MAS NADA DISSO EU SERIA, SE EU PARASSE DE CANTAR!!!
Mote de autoria do poeta Compadre Lemos que está sendo trabalhado por vários poetas no ORKUT na comunidade "Projeto Cordel"
(Glosas de Carlos Aires)
MAS NADA DISSO EU SERIA,
SE EU PARASSE DE CANTAR!
Sou o sertão da tristeza
Quando a seca intensa assola
Sou o toque da viola
Com a sua sutileza
Sou a água da represa
Que irriga o belo pomar
Sou o brilho do luar
Numa noite calma e fria
Mas nada disso eu seria,
Se eu parasse de cantar!
Sou miolo de aroeira
Madeira de jucazeiro
Sou raspa de juazeiro
Espinho de quixabeira
Sou galho de catingueira
Umbuzeiro a esperar
Pra quando a chuva chegar
Florescer com alegria
Mas nada disso eu seria,
Se eu parasse de cantar!
Sou preá de macambira
Sou a mocó do serrote
Sou da cascavel o bote
Sou caipora e curupira
Sou a linda flor que inspira
Sou brisa fresca a passar
Sou a aurora ao despontar
Sou o raiar de um novo dia
Mas nada disso eu seria,
Se eu parasse de cantar!
Sou espinho de jurema
Sou folha de marmeleiro
Sou a fruta de facheiro
Sou grito de seriema
Sou do sertão o emblema
Sou burguesa a arrulhar
Sou ribaçã a migrar
Sou romeiro em romaria
Mas nada disso eu seria,
Se eu parasse de cantar!
Sou mandacaru teimoso
Sou verão quente e maciço
Sou abelha no cortiço
Sou anu preto, choroso
Sou o jumento manhoso
Sou mata pasto a brotar
Sou sertanejo sem par
Sou escravo em alforria
Mas nada disso eu seria,
Se eu parasse de cantar!
Sou o amargor do fel
O aroma da flor de lis
Sou o canto do concriz
Sou néctar de fazer mel
Sou um grande menestrel
Vivo sempre a poetar
Sou pimenta a esquentar
O pirão da cantoria
Mas nada disso eu seria,
Se eu parasse de cantar!
Eu sou a terra rachada
Do sertão esturricado
A fome que mata o gado
A cacimba esvaziada
O mugido da boiada
Querendo se alimentar
Sertanejo a esperar
O fim da triste agonia
Mas nada disso eu seria,
Se eu parasse de cantar!
Sou o sorriso inocente
Dos lábios de uma criança
Renovando a esperança
Dentro do peito da gente
Sou o broto da semente
Que começa a germinar
Breve irá proporcionar
Sombra fresca e fruta fria
Mas nada disso eu seria,
Se eu parasse de cantar!
Sou Lampião com a ginga
E seus “cabras” preparados
Volantes orientados
Para adentrar na caatinga
Sou a água que mau pinga
Para o sertão irrigar
Sou o fruto no pomar
Que o passarinho delicia
Mas nada disso eu seria,
Se eu parasse de cantar!
Carlos Aires 22/10/2010