MEU TETRAVÔ E A BOTIJA!!! (Causo)
MEU TETRAVÔ E A BOTIJA!!!
(Causo)
Era assim meu tetravô
No tempo de antigamente
O Avô de meu bisavô
Muquirana e incompetente
Que nunca fez usufruto
Nem mesmo qualquer desfruto
Esse velho fazendeiro
De tudo que trabalhava
Nem um só tostão gastava
Só para juntar dinheiro
Eram moedas de ouro
Maciço e bem reluzente
E todo esse tesouro
Desse meu velho parente
Pra não ficar ao relento
Esse sujeito avarento
Que a ninguém ajudava
Vendia suas boiadas
Depois saía e as caladas
Todo dinheiro enterrava
A mulher pedia um pouco
Do dinheiro pra gastar
Respondia eu não sou louco
Tenho que economizar
Você comigo se una
Pra aumentar a fortuna
Economize também
Pois quem não economiza
Quem sabe um dia precisa
E na hora que quer não tem
E assim nessa avareza
Não lhe soltava uma prata
O cardápio em sua mesa
Era cuscuz com batata
Às vezes uma coalhada
Feijão com rolinha assada
Que caçou com a baladeira
Porque carne não comprava
Nem para o açougue ele olhava
Se acaso fosse na feira
Nem mesmo uma criação
Daquelas do seu terreiro
Galinha, peru, capão
Ovelha, cabra, carneiro
Dali não comia nada
Nem sequer uma buchada
Uma vez a cada ano!!
Era feijão com pimenta
Uma farofa, ou polenta
Chega dava desengano
Seu sistema financeiro
Era todo cheio de falha
Para que juntar dinheiro
Se não tem bolso em mortalha
A frase é real e certa
Pra morte não tem oferta
Na hora em que chegar
E ela vem qualquer dia
E toda essa economia
Só vai fazê-lo penar
Pois ninguém é imortal
Veja o que aconteceu
Certo dia passou mal
“Bateu as botas” morreu
Tudo que juntou em vida
Sua luta foi perdida
Pois ele nada levou
Nem deixou pra sua gente
Filho mulher nem parente
Da fortuna se logrou
Depois que se deu a morte
Do fazendeiro citado
Assim do lado do norte
Da fazenda num cercado
Nuns lajedos esquisitos
Começaram ouvir uns gritos
E um gemido profundo
Pedindo paz e clemência
Mostrando toda aparência
Das coisas do outro mundo
O tempo foi se passando
Ali não mudava nada
O malassombro aumentando
E aquela alma penada
Com seus lamentos tristonhos
Um dia invadiu os sonhos
De João de Mané Dendê
E de forma muito rija
Disse tenho uma botija
Enterrada pra você
Perto da pedra do tanque
Lá na curva da estrada
Você vá lá e arranque
Numa noite enluarada
Bem no pezinho do rochedo
Mas se você for com medo
Poderá se atrapalhar
Leve cruz e água benta
Pois dizem que o diabo atenta
E assim não vai atentar
João fez tudo direitinho
Como manda o figurino
E o fazendeiro mesquinho
Assim mudou seu destino
Depois que dali saiu
Vendeu o ouro e investiu
Na poupança e se deu bem
Com essa pomposa herança
Vive numa vida mansa
Sem dever nada a ninguém
Por isso não vale a pena
Ser mesquinho e avarento
Ao próprio espírito condena
A vagar em sofrimento
E ficar perambulando
No purgatório penando
Enquanto seu corpo jaz
Numa fria sepultura
Fica sofrendo tortura
Até que encontre a paz
Carlos Aires 28/11/2009