QUANDO EU IA ELA VOLTAVA /QUANDO EU VOLTAVA ELA IA (CARLOS AIRES & ELIZEU DE LIMA)
QUANDO EU IA ELA VOLTAVA
QUANDO EU VOLTAVA ELA IA
(Carlos Aires & Elizeu de lima)
( C )
Meu caro Elizeu de Lima
Vamos mudar nosso canto
Assim vai dar mais encanto
E a platéia se anima
Sai procurando a rima
Mas foi grande a arrelia
A rima de mim fugia
E eu nunca a encontrava
Quando eu ia, ela voltava
Quando eu voltava, ela ia.
( E )
Mestre Carlos, que grandeza
Há nesse seu versejado;
É como um jardim ornado
Com a mais rara beleza!
Eu quis ter sua destreza
E imitar sua poesia,
Mas me faltava harmonia
Toda vez que eu cantava...
Quando eu ia, ela voltava
Quando eu voltava, ela ia!!
( C )
Na manhã ensolarada
Nas entranhas do sertão
Montei no meu alazão
E saí tangendo a boiada
Numa curva da estrada
Começou a correria
Uma novilha fugia
Pela capoeira brava
Quando eu ia, ela voltava
Quando eu voltava, ela ia.
( E )
Tava no rio, pescando
Na sombra, todo contente,
Quando a linha, de repente,
Foi logo se esticando
E uma traíra brigando
Com tamanha valentia;
Meu corpo todo tremia
E a bicha não se entregava...
Quando eu ia, ela voltava
Quando eu voltava, ela ia!!
( C )
No açude de seu Rafa
Fui mais a mulher pescar
Depois de nos preparar
Pegamos rede e tarrafa
Começou logo a estafa
No inicio da pescaria
De um lado a rede eu abria
Do outro ela enrolava
Quando eu ia, ela voltava
Quando eu voltava, ela ia.
( E )
Foi lá no forró de Lena,
Lá pras bandas de Vitória,
Que aconteceu essa história,
Imagine só a cena...
Fui dançar com uma morena
De pele escorregadia;
A moça se escapulia
Toda vez que eu lhe agarrava...
Quando eu ia, ela voltava
Quando eu voltava, ela ia
( C )
Fui buscar uma parteira
Pra uma parturiente
E tinha que ser urgente
Então sai na carreira
Fui abrir uma porteira
Que na estrada existia
Puxando ela não abria
Empurrando não fechava
Quando eu ia, ela voltava
Quando eu voltava, ela ia.
( E )
Eu inventei de marcar
Um encontro com Joana
Na pequenina choupana
Que fiz de frente pro mar;
Mas chegando no lugar,
Procurava e não lhe via...
Joana também corria
E a gente não se encontrava...
Quando eu ia, ela voltava
Quando eu voltava, ela ia!!
( C )
Fui trabalhar no roçado
Levei cabaça e enxada
Uma faca bem afiada
E um bife mal passado
Eu já estava esfomeado
Bem perto do meio dia
A carne era dura e fria
Meu dente não segurava
Quando eu ia, ela voltava
Quando eu voltava, ela ia.
( E )
Fui assentar uma porta
Lá na casa de Don’ana...
Levei quase uma semana,
Mas o tempo não importa!
O fato é que de tão torta
A porta não se abria!
E se se abrisse num dia
No outro não se fechava...
Quando eu ia, ela voltava
Quando eu voltava, ela ia!!
( C )
Peguei minha soca-soca
Pra fazer uma caçada
No final da madrugada
Lá nas terras de Seu Joca
Entrei dentro de uma loca
Perseguindo uma cotia
Ela só se defendia
Enquanto eu só atacava
Quando eu ia, ela voltava
Quando eu voltava, ela ia.
( E )
Dormi num sono profundo
E sonhei com uma princesa
De uma raríssima beleza
Que me levou pro seu mundo
Eu senti, por um segundo,
Sua boca morna e macia
Quando acordei, já não via
A musa que me beijava...
Quando eu ia, ela voltava
Quando eu voltava, ela ia!!
( C )
Zé Mané filho de Tota
Saiu mais Zefa de Rita
Pra tomar uma birita
Na bodega de Seu Mota
Quase saiam da rota
Não deu certo a parceria
Beber Zefa não queria
Zé a força lhe obrigava
Quando um ia outro voltava
Quando um voltava o outro ia
( E )
Eu me recordo uma vez...
Na vaquejada em Carpina
Montando a égua Porcina,
Do cumpadre Zé Galdês,
Fui derrubar uma rês
Que mais veloz não se via
Corri quase todo o dia
E a infeliz não parava...
Quando eu ia, ela voltava
Quando eu voltava ela ia!!
( C )
Fui olhar o carnaval
Mas voltei apavorado
Um sujeito mascarado
Estava passando mal
Parecia um animal
Estrebuchava e gemia
Ajudá-lo eu bem queria
Mas ele não se aquietava
Quando eu ia ele voltava
Quando eu voltava ele ia.
( E )
Fui tocar num festival
Na cidade de Vertente
Tava cantando um repente
Corria tudo normal
Quando a viola deu pau
E eu errei a cantoria
Quanto mais eu lhe batia
Mais ela desafinava...
Quando eu ia, ela voltava
Quando eu voltava, ela ia!!
( C )
Fui de manhã pro curral
Pra tirar leite da vaca
Logo senti uma inhaca
Que vinha de um lamaçal
Avistei um animal
Achei que não conhecia
Pra perto dele eu corria
Porem não acompanhava
Quando eu ia ele voltava
Quando eu voltava ele ia.
( E )
Certa vez fui no pomar
Do compadre Zé Pitanga,
Me atrepei num pé de manga,
Vendo a hora eu despencar...
Eu me pus a me esticar
Numa estranha acrobacia,
Mas a manga escapulia
Sempre que o vento soprava...
Quando eu ia, ela voltava
Quando eu voltava, ela ia!!
Carlos Aires 27/02/2009