CUMENDO AIS CUMIDA DO FUNDO DO MÁ...- Cordel Matuto.
CUMENDO AIS CUMIDA DO FUNDO DO MÁ...
Literatura de Cordel
Autor: Bob Motta
D E D I C A T Ó R I A
Ao Sr. Raimundo, construtor de embarcação da Praia de Pirangí-RN.
N A T A L – R N
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Raimundo, prá tu, qui faiz imbaicação,
taí o cordel, cum tôda descença,
qui eu prometi, a Vossa Inselença,
quando decramei, uis cumê do sertão.
Cum uis verso do fundo do meu coração,
ao véi pescadô, quero homenagiá.
Sô eu, mêi do mato, mêi da capitá,
e digo prá tu, qui é de Pirangí,
pesquei nêsse mangue, um mundão de sirí,
CUMENDO AIS CUMIDA DO FUNDO DO MÁ.
Lá in Ponta Negra, na bêra da praia,
eu mais Cabaninha e o prêtíin Migué,
colegas de infança, pode fazê fé,
bibia frizante, numa véia catráia.
Se um cabra caía, levava uma váia,
qui tinha véigonha, inté de alevantá.
Cum Antôin de Genésia, ficava a prosá,
inté munto mais, de onze hora da noite,
cum o caríin da brisa, do vento in açôite,
CUMENDO AIS CUMIDA DO FUNDO DO MÁ.
Eu passei um sábo, bebendo cachaça,
lá in Georgino; a lembrança me invade.
Eu fui puras mão de Gaspar e de Pade,
decramando verso e êles achando graça.
De vorta prá casa, no mêi d’uma praça,
no verso matuto, butei prá lascá.
Era tanto amigo, a me abraçá,
e eu intretido cum ais ôstra crúa,
quage murrí bêbo, no meio da rua,
CUMENDO AIS CUMIDA DO FUNDO DO MÁ.
Aí, no pedaço, um grande sujeito,
qui eu cunhincí, foi seu Chico da Lua.
Do quá, a sodade e a lembrança sua,
inda me martrata, cá dento do peito.
O véio era in tudo, um pescadô perfeito,
inté na mintira, era um duis maiorá.
Passei muntas noite, cum êle a brincá,
cantando meus verso, morrendo de fríi,
in sua casinha, na bêra do ríi,
CUMENDO AIS CUMIDA DO FUNDO DO MÁ.
In Pirangí do Sul, fizemo muvuca,
pasté de lagôsta e de camarão,
cum um baita cunhaque, feito de aicatrão,
jogando suéca, vispa ô sinuca.
Vêiz purôta, vinha, uma bêba maluca,
atráis da mundiça, mode namorá.
Mais, cadê uis hôme, p’ru recado, dá ?
Um bucado bêbo, arriado no chão,
e uis qui tava vivo, num tinha tezão,
CUMENDO AIS CUMIDA DO FUNDO DO MÁ.
Já nais barraquinha, da Praia do Mêio,
lá in seu Geraldo e dona Arrochada,
uis cabra fazia um ôindia danada,
quage ela indoidava, de tanto aperrêio.
Só me arritirava, cum o tanque cheio,
quando me assentava, mode biritá.
Tudo aparicia, prumode fritá,
prá gente traçá, contente e cum gôsto,
num dia feliz, alegre e dispôsto,
CUMENDO AIS CUMIDA DO FUNDO DO MÁ.
Da Praia do Mêio, eu diga a vocêis,
nóis ía in grupo, ô mêrmo sózíin,
p’ru Bar do Cação, qui era de Tônhíin,
o mêrmo, ficava lá in Santo Rêis.
O Canto do Mangue, era a bola da vêiz,
no Bar de Gavião, nóis ía aportá.
O véio Pernambuco, tombém tava lá,
cum tanta iguaria, guardada prá gente,
quage eu dirmaiava, feliz e contente,
CUMENDO AIS CUMIDA DO FUNDO DO MÁ.
Dalí, numa lancha, prá véia Ridinha,
ía p’ru méicado, qui era nossa tóca,
traçá ginga frita, c’uma tapióca,
in dona Dalila, já tava véínha.
Num tá mais cum a gente, ela coitadinha,
o Nosso Sinhô, mandô lhe chamá.
Ela, certamente, do lado de lá,
deve tá prosando, falando de mim,
dizendo: Ví Bob, aquêle cabra rim,
CUMENDO AIS CUMIDA DO FUNDO DO MÁ.
In Genipabu, junto da parêde,
lá in João Fernandes, no ríi, sim sinhô.
No aipende, peidei, o balsêro parô,
Dizendo: Rasgô, a cuéca e a rêde.
Me alevantei, pois tava cum sêde,
e na geladêra, a sêde, fui matá.
Lá no Bar do Porra, fui reiniciá,
fui in Barra do Ríi, lá in Zé Pincé,
cum o finado Humberto, Ieiél e Baié,
CUMENDO AIS CUMIDA DO FUNDO DO MÁ.
Passei Graçandú, passei Pitanguí,
aimêi a barraca, lá in Jacumã.
Na casa de Nelson, no mêi da menhã,
cumí um cuscuz, cum lagôsta e sirí.
Gerson, mais Rossine, tombém tava alí,
na Budega Véia, junto cum Dadá,
e tôda a cachaça, querendo acabá;
era um istrupiço, um Deus nuis acuda,
e eu ofereci a minha ajuda,
CUMENDO AIS CUMIDA DO FUNDO DO MÁ.
In Porto Mirim, si qué eu parei,
lá in Muriú, eu já tava cum mêdo.
No Bar de Pêdíin, qui é A Pomba de Pêdo,
um cardo de Arráia, gostôso, provei.
Saindo dalí, me deliciei,
no bar, A Priquita da Guiomá.
É isso, Raimundo, qui quero amostrá,
qui na nossa orla, quage norte a sul,
andei biritando, eu digo prá tu,
CUMENDO AIS CUMIDA DO FUNDO DO MÁ.
Autor: Roberto Coutinho da Motta.
Pseudônimo Literário: Bob Motta.
Da Academia de Trovas do RN.
Da União Brás. de Trovadores-UBT-RN.
Do Inst. Hist. e Geog. do RN.
Da Comissão Norte-Riog. de Folclore.
Da União dos Cordelistas do RN-UNICODERN.
Da Associação dos Poetas Populares do RN-AEPP.
Do Inst. Hist. e Geog. do Cariry-PB.
E-mail: bobmottapoeta@yahoo.com.br
Site: WWW.bobmottapoeta.com.br
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