AS LOROTAS DO VELHO ZÉ TOTÓ (causo)
AS LOROTAS DO VELHO ZÉ TOTÓ
O finado Zé Totó
Que era tio de meus pais
Mesmo sendo um arigó
Conversava até de mais
A audição saliente
E uma visão excelente
Bem acima dos seus níveis
Vou remexer a memória
Pra relatar sua história
Cheia de coisas incríveis
Esse nosso personagem
Com dotes especiais
Não sei se era pabulagem
Mas, o velho era sagaz
Com pericia e maestria
Tanto via quanto ouvia
De maneira interessante
Sem aparelho e nem óculos
Sem auxilio de binóculos
Enxergava bem distante
O velho José!! Morava
Na Serra, num casarão
Do alpendre desfrutava
De uma ampla visão
Para a Vila de Ameixas
Sem ter motivo pra queixas
Com muita categoria
Pra quem estava presente
Muito detalhadamente
Contava tudo que via
Só que Ameixas ficava
Duas léguas adiante
Mas tio José confirmava
De uma maneira constante
Que tinha a vista apurada
E de forma detalhada
Serenamente e tranquilo
Que ali via quase tudo
Desde um animal graúdo
Ao mais pequenino grilo
Ele dizia estou vendo
Debaixo de um sombrião
Um velho sentado lendo
O folheto do pavão
Aquele misterioso
E um menino treloso
Brincando com carrapetas
E um rapaz num jumento
No barreiro de Zé Bento
Enchendo umas ancoretas
Lá na venda de João Quinca
To vendo Euzébio sentado
E uma menina que brinca
De boneca, no outro lado
Lá em Sebastião Vicente
Da venda, mesmo na frente
Daqui vejo direitinho
Três rolinhas num espeto
E num saco de feijão preto
Quatro grãos de mulatinho
Mas ele negociava
Todo tipo de mangaio
Também ovo, ele comprava
Carregando num balaio
Pra não ter muito trabalho
E não causar atrapalho
Quando cansado chegava
Sem cuidado e sem levez
Derramava de uma vez!!
Nenhum ovo se quebrava
Um dia a serra desceu
Para visitar seus pais
O cachimbo ele perdeu
E como fumava demais
Voltou a sua procura
E de maneira obscura
Pra todo mundo contou
Que procurando nos limbos
Achou dezoito cachimbos
E o dele não encontrou
E tinha cachimbo aceso
Que ainda estava fumegando!!
Certa vez, ficou surpreso
Quando estava descansando
Pois tinha tempo de sobra!!
Quando avistou uma cobra
Passando em velocidade
E pelo calculo que fez
Pensou com sigo, talvez
Eu esteja vendo a metade
E isso era mais ou menos
Seis e meia da manhã
E entre murmúrios pequenos
Sozinho ficou no afã
De ver passar a serpente
Deu dez horas, e o sol quente
Mas ele não desistiu
Bateu o pé fez afinco
As duas e trinta e cinco
Foi quando a cobra sumiu
Se é real ou fantasia
Eu não vou confirmar nada
Ele afirmava que ouvia
Da igreja da Malhada
Com seu ouvido ladino
As badaladas do sino
Com perfeita ressonância
Só que a igreja ficava
Do lugar que ele morava
A dez léguas de distancia
Malhada se emancipou
Hoje, é Passira a cidade
Se o velho o sino escutou
Se é mentira, ou se é verdade
Eu não sei lhe explicar
Mas, se alguém duvidar
Do que ele era capaz
Vou ser discreto e sincero
É só procurar Romero*
Que ele sabe muito mais
Carlos Aires 29/01/2010
*Romero é primo do poeta e foi quem passou esses dados que transformei em causo.
A ele dedico esse singelo poema valeu velho!!!