OS SEIS CONDENADOS

Vou aqui contar um fato
Você pode até questionar
Mas todos cometeram um ato
Que é difícil de acreditar
Julgados pelo o mesmo juiz
Condenados por um júri popular

O primeiro a ser condenado
Não tinha como esquivar
Foi preso em fragrante delito
Com uma casca de jequitibá
Para servir de santo remédio
E sua esposa doente curar

Apesar de cuidar da mata
E muitas sementes cultivar
Não obteve perdão do júri
Que não hesitou em condenar
Cinco anos de cárcere privado
Por uma casca de jequitibá

O segundo a ser condenado
Não tinha que reclamar
Foi apreciado e censurado
Por verbas do povo surrupiar
O juiz o condenou a prisão domiciliar
E o júri acatou sem protestar

Tratava-se de um coronel
Que ficou rico sem trabalhar
Tornou-se político da região
E a cidade passou a comandar
Ninguém podia falar ou contraria-lo
Pois sua cabeça podia rolar

O político sorrateiro e cruel
Sorrindo com o peito cheio de ar
Abraçou seus eleitores humildes
Debochou do júri popular
Fez promessas ainda não cumpridas
Para na próxima eleição voltar

O terceiro a ser condenado
Fez de tudo para poder escapar
Não foi aceito qualquer desculpa
Pois como podiam acreditar
Um homem que não se conteve
E um pequeno objeto furtar

Sua prisão era dada como certa
Pois não podiam outros incentivar
Invadir um grande supermercado
E uma lata de leite pegar
Para matar a fome da filha pequena
Que não parava de chorar

O juiz e o júri popular foram cruéis
Na sentença do desempregado sem lar
Determinaram ao coitado, cinco anos,
Sem visita, sem defesa e sem falar
Pois serviria de exemplo moral
A qualquer um que pensasse em furtar

O quarto a ser condenado
Não devia ali exposto estar
Pois se tratava do santo padre
Que criança vivia a molestar
Fingia-se ouvir e dar o perdão
Sem ninguém desconfiar

Aos pobres fazia promessas
De suas almas a Deus encomendar
Prometia o perdão e a salvação
E sua dor e sofrimento amenizar
Mas por trás de sua falsa bondade
Existia o desejo e a vontade de pecar

Sua condenação foi breve e branda
Pois não havia homem para determinar
Ao santo padre qualquer maledicência
O juiz não quis na igreja se colocar
Condenar um homem santo
Que tem apoio popular



O quinto a ser condenado
Não sabia por que estava lá
Não cometeu crime e nada fazia
A não ser por direitos reclamar
Pedir justiça e igualdade
Seria motivo para se condenar

Para este havia aclamação pública
Parecia que não tinha como salvar
A agitação era coordenada e certa
Pediam sua condenação sem pensar
Não podiam deixar um trabalhador
Buscar justiça e todos desafiar

Sua condenação foi certa e obscura
Calando a voz de um proletário
Encarcerado na masmorra escura
Agora sua vida seria um calvário
Sem poder demostrar sua bravura
Restando apenas a fé de um operário

O sexto a ser condenado
Seria o próprio juiz mandatário
Envolvido e sentenças e propinas
Seria então o pior salafrário
Julgava em troca de vantagens
Engordando seu alto salário

Sua pena foi deferida e conferida
Por sua corte de discricionários
Votaram a favor da própria justiça
Em defesa de nobres do judiciário
Aposentaram o inescrupuloso juiz
Com mordomia e um gordo salário

Esta é a atual situação de nossa nação
Às vezes a justiça e cega e precária
Por interesse pessoal de nobres
Outras vezes e surda e primária
Por banalizações e virtuais soluções
E por fim é silenciosa e sanguinária


Léo Pajeú Léo Bargom Leonires
Enviado por Léo Pajeú Léo Bargom Leonires em 13/12/2010
Reeditado em 24/05/2011
Código do texto: T2670319
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