A MOÇA QUE LAVOU ROUPA SENTADA NA PEDRA QUENTE!!! (causo)

A MOÇA QUE LAVOU ROUPA

SENTADA NA PEDRA QUENTE!!!

(causo)

No sertão já tem doutor

Não é como antigamente

Quando um preto benzedor

Vinha rezar um doente

Que tivesse acometido

De um mal que foi contraído

Por feitiço ou mau-olhado

Cuidava do paciente

Com seu bendito potente

E ele ficava curado!!

A evolução de fato

Trouxe uma grande virtude

Nos vilarejos do mato

Já tem posto de saúde

Com enfermeira, dentista

E médico especialista

Que durante seu plantão

De uma maneira propensa

Descobre qualquer doença

Que seja curável ou não

Cícera de dona Zefinha

Adoeceu certa vez

A sua regra não vinha

Já havia mais de um mês

Sua mãe preocupada

Vendo a filha desolada

Cabisbaixa e infeliz

Com depressão e desgosto

Falou vamos lá no posto

Pra ver o que o doutor diz

Quando ao posto chegaram

Foi à ficha preenchida

Dez minutos aguardaram

Logo entraram, e em seguida

O médico estava sentado

Perguntou muito educado

O que é que a moça sente?

Zefa disse, é uma mazela

Que começou quando ela

Sentou-se na pedra quente

Ciça foi lavar uns panos

Que tinham sujos em casa

Passou momentos tiranos

Sob o sol quente que abrasa

Sem que tivesse um sombreiro

Ela sentou no lageiro

E nesse clima escaldante

A alta temperatura

Da pedra, aquela quentura

Causou-lhe esse mal constante

O médico ouviu tudo aquilo

Sabendo que era heresia

E disse muito tranquilo

Que a tal moça deveria

Submeter-se a uns exames

Pra não passar por vexames

No próximo final de mês

Até que confirme o oposto

Vejo pelo quadro exposto

Sintomas de gravidez

Zefa olhou pra filha dela

Que ficou ali pasmada

E desse, tu és donzela

Jurada e sacramentada

Se um homem tu num conhece

Como é que tu me aparece

Buchuda, isso é safadeza?

Explique-me esse incidente!

Aí Ciça disse oxente

Foi coisa da natureza

Zefa disse, me esclareça

Logo essa situação

Antes que eu me aborreça

Pra que num lhe meta a mão

Por cima do pé do ouvido

Diga qual foi o bandido

Que fez essa desgraceira!

Ciça disse foi Mané

O neto de Biu Zezé

Que me pegou de bobeira

Chegou com uma conversinha

Uma prosa uns cafuné

Eu me arrepiei todinha

Disse, sai pra lá Mané!

Ele tava diferente

E me agarrou de repente

Nisso o mundo escureceu

Desde esse dia pra frente

Q’eu me sinto assim doente

Num sei o que aconteceu

Zefa gritou é um bandido

Um tarado, um salafrário

Cabra safado, enxerido

Que sujeitinho ordinário!

Pois se achou com o direito

De querer tirar proveito

Da minha filha inocente

Desse jeito assim avulso

Vai ter que casar apulso

Ou então vai morrer gente

Disse assim, eu vou embora

Que essa dor eu não aguento

E vou a partir de agora

Cuidar desse casamento

Se Ciça casou, não sei

Porque não acompanhei

O desfecho, e certamente

Mesmo que tenha casado

Vai ter muito mais cuidado

Ao sentar-se em pedra quente!

Carlos Aires 09/05/2011

Carlos Aires
Enviado por Carlos Aires em 09/05/2011
Código do texto: T2959152
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