GALOPE A BEIRA MAR (CARLOS AIRES X ELIZEU DE LIMA)

GALOPE A BEIRA MAR

FALANDO DO NORDESTE

(CARLOS AIRES X ELIZEU DE LIMA)

( C )

Meu caro Elizeu vate de nobreza

Vamos novamente mudar o estilo

Você é poeta seguro e tranqüilo

E nosso poetar está uma beleza

Estou lhe pedindo, mas tenho certeza

Que o meu pedido vai logo acatar

Pra no mesmo assunto nós continuar

Para que não fique muito cansativo

Sei que nosso público vai dá incentivo

Nos dez de galope na beira do mar

( E )

Carlos Aires, poeta de dom criativo,

Que canta e encanta onde se apresenta,

Minha fama se apaga e a sua aumenta

Pois és cantador bastante expressivo!

Só faz verso rico, de paz e festivo!

Por nenhum motivo eu iria negar

Um convite seu para galopar

Veloz como um raio, leve feito vento,

Montado nas asas do trem pensamento

Nos dez de galope na beira do mar!!

( C )

Meu caro poeta eu nesse momento

Quero agradecer sua gentileza

Seu verso tem ética detalhe e riqueza

Sua verve é fértil, lhe dando sustento

Vasta poesia e infindo talento

E muita exigência no metrificar

Mas se é do Nordeste que vamos falar

Vamos citar praias vales e montanhas

Mitos e costumes e suas façanhas

Nos dez de galope na beira do mar

( E )

Falar dos cajus e falar das castanhas,

Falar do engenho, do açúcar e do mel;

Falar do repente e falar do cordel,

Falar dos poetas e das suas manhas

De coisas sabidas à coisas estranhas;

Falar do erudito e do popular,

Falar das belezas de cada lugar,

Falar do seu clima, cultura e gente...

Falar do Nordeste me deixa contente

Nos dez do galope na beira do mar!

( C )

Falar desse clima tão seco e tão quente

Das nossas raízes nossos ancestrais

Falar das cidades e zonas rurais

E falar de tudo que nos vem na mente

Da simplicidade e do povo contente

De braços abertos pra nos aceitar

Que fazem por onde só nos agradar

Com muito bom gosto e hospitalidade

Seja lá na roça ou em qualquer cidade

Nos dez de galope na beira do mar!

( E )

O orgulho, a esperança e a boa vontade

São os atributos de nós, nordestinos!

Trazemos conosco já desde meninos

O dom do afeto e da amizade!

Nós primamos sempre pela caridade,

Pra nós é uma honra poder ajudar!

Com a seca ferina a nos castigar

Somos todos vítimas da flagelação,

Por isso é preciso amparar o irmão

Nos dez de galope na beira do mar!

( C )

Quem é sertanejo e conhece o Sertão

Foi vitima da seca malvada e cruel

Fica satisfeito ao narrar em cordel

Tudo que se passa nessa região

Porque qualquer filho daquele torrão

Se vendo obrigado ir pra outro lugar

Estando distante só pensa em voltar

Para o aconchego do seu Pé-de-Serra

Viver novamente lá na sua terra

Nos dez de galope na beira do mar!

( E )

No fundo do vale, um cabrito que berra,

No alto da serra, um pé de angico,

Na ponta do galho pousa um tico-tico;

Um tatu que cava um buraco e se enterra,

Um carro de boi já velho que emperra,

Um bezerro novo querendo mamar...

É o filme matuto, belo de se olhar

Que passa ao vivo diante da janela

Da minha casinha de taipa amarela...

Nos dez de galope na beira do mar!

( C )

E esse cenário importante revela

A nossa pureza e nossa qualidade

Se hoje vivemos longe, na cidade

Em algum momento sofremos seqüela

Pois a nossa vida não é mais aquela

Que vivíamos antes no nosso lugar

Mesmo com conforto não vou comparar

Com aquele descanso que é tão prazenteiro

Na sombra gostosa de um juazeiro

Nos dez de galope na beira do mar!

( E )

Começar o dia já sentindo o cheiro

Das flores do campo e do solo molhado;

Vê um pé manga todo carregado,

Vê uma galinha ciscando o terreiro...

Não vendo essa vida por nenhum dinheiro

Não tem um banqueiro que possa pagar

Por essa beleza tão grande e sem par

Que é habitar no meio da roça

Longe da cidade, dentro duma choça

Nos dez de galope na beira do mar!!

( C )

Caboclo matuto que tem a mão grossa

Que é acostumado com a vida campestre

Que come mel puro de abelha silvestre

Desfruta os sabores dessa vida nossa

Trabalha no campo batalha se esforça

Enfrentando a seca que vive a assolar

E ele faz de tudo para não migrar

Da sua choupana e da terra querida

O pedaço de solo que lhe deu a vida

Nos dez de galope na beira do mar!!

( E )

É a terra de gente guerreira e sofrida

Que leva a vida com a força do braço

E que nunca cede lugar pro fracasso,

Acorda bem cedo e começa sua lida,

Plantando e colhendo sua própria comida

Pra não ter jamais que ir mendigar

Nem ter que sofrer tendo que esperar

A boa vontade dos tais governantes

Que não se preocupam com seus semelhantes

Nos dez de galope na beira do mar!!

( C )

O pior é que hoje ainda é como antes

Só fazem promessa e não cumprem o que fala

E o pobre matuto se aquieta se cala

E ainda acredita em promessas constantes

De homes vestidos com trajes galantes

Que chegam garbosos pra lhes enganar

Não mais aparecem depois que passar

A data indicada para a eleição

E quem votou fica na desilusão

Nos dez de galope na beira do mar!

( E )

A fome é vergonha para essa nação

De solo tão grande, tão fértil e tão rico!

O pobre que planta só come é um tico,

Enquanto o ricaço faz dissipação,

Estraga comida, não reparte o pão

Com seu semelhante que está a penar!

Eu peço ao bom Deus pra isso mudar

E que os ladrões do grande covil

Sejam rechaçados do nosso Brasil

Nos dez de galope na beira do mar!

( C )

Um país tão grande com riquezas mil

Cinco regiões exibindo belezas

Temos grandes rios belas correntezas

Um forte traçado um belo perfil

Nosso povo heróico e tão varonil

Sempre acolhedor para quem chegar

Pra fazer turismo ou para habitar

Essa terra nobre e ordeira da gente

E o nosso Nordeste não é diferente

Nos dez de galope na beira do mar!

( E )

Os males que vejo, transformo em repente

Pra ver se desperto a cabeça do povo

Que vive apertado qual pinto no ovo,

Assistindo a tudo pacificamente!

O Brasil é grande, quase um continente,

É de uma beleza que é tão singular!

E por isso mesmo não pode ficar

Refém de um Estado covarde e omisso!

Por isso que eu faço do verso um serviço

Nos dez de galope na beira do mar!

( C )

Eu não fiz um pacto, mas tenho compromisso

De fazer no mínimo a divulgação

Das coisas que existem nesse meu torrão

Com bravura eu canto não sou submisso

Pois me preocupo e muito com isso

E faço o que posso no meu poetar

Para meu Nordeste muito divulgar

Para que se torne bem mais conhecido

Trazendo recursos pra o povo sofrido

Nos dez de galope na beira do mar!

( E )

Canto cada canto do sertão querido,

Cada pé de serra, cada açude seco!

E das capitais, canto cada beco,

Cada monumento que foi construído!

Eu canto o arcaico e o desenvolvido,

O que é do passado e o que vai chegar!

Eu canto o que eu vejo ou ouço falar,

Seja no agreste ou numa favela;

Eu canto a beleza e canto a mazela

Nos dez de galope na beira do mar!

( C )

Eu canto o curral à cocheira a cancela

Eu canto o vaqueiro no seu alazão

Com chapéu de couro espora e gibão

Cavalo arreado com uma boa sela

Canto a canafístula de flor amarela

Fazendo do campo um jardim, um pomar

Indo pra cidade também vou cantar

Pra seus viadutos praças e mansões

Canto pra os que vivem ao relento em lixões

Nos dez de galope na beira do mar!

( E )

Eu quero é cantar como os azulões

E compor canções pro verde das matas;

Eu quero é cantar as belas cascatas,

Eu quero é voar como os gaviões,

Cair como a chuva sobre as plantações

E ver os botões de flor a brotar!

Eu quero é amar, cantar e louvar

Cada dia mais esse meu nordeste,

Pois sou é matuto, sou cabra da peste

Nos dez de galope na beira do mar!

( C )

Eu quero é cantar a beleza agreste

Sentir o odor da flor de jurema

Quero ouvir nhambu, perdiz, seriema

Quando a natureza de verde se veste

E no seu roçado o lavrador investe

Cavando no solo para ali plantar

A semente na terra vai depositar

Pensando no lucro que vem no futuro

Fazer pamonhada do milho maduro

Nos dez de galope na beira do mar!

( E)

Eu quero é viver respirando o ar puro,

Banhar-me nas águas de uma nascente;

Comer milho assado, beber leite quente,

Ver os vaga-lumes brilhando no escuro;

Plantar meu roçado no chão seco e duro

Aonde eu nasci e vou me enterrar!

Não troco essa terra por nenhum lugar!

Aqui ganho pouco, mas vivo feliz!

Já fiz do Nordeste meu novo país

Nos dez de galope na beira do mar!!

( C )

Essa terra nossa a historia nos diz!

Deu homens famosos que não são de prosa

Deu-nos a Bahia o grande Rui Barbosa

Também Castro Alves versou como quis

Já meu Pernambuco é a terra matriz

De Manoel Bandeira poeta sem par

Também Paulo Freire é desse lugar

José de Alencar é dá terra cearense

Escreveu romances que causam suspense

Nos dez de galope na beira do mar!

( E )

Ferreira Gullar, nobre maranhense,

Poeta voltado para o social,

Assim como foi também João Cabral,

Que é filho do fértil solo recifense!

E a musa maior é fortalezense:

Rachel de Queiroz, dama singular!

Augusto dos Anjos também vou citar:

“Filho do carbono” (e da Paraíba),

“Poeta Maldito”, mas um grande escriba

Nos dez de galope na beira do mar!

( C )

Tanto Pernambuco como a Paraíba

Nos deu grandes mestres de estrofes e rimas

Como Lourival, Otacílio e Dimas

Que nunca ficaram numa pindaíba

E Jô Patriota no verso se estriba

Antonio Marinho um vate sem par

Pinto do Monteiro nem quero falar

E o Cego Aderaldo do Crato era filho

Mesmo nada vendo cantava com brilho

Nos dez de galope na beira do mar

( E )

Eu faço uma estrofe de belo estribilho

Louvando o nordeste, de tantos valores!

Poetas, artistas, grandes cantadores,

Que sempre venceram qualquer empecilho!

Com a minha viola eu canto e pontilho,

Lembrando a cultura do nosso lugar

Canto Patativa, e também vou cantar

O véi João Furiba e Daudeth Bandeira,

O Mestre Azulão e também Zé Limeira

Nos dez de galope na beira do mar!

( E )

Aqui tem poetas que são de primeira

Sebastião da Silva faz versos Divinos

Tem Hipólito Moura cantando seus hinos

Rogério Menezes não é de brincadeira

Temos os Nonatos que platéias inteira

Chegam ao êxtase a os escutar

Teve Zé Vicente que fez delirar

Por palcos e praças por vila e cidade

Com Deus hoje vive na eternidade

Nos dez de galope na beira do mar!

( E )

São todos poetas de capacidade,

De versos tão ricos e verve abrangente;

Formados na escola do dom do repente,

No sertão fizeram sua faculdade!

Louro Branco e Mocinha têm afinidade

Com a arte sublime de improvisar!

Mas neste plantel também tem lugar

Moacir Laurentino, Zé Alves Sobrinho,

Severino Feitosa e também Zé Pretinho

Nos dez de galope na beira do mar!

( C )

Temos Vilanova igual um passarinho

Autor de estrofes e poesias belas

Temos Oliveira que é lá de Panelas

Aonde é tratado com muito carinho

São monstros sagrados cantam com alinho

Portam um talento que é de admirar

Em qualquer um palco que se apresentar

Com esses dois bardos a platéia vibra

Por serem poetas de garra e de fibra

Nos dez de galope na beira do mar!

( E )

Aqui no nordeste a arte equilibra

Diversos estilos num mesmo ambiente!

Se você falou dos reis do repente,

Poetas valentes que a rima calibra!

Eu trago, no entanto, um verso que desfibra

E mostra outros dons que há nesse lugar:

São nossos cantores, que sabem mostrar

Nossas tradições com profundo nexo...

Ramalho e Alceu, modelos que anexo

Nos dez de galope na beira do mar!!

( C )

Cantor ou cantora seja qualquer sexo

Temos grandes nomes em toda região

Levam ao delírio e causam emoção

Mostram todo brilho causando reflexo

No mundo da arte já vivem conexo

Aqui vários nomes podemos citar

Tem Jorge de Altinho, Petrucio, Alcimar

Cristina Amaral e Iráh Caldeira

Que cantam e encantam a platéia inteira

Nos dez de galope na beira do mar!!

( E )

Temos Dominguinhos levando a bandeira

Do forró, do xote e também do baião,

Seguindo o caminho do Rei Gonzagão,

Que é do nordeste a estrela primeira!

Temos Marinês, musa forrozeira,

Que mesmo já morta, vive a inspirar!

Tem Flávio José, cantor singular,

Tem também Santana e Elba Ramalho,

Geraldo Azevedo mostrando o trabalho

Nos dez de galope na beira do mar!!

( C )

Carpina nos deu sem ter atrapalho

Silvério Pessoa Que canta o que é bom

Também deu Paulinho do Acordeom

Grande sanfoneiro não é quebra galho

Quando se apresenta canta sem atalho

Mestre na sanfona estando a tocar

Arranca aplausos ao se apresentar

Com seu canto lindo e seu toque belo

Temos Nadia Maia e Maciel Melo

Nos dez de galope na beira do mar!!

( E )

De Recife veio a Chão & Chinelo

Honrando a nossa nova geração,

Veio Chico Science com sua Nação,

Que com o passado criou forte elo!

E em Surubim, quase paralelo,

Surgiu o forróck, que é de detonar!

Tem o Hanagorik que é espetacular!

Insurrection Down também é irado!

E o Cordel de Arcoverde tem Fogo Encantado

Nos dez de galope na beira do mar!

( C )

Lá em Surubim nesse nosso estado

Nasceu Abelardo Barbosa o Chacrinha

Lourenço Fonseca Barbosa esse tinha

Motivos de sobra pra ser respeitado

O nome Capiba lhe foi consagrado

Um compositor espetacular

Que fez tanto frevo pra o povo pular

Levando alegria farta e instantânea

Também foi autor de “Maria Betânia”

Nos dez de galope na beira do mar!!

( E )

Velho Gato Preto, filho de Sertânia!

Pinto do Monteiro, Valdir de Vitória,

Mestre Jorge Henrique, que é filho de Glória,

Cirilo, violeiro maior de Solânea...

São nomes que formam uma miscelânea

De artistas que muitos ouviram cantar

Com outros que ainda irão despontar!

Porém, seja ele famoso ou anônimo,

Cada nome desse da arte é sinônimo

Nos dez de galope na beira do mar!

( C )

Lá no Iiguatu nasceu um autônimo

O compositor Humberto Teixeira

Que além de poeta seguiu a carreira

De grande político, não foi heterônimo

O seu nome brilha sem ser pseudônimo

Suas musicas ainda é sucesso sem par

Como “Assum Preto” que faz abalar

A mente e a alma de um Nordestino

Também “Asa Branca” tornou-se um hino

Nos dez de galope na beira do mar!

( E )

Me lembro, em Carpina, de ver Valdivino

Correr argolinhas com grande destreza!

O velho Aritana também, com certeza,

Neste esporte foi um bravio paladino!

Nesse tempo, eu era só um menino,

Mas lembro de tudo, de cada lugar,

Cada cavaleiro que eu vi galopar;

De cada cavalo e de cada comboio,

De cada vaqueiro e de cada aboio

Nos dez de galope na beira do mar!!

CARLOS AIRES 22/01/2009

Carlos Aires
Enviado por Carlos Aires em 22/01/2009
Reeditado em 22/01/2009
Código do texto: T1398027
Classificação de conteúdo: seguro
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