EU VINDÍ MEU GIBÃO PRÁ NUM MORRÊ/ DE SODADE DA LIDA DO VAQUÊRO...
EU VINDÍ MEU GIBÃO PRÁ NUM MORRÊ/ DE SODADE DA LIDA DO VAQUÊRO...
Literatura de Cordel
Autor: Bob Motta
N A T A L – R N
2 0 0 9
Quando eu me mandei do Carirí,
foi demais, meu sofrê, querido irmão.
Meu cavalo chorô, cavando o chão,
quando dêle, eu fui me dispidí.
Da Maiáda de Roça ao Potengí,
eu chorei, in cumpreto disispêro.
Nuis meus sonho, da mata, eu sinto o chêro,
chóro feito criança, pode crê,
EU VINDÍ MEU GIBÃO, PRÁ NUM MORRÊ,
DE SODADE DA LIDA DO VAQUÊRO.
No currá assití o amanhincê,
tirei leite, curei bizerro macho,
me banhei nais cacimba duis riacho,
e rezei prá Jesus, no anoiticê.
Mode o gado, de fome, num morrê,
macambira, xique xique e fachêro,
eu queimei nais coivara e fiz acêro,
quando alembro, inda choro p’rá valê,
EU VINDÍ MEU GIBÃO PRÁ NUM MORRÊ,
DE SODADE DA LIDA DO VAQUÊRO.
Butei água in lombo de jumento,
perparei bãe de carrapaticida,
butei mata bichêra nais firida,
dei massage nuis bicho, cum ungüento.
Tirei mascra de tôro mandinguento,
amarrado num tronco de perêro.
Bibi água barrenta duis barrêro,
tô dizendo, de vera, prá você,
EU VINDÍ MEU GIBÃO PRÁ NUM MORRÊ,
DE SODADE DA LIDA DO VAQUÊRO.
Muntas vêiz, acordei de madrugada;
no céicado, a pé, no mata pasto,
mais o Véio Arcelino, seguí rasto,
dais nuvía parida, intocada.
Mais se ela tivesse inchucaiáda,
nóis achava, bem munto mais ligêro.
Nóis vortava e amuntava no terrêro,
p’ru currá, nóis tentava, ela, trazê,
EU VINDÍ MEU GIBÃO PRÁ NUM MORRÊ,
DE SODADE DA LIDA DO VAQUÊRO.
Mais meu pai, na Lagoa dais Ixtrema,
no currá de fazê apartação,
munto uví, da sariema, a canção,
p’ru si só, um belíssimo poema.
Minha lida do passado é o tema,
da sodade do matuto verdadêro.
Já dais cabra, a zuada no chiquêro,
me inchia de alegria e de prazê,
EU VINDÍ MEU GIBÃO PRÁ NUM MORRÊ,
DE SODADE DA LIDA DO VAQUÊRO.
Do gostôso passado qui se foi,
arrelembro, aqui, na minha glosa,
a toada linda e maraviósa,
duis cocão do véio carro de boi.
Prá pará, o carrêro gritava ôi,
na latada ô na sombra do imbuzêro.
Atendendo a orde do carrêro,
uis boi manso já vinha obedecê,
EU VINDÍ MEU GIBÃO PRÁ NUM MORRÊ,
DE SODADE DA LIDA DO VAQUÊRO.
Nessa istrofe, infatizo prá vocêis;
quando se ía p’ru mato o dia intêro,
o café era um armôço verdadêro,
se armuçava e jantava de uma vêiz.
Quage sempre o trabáio de uma rêis,
atrazava a vorta p’ru terrêro.
Do currá, a gente sintia o chêro,
da panela de sopa a fêivê,
EU VINDÍ MEU GIBÃO PRÁ NUM MORRÊ,
DE SODADE DA LIDA DO VAQUÊRO.
Adispôi da janta, tinha a prosa,
o raidíin ligado na canturia,
mode um peido, qui ais vêiz iscapulia,
ais risada era munto iscandalosa.
O oiá da cabôca mais fogosa,
quilariava do aipende inté o acêro.
Atraído puro seu andá brejêro,
num isperava, o cunvite, ela fazê,
EU VINDÍ MEU GIBÃO PRÁ NUM MORRÊ,
DE SODADE DA LIDA DO VAQUÊRO.
O jumento garanhão, lá na purtêra,
namorando a jega dento do currá,
a purtêra, êle tentava arrombá,
prá amuntá na sua cumpanhêra.
Cunsiguindo, já entrava de carrêra,
de tezão, êle entrava in disispêro.
E o bicho, qui num era sorratêro,
dava uma madêrada prá valê,
EU VINDÍ MEU GIBÃO PRÁ NUM MORRÊ,
DE SODADE DA LIDA DO VAQUÊRO.
Inda tenho no quintá de minha casa,
a gamela, o pilão e a bacia.
Um fugão qui eu fiz tôdíin, de aivenaria,
qui é à lenha, mais tombém cunzinha in brasa.
Essas coisa, de sodade, me arrasa,
do cuscuz, na cuscuzêra, sinto o chêro.
Se na chapa, faço pecado manêro,
como cum café quentíin, no anoiticê,
EU VINDÍ MEU GIBÃO PRÁ NUM MORRÊ,
DE SODADE DA LIDA DO VAQUÊRO...
Eu já dixe, inté mêrmo à minha amada,
cumo tenho sodade do passado.
Num isqueço a minha vida de gado,
lá no Luca, in Pocíin ô na Maiáda.
Lá no Monte, in noite inluarada,
o Zezíin de Bedon, bom sanfonêro,
infeitava a latada no terrêro,
lá do mato, uví o fole gemê,
EU VINDÍ MEU GIBÃO PRÁ NUM MORRÊ,
DE SODADE DA LIDA DO VAQUÊRO.
O meu pai fazia ais ritirada,
puro pé, de uma prá ôta fazenda,
a lembrança me traiz cumo incumenda,
uis putêro dais bêra de istrada.
Júlio Prêto tumava uma talagada,
discambava in procura de um lagêro,
e alí, munto mais do qui ligêro,
mais Luciana, dirmaiava de prazê,
EU VINDÍ MEU GIBÃO PRÁ NUM MORRÊ,
DE SODADE DA LIDA DO VAQUÊRO.
Autor: Roberto Coutinho da Motta
Pseudônimo Literário: Bob Motta
Da Academia de Trovas do RN.
Da União Bras. de Trovadores-UBT-RN.
Do Inst. Hist. e Geog. do RN.
Da Com. Norte-Riog. de Folclore.
Da União dos Cordelistas do RN-UNICODERN.
Da Associação dos Poetas Populares do RN-AEPP.
Do Inst. Hist. e Geog. do Cariry-PB.
E-mail: bobmottapoeta@yahoo.com.br
Site: WWW.bobmottapoeta.com.br
Buscar no Google: Bob Motta Poeta Matuto.