A HISTORIA DE ZÉ CAMBRAIA!!! (CAUSO VERÍDICO)
A HISTORIA DE ZÉ CAMBRAIA!!!
(causo veridico)
Quando nasce, o ser humano
Já nasce predestinado
Não tem quem mude seu plano
Que por Deus já foi traçado
Ninguém vai fugir da raia
Foi assim com Zé Cambraia
Que já trouxe a vocação
Quis o fadado destino
Que aquele infeliz menino
Viesse pra ser ladrão
Sua vida no inicio
Foi sofrimento e agravo
Passando por sacrifício
Pois sendo filho de escravo
Era tratado aos revéis
Pelos velhos coronéis
Que no seu tempo imperava
Mesmo com a felicidade
De nascer em liberdade
Mas dela não desfrutava
Pois bem, Cambraia cresceu
Entre ponta-pé e socos
E a rude vida viveu
Todinha no Sítio Cocos
Fez uma breve amizade
Com nobre família Andrade
Que sempre o amparou
Sem plantar milho ou mandioca
E sem ter casa, numa loca
Por toda vida morou
Nunca botou um roçado
Pra garantir seu sustento
Vivia oculto e isolado
Só porque seu pensamento
Não era de trabalhar
Pois vivia a planejar
Com sua mente daninha
À noite pra onde iria
E também como faria
Pra roubar uma galinha
Depois de ter escolhido
O lugar pra sua trela
Sem cachorro dá latido
Sem batido de cancela
Andando devagarzinho
Sorrateiro em seu caminho
Despercebido passava
Por ser manhoso e matreiro
Ia direto ao poleiro
E o roubo se consumava
E a galinha mais pesada
Levava com ele embora
Andando sem temer nada
Seguia de estrada afora
Sendo calculista e frio
Aqui ali um desvio
No caminho ele fazia
Adentrava pelo mato
Pois agindo assim de fato
Rastejar ninguém podia
Quando à estrada voltava
Por ser astuto e sagaz
Outra estratégia ele usava
Saia andando pra traz
E seguindo o itinerário
Deixando o rastro ao contrario
Conseguiria enganar
Com provocador acinte
Se alguém no dia seguinte
Ousasse lhe rastejar
Quando na loca chegava
Com a galinha roubada
Rapidamente a matava
E logo deixava salgada
Colocava na panela
Depois, escondia ela
Noutra loca diferente
Pra evitar futuras cenas
Também enterrava as penas
E limpava bem o ambiente
E ainda de madrugada
Sem encontrar empecilho
Fazia outra presepada
Indo a um roçado de milho
Sem cansaço e nem fadigas
Roubava algumas espigas
De forma ousada e ligeira
E antes de voltar pra choça
Passava em outra roça
E roubava macaxera
Quando chegava à toca
O vagabundo andarilho
Descascava a mandioca
E também ralava o milho
Quando o cuscuz cozinhava
A macaxeira já estava
Cozida, e bem molinha
Em meio a essa fartura
Ia buscar a mistura
Na outra loca, a galinha
Depois que enchia a barriga
Ia dormir sossegado
Porque quem rouba nem liga
Pois está acostumado
A comer sem trabalhar
E se acaso alguém reclamar
Dizendo que ele roubou
Fica o dito por não dito
Se não comprova o delito
Reclamar não adiantou
Assim viveu Zé Cambraia
Essa vida de indigente
Na miséria, na gandaia!!
Sem mulher, filho ou parente
Que lhe desse algum apoio
Excluído tal qual o joio
Que é separado do trigo
E essa vida amargurada
Passou sem arrumar nada
Nem sequer algum amigo
Carlos Aires 23/01/2010