BIÊTE AO PAI MAIÓ...- Cordel Matuto
BIÊTE AO PAI MAIÓ...
Literatura de Cordel
Autor: Bob Motta
N A T A L – R N
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Papai do Céu, me dirijo,
a você, in oração.
In cada um duis meus verso,
vai minha supricação;
prumode acabá o inferno,
da sêca e farta de inverno,
no meu amado sertão.
Ais rachadura no solo,
se vê a tôdo momento.
Procissão de carro pipa,
sôbre o solo puêrento.
Purisso, quage chorando,
meu poema, vô cumpondo,
quage in fóima de lamento.
O matuto tá vivendo,
duis programa sociá.
Terra sêca, isturricada,
num dá mode êle prantá.
A triste situação,
só tem amioração,
quando o inverno chegá.
Quando a sêca tá no pique,
in preno mêis de janêro,
corre ais lágrima do ríi,
duis zóio do fazendêro.
Lá na queima de ispíin,
é boi, vaca e bizêrríin,
in cumpreto disispêro.
Agora tá dêsse jeito,
é triste a situação.
Gente e bicho morre à míngua,
só tu tem a salução.
Mande água, Meu Sinhô,
prá êsse povão sofredô,
dais caatinga do sertão.
Pai do Céu, apresse ais nuve,
dê recáiga nuis truvão,
nuis quiláro duis relâmpo,
mode muiá nosso chão.
Encha uis barrêro, uis açude,
mode o sertanêjo rude,
alegrá seu coração.
Mande a safra de maxixe,
fruita de páima e cardêro,
capriche, Papai do Céu,
nais cáiga duis imbuzêro.
Feche a mata intêrinha,
prá eu uví detardezinha,
o abôio do vaquêro.
Quero, na bôca da noite,
no aipende, a rêde aimá.
No colo de minha amada,
minha cabeça, deitá.
Sintí ais mão da muié,
me incubrí de cafuné,
adrumecê e sonhá.
Quero vê, no fim de tarde,
a vacaria chegá,
tudíin de barriga cheia,
mode drumí no currá.
Quero uví, demenhãzinha,
a bizerrama intêrinha,
berrando, mode apojá.
Dá gôsto vê o sertanêjo,
na manhincença do dia,
num tanque, lá no lagêro,
tumá um bãe d’água fria;
se vistí, ir p’ru currá,
mode ais vaca, ordenhá,
rezando uma Ave Maria.
No currá, liga o raidíin;
inquanto vai arriá,
a vaca e o bizerrín,
Riva Júnio entra no ar.
E a Raposa do Nordeste,
na sua festa silvestre,
faiz o povão se alegrá.
Quato hora da matina,
o sertão já tá de pé,
te agradicendo, Sinhô;
mais um dia; faça fé.
Na Terra de Santa Cruz,
de juêi, se ora a Jesus,
e à Virge de Nazaré.
Quage tôda chaminé,
no sertão, tá fumaçando.
Nu bule, já tem café,
cum a rapadura, adoçando.
A passarada anuncia,
o raiá de um novo dia,
qui tá quage cumeçando.
Uis galo amiudando,
sarda o s’iscondê da lua.
Canta uis guiné, ais galinha,
a sariema e a piruá.
Ô nois tem o só raiando,
ô a chuva disabando,
cunfóime a vontade tua.
É assim, Pai Adorado;
é assim, Meu Pai Celeste.
Um amanhincê de inverno,
no sertão do meu Nordeste.
Adonde a mãe naturêza,
amostra a sua belêza,
e de alegria, se veste.
Mais, prá qui isso acunteça,
no verso, vô lhe dizê:
É preciso qui o inverno,
aqui, chegue; prá valê.
E isso, tão maraviôso,
Pai Misericordiôso;
só depende de você...
Autor: Roberto Coutinho da Motta
Pseudônimo Literário: Bob Motta
Da Academia de Trovas do RN.
Da União Bras. de Trovadores-UBT-RN.
Do Inst. Hist. e Geog. do RN.
Da Com. Norte-Riog. de Folclore.
Da União dos Cordelistas do RN-UNICODERN.
Da Associação dos Poetas Populares do RN-AEPP.
Do Inst. Hist. e Geog. do Cariry-PB.
E-mail: bobmottapoeta@yahoo.com.br
Site: WWW.bobmottapoeta.com.br
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