Cupim na Viola
Creusa Meira e Damião
Meus mestres considerados
Ensinamentos passados
Que guardo no coração
Com cordel, não sem razão
A minha vida tempero
Sou um cordelista mero
Que não foge da bitola
Mas sou cupim na viola
Dos poetas nota zero
Poeta de faculdade
Sempre deixa a desejar
O seu culto linguajar
Não me traz felicidade
O poeta de verdade,
Feito no mato, é sincero
É esse que eu considero
Pois a vida foi sua escola
Eu sou cupim na viola
Dos poetas nota zero
Eu sou o verso perverso
Do versador mandingueiro
Sou cantador presepeiro
Que falo e não desconverso
Eu ando meio disperso
Mas quando chego acelero
Minha ideia plorifero
Faço o meu e passo a bola
Eu sou cupim na viola,
Dos poetas nota zero.
Eu sou a cadeia eterna
Pros ladrões dessa nação,
Para qualquer valentão
Eu sou rasteira na perna,
Sou criança que inferna
E velho não considero,
Motes eu não adultero
E pra quem faz, não dou bola
Eu sou cupim na viola
Dos poetas nota zero
Sou bolero de Altemar
Nas “noches” enamoradas
Mas sou estrofes formadas
Num cordeloso rimar
Sou o sertão, sou o mar
Sou a pressa mas espero
E as coisas que mais pondero
Não saem da minha cachola
Eu sou cupim na viola
Dos poetas notas zero
Eu sou a vaia do povo
Para o cantador sem graça
Poeta que se ultrapassa
Morre de medo do novo
Sendo assim, terror promovo
E a idéia plorifero;
Artista ruim eu só quero
Pra suspender pela gola
Eu sou cupim na viola
Dos poetas nota zero
Mote de Damião Metamorfose