DESAFIO EM MARTELO AGALOPADO!!!

Outra vez fiz um trabalho fictício simulando uma disputa entre dois poetas, dessa vez um desafio que ainda hoje é muito usado em cantorias, é um duelo em “martelo agalopado” onde os poetas se enfrentam cada um querendo ser melhor que outro

Vamos ao desafio!!!

DESAFIO EM MARTELO AGALOPADO!!!

Eu queria versar com um poeta

Que enfrentasse o terror do meu duelo

Pra cantar beira mar, mourão, martelo

De maneira abundante ampla e completa

Sem ter medo de curva e nem de reta

Me encarasse de frente, isso eu queria

O destino me fez a ironia

De trazer-me um idoso já cansado

Que guardou a viola é aposentado

Vai morrer de apanhar na cantoria

Pois se eu estivesse em seu lugar

Nem pensava ir em frente, prosseguir

Bem melhor pensar antes, desistir

Que passar a vergonha de apanhar

Tantos outros tentaram me enfrentar

Terminaram caindo em depressão

Quem enfrenta um poeta campeão

É preciso ter fama e ter valor

E por isso aconselho a o senhor

Refletir e mudar de opinião

Enfrentei grandes vates renomados

Sebastião, Louro Branco e Valdir

Vilanova Amâncio e Moacir

E tantos outros poetas respeitados

Todos eles ficaram admirados

Com o sucesso da minha evolução

Mas agora me chega um ancião

Pra querer enfrentar-me é impossível

Tem que ver que um poeta do seu nível

Já não tem mais valor na profissão

Só quem canta e encanta vai seguir

Os trajetos dos rumos dessa trilha

Minha estrela luzente ainda brilha

E a tendência do nível é só subir

Pra você o futuro é sucumbir

A viola já nem afina mais

Cantador sem talento e sem cartaz

É melhor se aquietar ficar num canto

Pois quem canta comigo isso eu garanto

Pode até se igualar, vencer jamais!!!

O sucesso da minha cantoria

Está no auge, em plena atividade

Em primeiro lugar a humildade

Em segundo lugar a poesia

Que brotando da mente propicia

Um versar excelente e tão perfeito

Preservando a moral e o respeito

É por isso que sou um vencedor

Essas regras não valem pra o senhor

Que tentou me bater não achou jeito

Se eu fosse senhor aqui nem vinha

Pra não ter que sair envergonhado

Eu ficava cuidando do roçado

Ou lavando os pratos na cozinha

Catar fava ou feijão, deitar galinha

Que pra isso demonstra levar jeito

E nem pense que é eu que sou despeito

Só estou como amigo lhe avisando

Pra depois eu não vê-lo lamentando

As agruras terríveis desse efeito

Quem no máximo só faz uma quadrinha

Ou às vezes arrisca uma sextilha

Se atrapalha com uma septilha

Na oitava se perde, sai da linha

Não tem mais todo pique que antes tinha

Já não canta do jeito que cantou

Sua fonte de verso se esgotou

Se tentar um soneto sai da meta

Já não pode dizer que é poeta

Pois seu prazo venceu, se invalidou

Quem venceu festival, levantou taça

Incluído no rol entre os maiores

Hoje vê-se esquecido entre os menores

E os versos que faz estão sem graça

Quem quebrava a mais dura carapaça

Hoje diz lamentando, estou quebrado

Se incomoda com o triste resultado

E pensando analisa que talvez

Já não faça um quarto do que fez

Numa estrofe em martelo agalopado

Eu não ligo pra suas parolagens

Nem dou bolas pro eco de seu grito

Quando estou a cantar canto bonito

Sei com garbo enviar minhas mensagens

Se você abre a boca, é só bobagens

Pois não sabe ao menos se expressar

É um calo no ouvido lhe escutar

Se a criança lhe ouve cai no choro

Bem melhor o zumbido de um besouro

Que parar pra ouvir você cantar

O meu canto é suave como os ventos

Que nas ondas do mar chegam à praia

Mesmo assim lhe incomoda então saia

A procura buscando outros eventos

Que aliviem as dores e tormentos

E a inveja que está lhe destruindo

Ao ouvir ecoar meu cantar lindo

Cresce o ódio em seu peito e lhe arrasa

Meu valor se adianta o seu se atrasa

Você vive chorando e eu sorrindo

Se você me insultou agora enfrente

A potência e a dureza do meu dote

Vai provar o sabor do meu chicote

Porque eu sou malvado e inclemente

Cantador que cantar comigo sente

Todo peso que tem o meu cajado

Guarda logo a viola e sai calado

Quando fica apanha pra morrer

Pense antes pra não se arrepender

Me enfrentando em martelo agalopado

Quem me ver bem quieto e assim mansinho

Não conhece o furor da minha febre

Se encarar vai comprar gato por lebre

Posso até parecer, não sou bonzinho

Se acaso chegar devagarzinho

Pode até se dá bem, mas se chegar

Arrogante querendo me mostrar

Que é maior do que eu não se dá bem

Ou vem bem preparado ou então tem

Que ensacar a viola e se mandar

Já bati nos mais fortes cantadores

Já venci os maiores festivais

Enfrentei palco e praça sem jamais

Temer fama dos meus opositores

Onde fui demonstrei fartos valores

Pois sou “fera” mais brava que leão

Quem me enfrenta em martelo ou em mourão

Vai sentir que talento até me sobra

Ou se esforça se empenha e se desdobra

Ou lhe tiro de vez da profissão

Seu talento esgotou é muito pouco

Se ainda canta uma estrofe é decorada

Se a voz foi de sino hoje cansada

É um grito sem eco fraco e rouco

O seu jeito de otário ou de louco

Causa dó e nos dá a sensação

Que perdeu o caráter e a noção

Está sem plano sem rumo e sem tino

Ou são coisas da vida e do destino

Ou o fracasso levou-lhe a depressão

Eu não sou um poeta fracassado

Nem tão pouco também sou deprimido

Mas confesso que estou desiludido

Por está num debate ao seu lado

Canta ruim toca pouco está frustrado

Se atrapalha ao cantar uma canção

Não afina a viola e no baião

Sai do ritmo está desentoado

Pra cantar com você é arriscado

Ganhar vaias do público no salão

E você já não canta como outrora

Nem aguenta os rojões do meu embalo

Faça tudo e não pise no meu calo

Pois a força do verso me acalora

Sinto muito em dizer que a sua hora

É chegada, vai ter que se afastar

Pra distante, sumir desse lugar

Pois cantando jamais vai ter dinheiro

Arranjando um emprego de vaqueiro

Talvez possa a família sustentar

Carlos Aires 08/07/2010

Carlos Aires
Enviado por Carlos Aires em 08/07/2010
Reeditado em 12/07/2010
Código do texto: T2365529
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