O PAPÉ DA RAPARIGA...
O PAPÉ DA RAPARIGA
Literatura de Cordel
Autor: Bob Motta
N A T A L – R N
2 0 0 9
O amigo Dotô Cordêro,
dixe: Bob, cumpanhêro;
me istendendo a mão amiga.
Quero qui iscreva um poema,
e aqui, vô lhe dá o tema;
o papé da rapariga.
Sintonizei minha mente,
nela, prantei a simente,
do tema solicitado;
e dêsse tema porrêta,
findei fazendo a cuiêta,
de verso, p’ro magistrado.
Dotô, eu vô lhe dizê,
nuis meus verso, a vóirmicê,
cum tôda sinceridade;
qui rapariga, meu irmão,
é a mais véia profissão,
da históra da humanidade.
É um istudo profundo,
feito no início do mundo,
quando nóis nem ixistia;
bem antes de Roma Antiga,
o papé da rapariga,
todo mundo já sabia.
Trepá de noite e de dia,
era sua séivintía,
falá a verdade é preciso.
Trepando da quarta à têrça,
c’áis duas mão na cabeça,
mode num perdê o juízo.
O tempo foi se passando,
e o côipo dela virando,
uma simpres méicaduria;
a quaiqué um qui pagasse,
mêrmo qui ela num gostasse,
se intregava cum alegria.
Inté mêrmo hoje in dia,
se tem a mêrma mania,
mode tirá cuncrusão;
rapariga é coisa boa,
qui eu chamo, na minha lôa,
vendedôra de inlusão.
Êsse tipo de muié,
tombém é, no seu papé,
psicóga e cumpanhêra;
nuis moté da buiguizía,
ô quinta catiguria,
iscutando babosêra.
De côrno disconsolado,
qui num dá mais o recado,
qui cum ela vai se quêxá;
qui tem uma vontade lôca,
de uví da sua bôca,
qui inda é macho prá lascá.
Mais tem vêiz qui a rapariga,
vira do criente, amiga,
faiz tão bem o papé dela;
qui ali mêrmo, na gandáia,
o sujeito se abêstáia,
e se apaixona purela.
E quando é ao cuntráro,
ali, no mêrmo cenáro,
o erotirmo vem à tona;
o cabra, amante travêsso,
rivira ela puro avêsso,
e aí ela se apaixona.
Ciúme de rapariga ?
Danô-se, deu a bixiga;
é iscandêlo, grito e murro.
Puxavante de cabelo,
é o maió dirmantêlo,
verdadêro "cú de burro" *.
Leste a oeste, norte a sul,
ela vende o côipo nu,
posso inté fazê aposta;
qui num é só prá se vendê;
ela trepa pru prazê,
ela trepa pruquê gosta.
Quando adispôi qui inicia,
sua vida na putaria,
qui seu pudô leva a bréca;
nem à cêica se cumpara,
pois ela leva mais vara,
qui chiquêro de marréca.
Faiz feio ficá bunito,
lhe oferecendo o priquito,
dizendo qui êle é demais;
faiz o gordo irmagricê,
muribundo invivicê,
faiz véio virá rapaiz.
Do hôme, faiz o qui qué,
mostra a fôrça da muié,
e o pudê do seu tezão;
é mutivo de quêxume,
faiz véia sintí ciúme,
do seu véio sessentão.
Ôto papé importante,
eu lhe amostro nêsse instante,
numa quenga cumpetente;
juro nuis verso qui faço;
é fazê vêiz de paiáço,
alegrando o ambiente.
É sê, na sua manêra,
namorada, cumpanhêra,
sem cunvenção nem pudô;
fazê tôda istripulia,
qui o cabra tenha a alegria,
e a inlusão qui é amô.
É dá sua opinião,
p’ru criente no salão,
onde a gandáia se ispicha;
é pidí, dirmilinguida,
sua musga preferida,
na radiola de ficha.
É pidí licô de menta,
quando aiguém se apresenta,
lhe cunvidando prá mêsa;
é se imbunecá tôdinha,
paricendo uma rainha,
amostrando sua beleza.
Seu côipo é méicaduria,
de incontestáve valia,
prá quem tá triste e sózíin;
séive de porto siguro,
no quiláro ô no iscuro,
é acunchegante níin.
Tem seu papé de guerrêra,
lutadora, cumpanhêra,
e bem antes qui eu me acanhe;
acredite e faça fé,
qui essa incríve muié,
inda faiz papé de mãe.
Mais seu papé principá,
é, além de aliviá,
quem tivê cum o peito infêrmo;
lhe juro nuis versos meus,
amá sobre tudo a Deus,
e ao próximo cumo a si mêrmo...
* Ver em E-Livros PRESERVANDO O MATUTÊS-LETRAS DA UNIVERSIDADE DO ROÇADO - Dicionário de Nomes e Expressões Idiomáticas Matutas 2a. Edição com 5.169 verbetes na pronúncia do matuto nordestino.
Autor: Roberto Coutinho da Motta
Pseudônimo Literário: Bob Motta
Da Acad. de Trovas do RN
Da Um. Brás. de Trovadores-UBT-RN
Do Instituto Hist. e Geog. do RN
Da Com. Norte-Riog. de Folclore
Da Um. dos Cord. do RN-UNICODERN
Da Ass. dos Poetas Populares do RN
Do Inst. Hist. e Geog. do Cariry-PB
E-mail: bobmottapoeta@yahoo.com.br
Site: WWW.bobmottapoeta.com.br
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