NA TERRA QUE EU FUI NASCIDO!!!

NA TERRA QUE EU FUI NASCIDO!!!

Na terra que eu fui nascido

A música que se ouvia

Eram os pássaros cantando

A mais pura melodia

Enquanto eles cantavam

Seus belos sons ecoavam

Nos vales da serrania

A alvorada surgia

Trazendo o sol radiante

O orvalho reluzia

Como um tapete brilhante

Formava-se uma aquarela

De paisagem tão bela

Que momento alucinante

Acauã canta distante

Num galho seco da mata

Reclama da seca ingrata

Com seu lamento constante

Como se ouvindo seu grito

Deus pai lá do infinito

Mandasse chuva abundante

É muito gratificante

Se acordar de madrugada

Ouvindo o som elegante

Daquela flauta afinada

Saindo lá da garganta

De um sabiá quando canta

A sua doce toada

Pisar na terra molhada

Que alegra o sertanejo

Comer cuscuz com coalhada

Leite requeijão e queijo

Feijão com maxixe e nata

Pé-de-moleque e batata

Até matar o desejo

São nessas coisas que eu vejo

Do sertanejo o seu dote

É forte e não dá molejo

Bebendo água do pote

Apanhada no barreiro

Sem ter de cloro nem cheiro

Vem com martelo e caçote

A jararaca arma o bote

No tronco da umburana

O preá da um pinote

Com medo da caninana

O tatu cava um buraco

A guiné diz que tá fraco

E o bezerro novo mama

Um sertanejo reclama

Da prolongada estiagem

E logo ele se programa

Para uma longa viagem

Abandonando o nordeste

E com destino ao sudeste

Já vai comprar a passagem

Leva com fé a imagem

De Padre Cícero Romão

Coloca em sua bagagem

Junto à de Frei Damião

E como um bom nordestino

Vai seguindo o seu destino

E pedindo a Deus proteção

Saudade no coração

Também vai lhe acompanhando

E é com muita emoção

Que ele diz até quando

Vou viver essa agonia

E já pensa na alegria

Do dia que está voltando

E logo vai abraçando

A sua mamãe querida

Que em pranto está se banhando

No momento da partida

Se desmanchando em saudade

Deseja felicidade

Todos os dias da vida

E na hora da partida

Abraça seu pai amado

Que lhe diz na despedida

Meu filho tenha cuidado

Mantenha limpo seu nome

E mesmo que passe fome

Não queira nada roubado

E assim emocionado

Ele entra no transporte

Seu peito está machucado

Mais seu coração é forte

E mesmo sem lhe dar tréguas

Vai misturando entre as léguas

Muitas saudades do norte

Vai lançando sua sorte

Na poeira da estrada

Ficando a terra do norte

Cada vez mais afastada

Observando a paisagem

Leva a cara e a coragem

A fé em Deus e mais nada

Com três dias de estrada

Vai chegando ao seu destino

Lá não representa nada

É só mais um nordestino

Que a seca e a terra quente

Transformou-lhe de repente

Em retirante e peregrino

E assim nesse desatino

Desembarca em terra estranha

E a proteção do Divino

A todo instante ele ganha

Corajoso e destemido

Um sertanejo sofrido

Capaz de qualquer façanha

Não é dotado de manha

Pois é um cabra da peste

Não pergunta quanto ganha

Nem precisa fazer teste

Enfrenta qualquer pesado

Até juntar um trocado

Para voltar pra o nordeste

E no trabalho ele investe

Como um soldado na guerra

Só quer sair do sudeste

E voltar pra sua terra

Lutar na roça de novo

Viver junto com seu povo

Feliz no seu Pé-de-Serra

Carlos Aires

São Paulo 06/10/2006

Carlos Aires
Enviado por Carlos Aires em 15/08/2009
Código do texto: T1755020
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.