PEGA DE JUMENTO...- Cordel Matuto.

PEGA DE JUMENTO

Literatura de Cordel

Autor: Bob Motta

N A T A L – R N

2 0 0 9

Se môço, adonde eu vivi,

rescordo nêsse momento,

ais festa de apartação,

e o mais gostôso evento;

qui prá eu, sem maimelada,

bem mió qui a vaquejada,

era a pega de jumento.

Era uma fuzarca simples,

mais, gostosa de se vê.

Mió, de participá,

é êsse, o meu paricê.

Prá mim, é, amigo nobre,

a vaquejada do pobre,

no verso, amostro a você.

Era de tempos in tempo,

qui essas pega acunticia.

Se ajuntava a vaquêrama,

e todos se reunia;

nais caatinga, nais pastage,

prá pegá jegue séivage,

qui nuis céicado, vivia.

Se avisava nais fazenda,

cum grande antecipação.

Era quage um rituá,

a sua perparação.

In côro ô in pano, na raça,

dispôi de bebê cachaça,

era grande, a animação.

E quem num ia p’ru mato,

no burráio, num ficava.

Ia atráis do sanfonêro,

e o forró, já perparava.

E in tôda a redondêza,

a festa era uma beleza,

dispôi qui a turma vortava.

Lá p’ru mato, um ô dois,

ía mode perpará,

a bóia duis cumpanhêro,

mode mêi dia, armuçá.

Numa sombra quage iscura,

macássa cum rapadura,

farofa d’água e jabá.

Nisso, argúem, lá da mundiça,

grita lá na ribancêra:

Óia o jegue aí na frente!

Gritaria e istraladêra.

Jurema preta quebrando,

o jegue foge rinchando,

no meio da caatinguêra.

Ô moleza; grita um;

ôto arresponde: E agora ?

Vamo agora atráis do ôto,

já diz ôto, sem demora.

Dessa vêiz, ói a ispetêza,

vamo dexá de moleza,

mode o jegue num ir simbora.

Cumeça tudíin de nôvo;

e adispôi de imburacá,

no mato, um vaquêro grita:

Na grota do lado de lá!

Ispíi; ói lá, a nojenta;

dessa vêiz é uma jumenta;

num dêxa ela iscapá.

Recumeça a curriria,

e o peste do Bibira,

pega a jega puro rabo,

e dana na macambira.

Cum ela, rola no mato,

no maió ispaiafato,

cum a rôpa, só àis tira.

Se parava p’ru armôço,

na ligerêza d’um gato,

se tumava uma de cana,

e adispôi, raspava o prato;

dispôi, tudíin numa réca,

nem discanso, nem sonéca;

tudíin de vorta p’ru mato.

Bem pertíin do só se pô,

cum dois, trêis jegue amarrado,

vaquêrama in passeata,

de vorta p’ru povoado.

Inda longe, num era mole;

dava mode uví o fole,

o forró tava animado.

Na chegada, o pagamento;

uis patrão tudíin disposto,

dizia naquêle instante,

cum um surriso no rosto:

A festança tá bunita,

no balcão tem a birita,

e na mesa, o tira gôsto.

Pode cumê a vontade,

e tumá quantas quizé.

Vão in casa e vorte logo,

p’rá latada de seu Zé.

O forró no chão batido,

tá animado e divirtido,

friviando de muié.

Uis vaquêro bem dipressa,

surrindo p’rá todo lado,

curria logo p’rá casa,

vortava tudo arrumado.

Chêi de prefume, briantina,

p’rá cunquistá a minina,

mais linda do povoado.

E o forró no chão batido,

era tôdo animação,

na mais peifeita aimunia,

sem a menó cunfusão.

E a única demora,

era pará de hora in hora,

mode aguá o salão.

Aqui, aculá, um bêbo,

balançando a sua asa,

nem pisava mais no chão,

qui paricia de brasa.

E quando o peste arriava,

argúem providenciava,

mode dêxá êle in casa.

Seu môço, assim lhe amostrei,

o maraviôso evento,

minha Maiáda de Roça,

e o tão sardoso momento;

qui hoje arrelembro aqui;

meu São João do Carirí;

e ais PEGA DE JUMENTO...

Autor: Roberto Coutinho da Motta

Pseudônimo Literário: Bob Motta

Da Academia de Trovas do RN.

Da União Brás. de Trovadores-UBT-RN.

Do Inst. Hist. e Geog. do RN.

Da Com. Norte-Riog. de Folclore.

Da União dos Cordelistas do RN-UNICODERN.

Da Associação dos Poetas Populares do RN-AEPP.

Do Inst. Hist. e Geog. do Cariry-PB.

E-mail: bobmottapoeta@gmail.com

Site: WWW.bobmottapoeta.com.br

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Bob Motta
Enviado por Bob Motta em 19/09/2009
Código do texto: T1819938
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