AS AGRURAS DO DECADENTE PALETÓ!!! (causo)

AS AGRURAS DO DECADENTE PALETÓ!!!

(causo)

Pra mim que antigamente

Fui o símbolo da decência

Esqueceram-me de repente

Estou em plena decadência

E de maneira inconteste

Hoje alguém só me veste

Se for obrigadamente

E em momento adequado

Na câmara ou no senado

Ou na igreja de crente

Para quem simbolizava

O auge da burguesia

Em qualquer evento estava

Fosse de noite ou de dia

Dentro das repartições

Congressos reuniões

Junto a minha irmã gravata

Perdemos esses direitos

Sem status nem conceitos

Hoje excluídos da nata

Fui usado por Ministro,

Governador, Presidente

Porém de modo sinistro

Eu fui gradativamente

Trocado pela camisa

Pois já causava ojeriza

E um mal estar constante

E deixando de vir à tona

Sou tachado de cafona

Ao invés de elegante

Quando estou no gabinete

De um nobre deputado

Sou na poltrona um lembrete

Que o chefe está afastado

A cuidar de um compromisso

Deixando-me assim omisso

E alheio as reuniões

Onde fui indispensável

Hoje já sou descartável

E eu desconheço as razões

Mesmo pessoas modestas

Usavam-me em parques ou praças

Em saraus ou em serestas

Sem ter distinção de raças

E nem preconceito de cores

Prefeito, juiz, doutores

Ou o camponês arigó

Só se tornava notório

Se até mesmo num velório

Estivesse de paletó

Já que toquei no assunto

Funesto, porém fraterno

Até o pobre defunto

Tinha que está de terno

E com gravata e sapato

Com elegância e recato

Mesmo causando amargura

Era a estrela do evento

Até o dado momento

De baixar à sepultura

Em festa de casamento

Ostentava pompa e gala

Digno de um comportamento

Brioso em qualquer escala

Fosse casimira ou linho

Eu vestia com carinho

Qualquer cidadão honrado

Hoje amargo os desatinos

Feito em tecidos tão finos

E totalmente dispensado

Portanto já fui orgulho

E um marco em toda historia

Hoje sou um mero entulho

Mas no meu tempo de glória

Eu vesti garbosamente

Do prefeito ao presidente

Ou qualquer chefe de estado

Exibindo meus primores

Resta-me mostrar aos senhores

A que estou relegado

Em palanques denotei

Figuras de grande porte

Em palcos me apresentei

Dando sucesso e suporte

Aos artistas mais famosos

Dei momentos gloriosos

Em rádio ou televisão

Hoje reduzido a trapos

Transformaram meus farrapos

Em meros panos de chão

Carlos Aires 04/10/2009

Carlos Aires
Enviado por Carlos Aires em 04/10/2009
Reeditado em 30/09/2010
Código do texto: T1847138
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