EU CUNHEÇO, CUMÍ E SEI FAZÊ/ AIS CUMIDA GOSTOSA DO SERTÃO...-Cordel Matuto

EU CUNHEÇO, CUMÍ E SEI FAZÊ/ AIS CUMIDA GOSTOSA DO SERTÃO...

Literatura de Cordel

Autor: Bob Motta

N A T A L – R N

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Meu quirido leitô, eu lhe cunvido,

mode viajá mais eu, nessa ingrisia,

qui letrado chama gastronomia,

dais caatinga do meu sertão sufrido.

Na cunzinha, tombém sô inxirido,

numa trempe, fugarêro, ô no fugão.

De sodade, choro na rescordação,

num me acanho nem um pôco de dizê,

EU CUNHEÇO, CUMÍ E SEI FAZÊ,

AIS CUMIDA GOSTOSA DO SERTÃO.

Cumeçando; galinha à cabidela,

cum farofa de seu cardo, iscardada,

ô xerém misturado c’uma rabada,

ô chôriço féivendo na panela.

A traíra pequena, é suvela;

o baião de dois é o mêrmo rubacão;

qui é o arroz cunzinhado no fêjão,

qui o cabra come quage inté morrê,

EU CUNHEÇO, CUMÍ E SEI FAZÊ,

AIS CUMIDA GOSTOSA DO SERTÃO.

Batata doce, farinha e quaiáda,

o cuscuz cum bodíin bem guizado,

o torrêro do tôicíin, caprichado,

o pirão de uma panelada.

Uma fava cum tôcíin, na latada,

maxixada cum nata, no oitão,

na panela de barro, um capão,

imbuzada azêdinha prá valê,

EU CUNHEÇO, CUMÍ E SEI FAZÊ,

AIS CUMIDA GOSTOSA DO SERTÃO.

No fugão do quintá de minha casa,

mode o leite ferrado, perpará,

boto um cáco de têia prá isquentá,

êle fica vrêimêio, qui nem brasa.

Cum açúcar, no bule, êle se casa,

sobe a chama, lhe juro, meu irmão.

Boto o leite fríi, no bule, aí intão,

êle féive e é gostôso, pode crê,

EU CUNHEÇO, CUMÍ E SEI FAZÊ,

AIS CUMIDA GOSTOSA DO SERTÃO.

Pé de pôico, saigado, eu iscardo,

mode o icesso do sá, arritirá.

Adispôi, já boto prá cunzinhá,

cum picado, na panela e aguardo.

Boto todos uis tempêro, provo o cardo,

boto lenha, alimentando o fugão.

Num quarenta, capricho minha mão,

tórro um cafézíin no cáco, prá você,

EU CUNHEÇO, CUMÍ E SEI FAZÊ,

AIS CUMIDA GOSTOSA DO SERTÃO.

Rapadura adoçando o café,

quêjo de quáio, assando lá na brasa,

rapa de quêjo de mantêga, é qui arrasa,

dais abêia, o matuto tira o mé.

Quando quero agradá minha muié,

nessas hora, qui dá paipitação,

boto fé nais minha rescordação,

num me avexo; tu sabe o pru quê ?

EU CUNHEÇO, CUMÍ E SEI FAZÊ,

AIS CUMIDA GOSTOSA DO SERTÃO.

Tombém tem uma ispécie de fritada,

qui é de ôvo batido cum farinha,

cum tôicíin de pôico, frito, na cunzinha,

qui uis antigo, chama de mala assada.

Qui no séco dizenove, camarada,

foi no ano sete sete, a saivação.

Era triste, mais a população,

cumia ais mala, prá de fome, num morrê,

EU CUNHEÇO, CUMÍ E SEI FAZÊ,

AIS CUMIDA GOSTOSA DO SERTÃO.

Passarinha de boi, na brasa ô frita,

bôrra feita, da nata da quaiáda,

na tapióca ô no cuscuz, a mininada,

se isbardava, numa fulia inté bunita.

Uis rapaiz, indoidava na birita,

cum todo êsses tira gôsto, de muntão.

Inda vejo, eu de lado do fugão,

no colo de minha mãe, a me aquecê,

EU CUNHEÇO, CUMÍ E SEI FAZÊ,

AIS CUMIDA GOSTOSA DO SERTÃO.

O purê de girimum bem temperado,

cum a xáique, cum dois dedo de gurdura,

o refresco de limão cum rapadura,

te atola, era cumo era chamado.

Tudo isso, da minha vida de gado,

é tisôro da minha rescordção.

A quixaba, a gogóia e o melão,

subrimêsa qui num posso m’isquecê,

EU CUNHEÇO, CUMÍ E SEI FAZÊ,

AIS CUMIDA GOSTOSA DO SERTÃO.

É gostôso, batê o corredô,

e cumê o tutano cum farinha.

A piaba, frita, cum a cachacinha,

é iguaria de premêra, seu dotô.

Uis tréistico d’um tôro reprudutô,

dá sustança p’ruis mais jove e uis incião.

Ôvo frito, cum farofa de bolão,

o sujeito come inté irmorecê,

EU CUNHEÇO, CUMÍ E SEI FAZÊ,

AIS CUMIDA GOSTOSA DO SERTÃO.

O meu pai, foi grande mestre, me insinô,

a fazê um carnêro disossado.

Temperá e dêxá dispindurado,

prá tumá o tempêro, sim sinhô.

A cumpade Júlio Prêto, me intregô,

mode êle me passá suas instrução.

E siguindo sua recumendação,

o Nêgão foi demais, digo a você,

EU CUNHEÇO, CUMÍ E SEI FAZÊ,

AIS CUMIDA GOSTOSA DO SERTÃO.

Cumê fruita de páima, de cardêro;

de míi verde; um baita de um angú,

numa sombra de um pé de mulungú,

faiz um rêis; do poeta caririzêro.

Na vazante, tem todos uis tempêro,

qui in cunzinha, me traiz inspiração.

Júlio Prêto me deu tôdas ais lição,

e hoje eu digo, adispôi de aprendê,

EU CUNHEÇO, CUMI E SEI FAZÊ,

AIS CUMIDA GOSTOSA DO SERTÃO...

Autor: Roberto Coutinho da Motta

Pseudônimo Literário: Bob Motta

Da Academia de Trovas do RN.

Da União Bras. de Trovadores-UBT-RN.

Do Inst. Hist. e Geog. do RN.

Da Com. Norte-Riog. de Folclore.

Da União dos Cordelistas do RN-UNICODERN.

Da Associação dos Poetas Populares do RN-AEPP.

Do Inst. Hist. e Geog. do Cariry-PB.

E-mail: bobmottapoeta@yahoo.com.br

Site: WWW.bobmottapoeta.com.br

Busca no Google: Bob Motta Poeta Matuto.

Bob Motta
Enviado por Bob Motta em 16/11/2010
Código do texto: T2619512
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