PRA QUEM NASCEU SERTANEJO / JAMAIS ESQUECE O SERTÃO!!!
PRA QUEM NASCEU SERTANEJO
JAMAIS ESQUECE O SERTÃO!!!
Quem é que esquece a beleza
De avistar o sol se pondo
Vermelho grande e redondo
Mostrando toda grandeza
Das obras da natureza
E do autor da criação
É com grande devoção
Que ao contemplar tudo vejo
Pra quem nasceu sertanejo
Jamais esquece o sertão
Ouve a burguesa arrulhando
Na moita de quixabeira
A asa branca fagueira
Num vôo rasante passando
Já estão se agasalhando
Nambu, juruti, cancão
Acauã e o gavião
Pararam seu revoejo
Pra quem nasceu sertanejo
Jamais esquece o sertão
Uma coruja agourenta
Solta seu grito na gruta
Morcego em busca de fruta
Da qual ele se alimenta
Uma cortina cinzenta
Vai acabando o clarão
O véu da escuridão
Do sol apaga o lampejo
Pra quem nasceu sertanejo
Jamais esquece o sertão
O uruçu prevenido
Depois que para o serviço
Tampa a boca do cortiço
Pra ficar mais protegido
Para um inseto atrevido
Não fazer-lhe uma invasão
Ou um formigueiro vilão
Não lhe visite em cortejo
Pra quem nasceu sertanejo
Jamais esquece o sertão
O pássaro fura-barreira
Está cantando numa estaca
Também pariu uma vaca
Encostada a ribanceira
E bem no pé da ladeira
Relinchando um garanhão
Procurando a solução
Para matar seu desejo
Pra quem nasceu sertanejo
Jamais esquece o sertão
Quando a noite está nublada
Exibindo seu negrume
Só se ver o vaga-lume
Piscando pela baixada
Estando a terra molhada
O camponês cava o chão
Faz a sua plantação
Contemplando o relampejo
Pra quem nasceu sertanejo
Jamais esquece o sertão
O trovão está ribombando
Com seu estrondo bravio
Também a água do rio
Cada momento aumentando
O povo está aguardando
Fartura na região
Para que no São João
Se faça muito festejo
Pra quem nasceu sertanejo
Jamais esquece o sertão
À noite com a lanterna
Procura ajeitar a bica
Do jeito melhor que fica
Para que encha a cisterna
Pois nessa era moderna
Houve uma evolução
E a modernização
Tem efeito benfazejo
Pra quem nasceu sertanejo
Jamais esquece o sertão
Uma perua se aninha
No tronco do pé de jaca
A guiné diz que tá fraca
No terreiro da conzinha
Embaixo do pé de pinha
Um porco fuçando o chão
Ouve-se lá no galpão
Da galinha o cacarejo
Pra quem nasceu sertanejo
Jamais esquece o sertão
Se acordam nas manhãzinhas
Sem ter nenhum aparato
Amarra as cabras no mato
Jogam milho pras galinhas
Aquelas poedeirinhas
Vão pro paiol de feijão
Cumpre sua obrigação
Botam ovos sem molejo
Pra quem nasceu sertanejo
Jamais esquece o sertão
O galo arrastando a asa
Logo ao descer do poleiro
Ou quando sai do chiqueiro
Que fica por trás de casa
A mulher não se atrasa
Logo apronta a refeição
É de lenha o seu fogão
Onde faz todo manejo
Pra quem nasceu sertanejo
Jamais esquece o sertão
Um touro amolando as pontas
Na barreira do riacho
Procurando outro macho
Pra com ele acertar contas
As vacas até ficam tontas
Analisando a questão
Vendo tanta animação
Admiram esse vicejo
Pra quem nasceu sertanejo
Jamais esquece o sertão
O carneiro está atento
Cuidando do seu rebanho
E tudo que acha estranho
Observa o movimento
Se um bode fedorento
Chegar por lá fanfarrão
Querendo ser o machão
Ele cala seu bodejo
Pra quem nasceu sertanejo
Jamais esquece o sertão
O gado vai pra cocheira
Se amparar da chuva grossa
O matuto vai pra roça
De mandioca ou macaxeira
Arrancar logo à primeira
Já se tornou tradição
Usando um carro de mão
Chega em casa faz despejo
Pra quem nasceu sertanejo
Jamais esquece o sertão
Eu criei-me desse jeito
Nas entranhas do agreste
Tenho orgulho do Nordeste
E aqui vivo satisfeito
E dentro do velho peito
Bate forte o coração
Não vivo no meu torrão
Voltar pra lá eu almejo
Pra quem nasceu sertanejo
Jamais esquece o sertão
A saudade ainda maltrata
Esse matuto tristonho
Que não concluiu seu sonho
Por causa da seca ingrata
Eu quero ouvir a cascata
Soando no ribeirão
Sentir aquela emoção
De morar num lugarejo
Pra quem nasceu sertanejo
Jamais esquece o sertão
Carlos Aires 07/ 06/2009