SOU A COBRA CASCAVEL
Sou esporão no teu pé
Impigem na tua cara
Sou revólver que dispara
No toitiço do mané
Sou a fome da ralé
Sou do teu bem a penhora
Sou o teu fiho que chora
Sem ter nada pra comer
Sou relho para bater
No teu lombo toda hora
Monóxido de carbono
Entupindo o teu pulmão
Sou a mãe sem coração
No ato do abandono
Sou folha seca do outono
Sou a fome que implora
Sogra perseguindo nora
Tua ferida a doer
Sou relho para bater
No teu lombo toda hora
Sou a cárie do teu dente
A dor no teu pé do ouvido
A conversa sem sentido
De um vizinho demente
Sou ódio de excludente
Que ataca sem demora
E telefonei agora
Pra polícia te prender
Sou relho para bater
No teu lombo a toda hora
Sou a cobra cascavel
Atrás do teu mocotó
Sou pai ruim e sem dó
A ira de um coronel
Sou o amargor do fel
Sou na tua costa espora
Sou palavra que deplora
Se tu vires contender
Sou relho para bater
No teu lombo a toda hora
Mote: Luciene Soares
Glosa: Sander Lee