NOS DEZ DE QUEIXO CAÍDO (CARLOS AIRES X ELIZEU DE LIMA)

NOS DEZ DE QUEIXO CAÍDO

(CARLOS AIRES X ELIZEU DE LIMA)

( C )

Você que é bom cantador

Meu caro Elizeu de Lima

Logo vai entrar no clima

Pois conheço o seu valor

Como um bom pesquisador

Sei que está esclarecido

Sendo um poeta vivido

Espero que não proteste

Vamos cantar o Nordeste

Nos Dez de Queixo Caído!

( E )

Mestre Carlos, sou apenas

Um aprendiz de poeta!

A minha rima tão discreta

É composta a duras penas,

Elas são muito pequenas,

Não passam de um ruído!

Entrei aqui de enxerido

E fiquei por ser teimoso!

Já você, é grandioso

Nos Dez de Queixo Caído!

( C )

Eu admiro o vaqueiro

Correndo atrás de um boiato

Se embrenha dentro do mato

No seu cavalo ligeiro

Da jurema e do facheiro

Só se escuta o estalido

Mas é homem destemido

Já chega por outro lado

Trazendo o boi amarrado

Nos Dez de Queixo Caído!

( E )

O vaqueiro quando acorda

Toma logo um café quente,

Depois senta no batente,

Calça a bota e pega a corda;

Olha os perus de engorda

Pelo terreiro varrido...

Chama o alazão querido

Com um sereno assobio,

Monta o bicho e sai a mil

Nos Dez de Queixo Caído!

( C)

Esse herói nordestino

Conduz a sua boiada

Pro curral de madrugada

Com o aboio matutino

Que leva o gado ao destino

Que foi por ele escolhido

Depois de haver prendido

Vai desleitar a vacada

A primeira é a malhada

Nos Dez de Queixo Caído!

( E )

Quando uma rês adoece,

Ele adoece também!

Pega o bicho, trata bem

E até reza uma prece!

Se acaso o gado falece

Ele fica comovido,

Faz um aboio sentido

E chora com emoção

Diz: eu perdi um irmão!

Nos Dez de Queixo Caído!

( C )

No sertão de antigamente

Tinha festança animada

Cantoria e vaquejada

Ainda hoje estão presente

Mesmo estando diferente

Na terra que eu fui nascido

Quando já estava crescido

Ia pra Terço e Novena

Já não tem, mais é uma pena

Nos Dez de Queixo Caído!

( E )

Fui a muita cantoria

Nas cidades do agreste,

Ouvir os “cabra da peste”

Versejar com maestria!

Graças a Deus, hoje em dia

Ainda pode ser ouvido

Um repente bem medido

Pelos poetas locais

Nas feiras e festivais

Nos Dez de Queixo Caído!

( C )

As madrugadas festivas

Os passarinhos contentes

Com gorjeios excelentes

Deixam as manhãs ativas

Sabiás e patativas

Juriti dá seu gemido

O tatu fica escondido

No fundo da sua toca

O morcego volta pra loca

Nos Dez de Queixo Caído!

( E )

O lambú pia no mato,

A jia dá um pinote,

A cobra prepara o bote

E depois agarra um rato!

O gavião voa a jato

Atrás dum pinto perdido!

O teju fica ferido

Mas não abre pra serpente

Pense num bicho valente

Nos Dez de Queixo Caído!

( C )

E bem por trás da cocheira

Um pé de mandacaru

Um cortiço de uruçu

Pendurado na biqueira

Se alguém abrisse a porteira

Já se escutava o rangido

Quando se estava entretido

Tomava um susto danado

De tudo eu estou lembrado

Nos Dez de Queixo Caído!

( E )

As flores de um jambeiro

Alimentando as saúvas!

O cheiro da água das chuvas

Perfumando o terreiro!

Num galho do abacateiro

Pousa um pássaro colorido

Que canta com alarido

Exaltando a natureza

E toda a sua grandeza

Nos Dez de Queixo Caído!

( C )

Acauã canta tristonha

Na cabeceira da mata

Já não tem água a cascata

Com a seca tão medonha

Mas o sertanejo sonha

Com o Sertão verde e florido

Vendo o gado emagrecido

Sem ter água e nem ração

Só tem preocupação

Nos Dez de Queixo Caído!

( E )

O sertanejo é valente!

Sente a fome nas entranhas

Mas se, encima das montanhas,

Vê que o céu tá diferente!

Logo ri, todo contente

E agradece ao Pai Querido

Por ter enfim atendido

As preces que ele lhe fez

De mandar chuva outra vez

Nos Dez de Queixo Caído!

( C )

A ovelha amamenta a cria

Debaixo do arvoredo

Lagartixa no rochedo

Mora e ali procria

Um cachorro que dormia

Se acorda dando gemido

Por está sendo mordido

É a pulga lhe incomodando

Com o pé fica se coçando

Nos Dez de Queixo Caído!

( E )

A galinha se acocora

Pra poder botar o ovo!

O jumento avisa o povo

O tempo, de hora em hora!

E o papagaio decora

Cada nome e apelido...

O porco solta o grunhido

Pra dizer que tá com fome,

Só sossega quando come

Nos Dez de Queixo Caído!

( C )

Nos alpendres e biqueiras

Maribondos fazem casas

Os galos batendo as asas

E cantando nas cumeeiras

Logo nas chuvas primeiras

Se ver o Sertão florido

O chão fica enverdecido

E o sertanejo animado

Para plantar seu roçado

Nos Dez de Queixo Caído!

( E )

A gente fica animada

Quando é tempo de fartura!

Pega a mandioca e tritura,

E depois de escoada

Faz-se aquela farinhada...

Mesmo sendo bem corrido

O trabalho é divertido!

E a farinha, no final

Se come é morna com sal

Nos Dez de Queixo Caído!

( C )

Queijo coalho e requeijão

Carne de bode na brasa

O café torrado em casa

E bem pilado no pilão

Fazendo um bolo com a mão

Come o seu feijão cosido

Para ficar bem ardido

Coloca muita pimenta

O sertanejo se alimenta

Nos dez de Queixo caído

( E )

Tem mel de italiana,

Tem manteiga de garrafa,

Peixe pescado em tarrafa,

E um bom doce de banana;

Tem caju e cajarana,

E também frango cozido...

Esse é o banquete sortido

Quando o sertão tem fartura

Ninguém come sem mistura

Nos Dez de Queixo caído!!

Carlos Aires 30/01/2009