Cobra verde, caninana
De pau-carrasco ou bom-nome
Da chuva que sempre some
Da seca que traz desdém
Do pobre que fica aquém
Da boa alimentação
Se é pra falar de sertão
Eu falo como ninguém!!
Falo do velho vaqueiro
Que cuida bem da boiada
Falo da vaca malhada
Do bode pai-de-chiqueiro
Do boi-de-carro o carreiro
Da cocheira, o armazém
Do galo com seu harém
E do cavalo alazão
Se é pra falar de sertão
Eu falo como ninguém!!
Eu falo da aroeira
Baraúna, mulungu
Do nosso mandacaru
Que dessa terra é a bandeira
Do chá de erva cidreira
Formigas num vaivém
Da rã que virou refém
Da cobra no cacimbão
Se é pra falar de sertão
Eu falo como ninguém!!
De quando a noite inicia
Que ouve-se os sons divinos
Das badaladas dos sinos
Na hora D’Ave Maria
A caatinga silencia
Quando o povo diz amém
Nesse lugar que mantém
Deus, em cada coração
Se é pra falar de sertão
Eu falo como ninguém!!
Assim falei um pouquinho
Do lugar pobre e precário
De onde sou originário
E tenho muito carinho
Ali foi meu doce ninho
E dou minha nota cem
Eu podia ir mais além
Nessa minha narração
Se é pra falar de sertão
Eu falo como ninguém!!
Carlos Aires 25/05/2011