CENÁRIO DO SERTÃO!!!

CENÁRIO DO SERTÃO!!!

Marmeleiro velame e catingueira

Baraúna angico e juazeiro

Terra seca rachada e capoeira

Fome e sede causando desespero

A carcaça de um boi no tabuleiro

Que a sede matou sem compaixão

Sertanejo pedindo proteção

A o santo diante da imagem

Tudo isso faz parte da paisagem

Que compõe o cenário do sertão

Muita fé sem perder a esperança

Sempre a Deus agradece quando come

Não reclama se está passando fome

E de Deus nunca perde a confiança

De rezar e pedir nunca se cansa

Lá do céu a Divina proteção

Implorando a o bom frei Damião

Que ao Divino transmita a mensagem

Tudo isso faz parte da paisagem

Que compõe o cenário do sertão

É um jumento que passa encangalhado

Transportando um par de ancoretas

Um rapaz de chapéu e botas pretas

Vai tangendo ou às vezes vai montado

Lá no pé da porteira berra o gado

Reclamando do dono por ração

E ele reza pedindo proteção

Pra que chova e que brote a pastagem

Tudo isso faz parte da paisagem

Que compõe o cenário do sertão

É um galo cantando no poleiro

E se chove parece que estou vendo

Mata-pasto que mato fuxiqueiro

Quando o dia amanhece está nascendo

Cachoeira na serra está gemendo

Se ouve o sapo a cantar sua canção

Na lagoa se escuta o carão

Bacurau saltitando na rodagem

Tudo isso faz parte da paisagem

Que compõe o cenário do sertão

Garrancheiros cantando em dueto

Construindo seu ninho no pé de angico

Pica-pau na madeira amola o bico

Grita forte o cancão e o pássaro preto

Quem escuta de longe esse soneto

De tão pura e tão bela afinação

Pensa até que o autor da criação

Quer mandar pelos pássaros a mensagem

Tudo isso faz parte da paisagem

Que compõe o cenário do sertão

O matuto contente vai pra roça

Transportando a enxada e o arado

O sol nasce ele chega no roçado

O sol posto ele volta pra palhoça

Se lá fora ele escuta a chuva grossa

No terreiro cair molhando o chão

Agradece e pra o céu levanta a mão

Dorme, e cedo levanta com coragem

Tudo isso faz parte da paisagem

Que compõe o cenário do sertão

A morena suspira apaixonada

Escutando o aboio do vaqueiro

A fumaça que sai do candeeiro

A poeira que sobe na estrada

Um cachorro latindo com a boiada

A galinha se esconde num galpão

Com os pintos porque o gavião

Não penetra naquela hospedagem

Tudo isso faz parte da paisagem

Que compõe o cenário do sertão

Um moinho de pedras no terreiro

As mulheres cantando moem o milho

As enxadas batidas em um trilho

As galinhas chocando no chiqueiro

Caminhão carregado com romeiros

Cada um vai com fé no coração

E movidos com a força da oração

Faz que nada aconteça na viagem

Tudo isso faz parte da paisagem

Que compõe o cenário do sertão

Andorinhas que fazem a ciranda

Revoando na tarde que faz sol

Saltitante o alegre rouxinol

Faz seu ninho nas frechas da varanda

Pra o curral da fazenda o gado anda

Sem ter pressa naquela lentidão

Que de longe parece procissão

Sem andor sem ter santo ou imagem

Tudo isso faz parte da paisagem

Que compõe o cenário do sertão

Urubus se amontoam devorando

Uma rês que morreu de fome e sede

A imagem de um santo na parede

Uma vela bem perto iluminando

Sertanejo pergunta até quando

Vai sofrer com tamanha sequidão

E no meio de tanta aflição

Ver a chuva num sonho é só miragem

Tudo isso faz parte da paisagem

Que compõe o cenário do sertão

De repente uma nuvem escurece

E no véu do horizonte faz cortina

Se começa cair uma neblina

Logo olha pra o céu e agradece

Vai pra frente do santo faz a prece

E entre lagrimas ele faz uma oração

É com fé e com tanta devoção

Que até chove e se acaba a estiagem

Tudo isso faz parte da paisagem

Que compõe o cenário do sertão

E quem lá do sertão saiu um dia

Pra outras terras buscar felicidade

Quando passa algum tempo na cidade

Diz eu era feliz e não sabia

Se incomoda com tanta correria

E se irrita com os gritos do patrão

A saudade lhe aperta o coração

E de volta já compra uma passagem

Tudo isso faz parte da paisagem

Que compõe o cenário do sertão

CARLOS AIRES 11/08/2009

Carlos Aires
Enviado por Carlos Aires em 11/08/2009
Reeditado em 22/01/2011
Código do texto: T1748407
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