LEMBRANÇAS SERTANEJAS!!! (poema matuto)

LEMBRANÇAS SERTANEJAS!!! (poema matuto)

Esses oios qui mareja

Me carsando tanta magua

É o pranto qui deságua

Das lembrança sertaneja

Rueno dento do peito

Dexa eu assim sem jeito

Cum tanta infilicidade

Afogado no disgosto

E a lágrima qui mioa o rosto

São só gota de sodade

Sodade da minha roça

De aprantá mio e fejão

Das coisa lá do sertão

Cabaça inchada paioça

Do aboio do vaqueiro

D’eu sentado no terrêro

Inspiano o quilaridão

Da lua, e cantarolando

Uma musga e muimurano

Cuma é belo meu torrão!!

Inscuitá a mãe -da -lua

Cantá a moda tristonha

E a curuja bisonha

A lamentá se habitua

Acauã lá pela mata

Sirrinno da seca ingrata

Sorta seu grito sem graça

Urubu desengonçado

Devorando no cêicado

Filiz mais uma caiçaca!!

Ais vaca magra berrano

De fome, carsa afrição

Im busca de solução

Fica pra gente inspiano

Pedino água e cumida

A cacimba ressequida

A paima já foi cortada

Acabou toda ração

E triste a situação

Na vagi num tem mais nada

Bruguelin maguim de fome

Pru num tê rôpa anda nu

Cume batata de imbu

Inté fruta de bom-nome

A mãe lamenta o má trato

Sem tê cumida no prato

Chora pelos fios dela

Pois nem o fogo ela acende

Pruque de nada depende

Mode butá na panela

É triste moço, a pessoa

Se alevantá de menhã

Só mingau de mucunã!!!

Tem pra cumê, isso injôa

Homi mulé e criança

Fica tudo sem sustança

Sente fadiga e fraqueza

Pru uma simpre razão

Num tem pelomeno um pão

Mode incolocá na mesa

O pai fica aperreado

Sai caminhando sem fé

Acha uns coco catolé

Que um boi tinha ruminado

Vorta pra casa contente

E diz assim: minha gente

Incrontei a solução

Lá donde o boi se deitô

Inspia o q’ele deixô

Dá quaje uma refeição

Pega uma peda pesada

Parte os coco de um a um

E sai quebrando o jejum

Do bucho da fiarada

Qui cum aquela iguaria

Vai tê qui passá o dia

Inté qui a fome passô!!

Ele e a mulé, coitado

Viru os fii alimentado

Pra eles nada sobrô

Quem viveu o sufrimento

Iguá o qui foi narrado

Sabe qui num tô errado

Num tirei nem pus aumento

Se teve a infilicidade

De passá nissidade

Sede e fome, esse castigo

E sofreu o terrive efeito

Diz, é assim desse jeito

Pois já se passô cumigo

Quonde faço esse relato

De foima assim tão compreta

Tem quem diga qui o pueta

Insagerou nesse fato

Mai não!!! É pura verdade

Quem vevi aqui na cidade

E tem de tudo a favô

Num se lembra do matuto

Que vevi no mato bruto

No meu sertão sofredô!!!

Carlos Aires 29/11/2010

Carlos Aires
Enviado por Carlos Aires em 29/11/2010
Código do texto: T2644007
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