SÃO RETRATOS DO PASSADO NA MINHA IMAGINAÇÃO!!!
SÃO RETRATOS DO PASSADO
NA MINHA IMAGINAÇÃO!!!
(Mote do poeta Onildo Barbosa)
(Glosas de Carlos Aires)
Uma galinha aninhada
Lá num canto de parede
Um boi mugindo com sede
A terra seca rachada
Baraúna desfolhada
Com o terrível verão
Eu cortando com um facão
Mandacaru para gado
São retratos do passado
Na minha imaginação
Um garrote se coçando
Numa estaca do curral
No inverno o lamaçal
No verão o chão rachando
O sol quente devorando
O pasto e a plantação
Causando desolação
Sertanejo aperreado
São retratos do passado,
Na minha imaginação!
Uma rolinha cantando
Lá no velho umbuzeiro
Um caçador traiçoeiro
De longe lhe observando
A tanajura voando
Depois que dá um trovão
Perneiras, chapéu, gibão
Num cambito pendurado
São retratos do passado,
Na minha imaginação!
Junta de bois paciente
Puxando o carro pesado
Um burro grande no arado
Um jegue velho doente
Um cachorro no batente
Da porta do casarão
Um paiol de algodão
Um juazeiro copado
São retratos do passado,
Na minha imaginação!
Na caatinga ressequida
Vêem-se ao longo das estradas
Migrantes em retiradas
Da sua terra querida
Pra garantir a comida
Vai à busca do seu pão
Levando no coração
Saudade do solo amado
São retratos do passado,
Na minha imaginação!
Brincando de se esconder
De pinhão e carrapeta
Observar borboleta
Na poça d’água beber
E pra que faça chover
Amarrar São Sebastião
Ou chove logo ou então
O santo fica amarrado
São retratos do passado,
Na minha imaginação!
Papai lá cortando palma
Mais o Velho Antonhe Migué
Mamãe pilando café
No pilão com muita calma
Sinto no fundo da alma
O peso dessa emoção
Às vezes o coração
Bate até descompassado
Com os retratos do passado,
Na minha imaginação!
Um jumento encangalhado
Levando um par de ancoretas
Centenas de borboletas
Beijando as flores do prado
O sol nascendo dourado
Cobrindo a face do chão
Do alpendre do casarão
Se ouve o chocalho do gado
São retratos do passado,
Na minha imaginação!
CARLOS AIRES 28/09/2010