DE VORTA PRA SEU LUGÁ!!! (poema matuto)
DE VORTA PRA SEU LUGÁ!!! (poema matuto)
Moço o caboco qui sai
De sua terra natá
Sem sabê pradonde vai
Dêxa a famia pru lá
Sai sem rumo e sem distino
É a sina do nordestino
Vivê nesse sufrimento
Na bagage a incerteza
E no peito a magua presa
Pru vivê nesse trumento
Mai só quem vevi essa vida
É quem sabe cuma é
Dexá a terra quirida
Os fio as fia a mulé
Viajá pra tão distante
Virá andarío errante
Da famía asseparado
A sodade dói no peito
Cai no chôro num tem jeito
Vevi cum os oios moiado
E esse pranto qui consome
O matuto tão sufrido
Pensa nos fios cum fome
A mulé sem o marido
Pro lugá donde vivia
Só pensa in vortá um dia
Quonde as coisa miorá
Pra cuidá de sua roça
Morá in sua paioça
Bem longe da capitá
Quem nasceu naquele mato
Num se acustuma na rua
Lembra o riacho o regato
Do quilaridão da lua
Quonde nasce atrais da serra
Do povo da sua terra
Se alembra e sente tristeza
Das caçada as pescaria
E quonde findava o dia
Tumava banhe na repreza
Nunca si senti filiz
Aquele pobe rocêro
Se arrecrama se mardiz
Virô um prisionêro
Da cadêa do distino
Se tornô um inquilino
Isso dói no coração
E trais infilicidade
Ao lembrá da liberdade
Qui tinha lá no sertão
Quonde dromi aigum sonin
Mode matá o cançsaço
Assonha com seu fiin
Caçula, alegre in seu braço
Chamano papai, sirrino
E ele se divirtino
Tão filiz e tão risonho
O dispertadô marvado
Toca e ele amaigurado
Dá fé qui era só um sonho
Sai correno pro trabaio
Pru lá passa o dia intero
É somente um quebra-gaio
Ganhando pôco dinhêro
Vevi apelano pra sorte
E de vortá pro seu norte
Ele nunca perde a fé
Mode abraçá seus fiinho
Cuidá bem do seu ranchinho
E drumi cum sua mulé
Assim vevi alimentano
A sua doce insperança
Num sai da mente, pensano
Quem inspera sepre aicança!!
E nessa luta insiste
Num se cansa e nem disiste
E pede a Deus o aprovo
Pra realizá seu prano
De lá pro finár do ano
Vortá pra casa de novo
Assim vevi o nordestino
Disterrado no sudeste
Retirante perigrino
Mai sempre cabra-da-peste
Nunca tevi vida boa
Lá na terra da garoa
Trabaia pra se lascá
Cum vontade e cum corage
Só pensano na viagem
De vorta pro seu lugá!!
Carlos Aires 26/11/2010