MINHAS ORIGENS II (COM ÁUDIO)
MINHAS ORIGENS
Seu moço eu sou oriundo
Das entranhas do Agreste
Nesses rincões do Nordeste
Escute o que vou falar
Minha luz é um candeeiro
Meu relógio são os galos
Meus documentos os calos
Que tem nas mãos pra mostrar
O café que vou tomar
É puro e torrado em casa
No fogão de lenha ou brasa
Bem pilado no pilão
Meu açúcar é rapadura
A carne é caça do mato
Ainda é de barro o prato
E o meu talher é a mão
Pra lavar roupa o sabão
É a raspa de juazeiro
Pra varrer casa e terreiro
Usam vassoura de talos
Ouve-se o piar de pássaros
Sonorizando gorjeios
Liberam nossos anseios
Que o coração dá abalos
São João tem os embalos
De um forró Pé-de-Serra
E o povo da minha terra
Fica contente demais
Se o ano for de fartura
Vai ter pamonha e canjica
E a Deus se glorifica
Com preces e rituais
As coisas mais colossais
Que diferem da cidade
É do ar puro a qualidade
Pra sua respiração
E a inocência nata
Que faz as vidas mais belas
Longe das ondas e telas
De rádio e televisão
Quando o sol com seu clarão
Cobre a terra de dourado
Deixa o chão amarelado
Com o esplendor da luz
O camponês se levanta
De mãos postas faz a prece
Olha pro céu e agradece
Ao grande Mestre Jesus
Tudo isso nos induz
A preservar as raízes
Porque lá somos felizes
E ninguém fica indeciso
Que esse lugar tão pacato
Onde a beleza se encerra
Mesmo sendo aqui na terra
Faz parte do paraíso
Em cada rosto um sorriso
De fé e de esperança
Desde a pequena criança
Ao mais antigo idoso
Aqui vivem satisfeitos
Ouvindo o som da cascata
E olhando a lua de prata
Num cenário majestoso
Nesse lugar tão formoso
Nasci cresci e me criei
E até o fim viverei
Na maior felicidade
Bebendo água de pote
Com mel queijo e rapadura
Na vida simples, mas pura
Sem me lembrar da cidade
Digo com sinceridade
Que a vida mansa que levo
Qualquer tristeza eu relevo
De maneira eficiente
Aqui a simplicidade
Sempre nos traz um renovo
É honesto nosso povo
E é pacata nossa gente
Mesmo não sendo parente
Aqui ninguém é estranho
E o prazer é tamanho
Ao chegar uma visita
Recebemos com afago
Só porque temos certeza
Que preservando a pureza
A vida é bem mais bonita
A paisagem descrita
Desse povo tão singelo
Com um viver puro e belo
De uma maneira inconteste
Apreciando as belezas
Existente em nossos campos
Vendo a noite os pirilampos
E sentindo a brisa do leste
É sempre assim meu agreste
Terra boa e gente amiga
Que a seca tanto castiga
De uma maneira constante
Mas a gente não desiste
Pois tendo em Deus confiança
Está sempre na esperança
Que chove a qualquer instante
E essa fé nos garante
Que a vida siga em frente
Pois quem a Deus é temente
Sempre faz uma oração
Aos domingos ir à missa
Tornou-se um compromisso
É devoto de “Padim Ciço”
E também de Frei Damião
Aqui fazemos questão
Das tradições mais seguras
E as coisas simples e puras
Manter a perseverança
Nossos mitos e costumes
Herdado dos ancestrais
Não esqueceremos jamais!!
Nem eu e nem a vizinhança
O que surgiu na lembrança
Tentei fazer o relato
Mostrei um pouco de fato
O que por mim foi vivido
Nessa terra que eu amo
Esse lugar virtuoso
Que é o Sitio Frutuoso
Meu Pé-De-Serra querido
Carlos Aires 10/03/2010