O NORDESTE EM MARTELO AGALOPADO (CARLOS AIRES X ELIZEU DE LIMA...
CARLOS AIRES X ELIZEU DE LIMA
( O NORDESTE EM MARTELO AGALOPADO)
( C )
Quem conhece o Nordeste como a gente
Tantas coisas podemos descrever
Essa terra aqui nos viu nascer
Tem um filme gravado em nossa mente
E você que é poeta competente
Vamos juntos mexer nesses anais
Divulgando as coisas colossais
É um show pra quem está acompanhando
Do Nordeste as coisas demonstrando
De nós dois vamos ver quem sabe mais
( E )
Mestre Carlos, seu nome é conhecido
Em quase toda cidade aonde eu vou!
Você, quando declama, dá um show
E a cada rima que faz, é aplaudido!
Mas, porém, quero ver se é entendido
Nos assuntos das coisas regionais
E domina as matérias culturais...
Se aprochegue, eu estou lhe aguardando...
Do nordeste, as coisas demonstrando,
Vamos ver de nós dois quem sabe mais!
( C )
Marmeleiro, umburana e catingueira
Baraúna, angico e mororó
Umbuzeiro jurema e icó
Pau- carrasco jucá e aroeira
Aveloz algaroba e quixabeira
Juazeiro facheiro sassafrás
Macambira, velame, caroás
Xique-xique babosa estou citando
Do Nordeste as coisas demonstrando
De nós dois vamos ver quem sabe mais
( E )
Macaíba, cajá, coco e caju;
Cajarana, pitomba e fruta-pão;
Jambo roxo, araçá, coco-babão,
Manga espada, mangaba e umbú;
Graviola, acerola e babaçu;
Sapoti e tamarina são demais!
São delícias colhidas nos quintais,
Frutas nobres que aqui vou relatando...
Do nordeste, as coisas demonstrando,
Vamos ver de nós dois quem sabe mais!
( C )
Cobra verde nos galhos de umburana
Se esconde pra que ninguém a note
Jararaca se oculta e dá o bote
Cascavel, cobra preta e caninana
Salamandra no pé de gitirana
Invisível no meio dos ramais
Ver um ratinho pequeno corre atrás
Quando o pega vai logo devorando
Do Nordeste, as coisas demonstrando,
Vamos ver de nós dois quem sabe mais!
( E )
O preá que se entoca na touceira;
E o tejú, animal muito valente,
Não receia o ataque da serpente,
Que é covarde, atrevida e traiçoeira;
Já o calango dispara na carreira
Quando vê os terríveis carcarás,
O lambú vive nos canaviais
Escondido, de longe, só piando...
Do Nordeste, as coisas demonstrando,
Vamos ver de nós dois quem sabe mais!
( C )
Milharal está bonito pendoado
Jerimum alastrando a ramagem
Acauã está calada, e a paisagem
Que era seca já está esverdeado
Pé-de-Serra está quase alagado
Macaxera mandioca e os batatais
Passarinhos cantando em corais
Sertanejo feliz só escutando
Do Nordeste, as coisas demonstrando,
Vamos ver de nós dois quem sabe mais!
( E )
Um morcego se agarra num mamão,
Faz um furo e depois volta dinovo;
Um tembú no quintal, comendo um ovo
E a lua, no céu, com seu clarão...
É a noite que cai sobre o sertão,
Onde os grilos fazem seus recitais
E os sapos, por entre os lamaçais,
Vão seu grande coral apresentando...
Do Nordeste, as coisas demonstrando,
Vamos ver de nós dois quem sabe mais!
( C )
É bonito se ouvir as cachoeiras
Com o roncar estrondoso das cascatas
Nas encostas das serras tão pacatas
Se ouve as águas soando nas ladeiras
Desce pedras barrancos ribanceiras
Na baixada se espalha e até faz
Que a barragem já não suporte mais
Tanta água e logo está sangrando
Do Nordeste, as coisas demonstrando,
Vamos ver de nós dois quem sabe mais!
( E )
Sobre as águas azuis do velho Chico
Correm barcos, chalanas e canoas!
Dividindo Sergipe e Alagoas,
Desce o rio tão forte, imenso e rico,
Grande mar de água doce, a quem dedico
Minhas loas e odes mais leais!
Ele, que nasce nas Minas Gerais,
Pernambuco e Bahia vem banhando...
Do Nordeste, as coisas demonstrando,
Vamos ver de nós dois quem sabe mais!
( C )
A nascente do rio Capibaribe
Lá na Serra de Jacarará
Em Poção, e é espetacular
A paisagem tão bela não inibe
Se conflui com o rio Beberibe
Em Recife e é tão belo até nos faz
Contemplar a beleza desse cais
E passar varias horas observando
Do Nordeste, as coisas demonstrando,
Vamos ver de nós dois quem sabe mais!
( E )
Mas nem tudo aqui são só riquezas,
Também temos a seca que flagela,
Vai deixando o seu rastro de mazela
Nos açudes, nos rios e represas!
Falta carne e farinha sobre as mesas
E o gado padece nos currais;
Sertanejo, lamentando os seus ais,
Vê o verde da roça amarelando...
Do nordeste, as coisas demonstrando,
Vamos ver de nós dois quem sabe mais!!
( C )
O Nordeste e rico em artesanato
E os artistas investem nessa linha
Um exemplo a citar, Cachoeirinha
Que nas artes investem e de fato
Juntam o ferro e o couro e dão um trato
Faz de tudo com esses materiais
Transformando em produtos principais
Sela, freio e gibão vão fabricando
Do Nordeste, as coisas demonstrando,
Vamos ver de nós dois quem sabe mais!
( E )
Em Lagoa do Carro, as tapeceiras
São artistas de mãos habilidosas,
E as carrancas de Ana são famosas
Até mesmo nas terras estrangeiras!
Fortaleza vem com as suas rendeiras
Exportando os talentos regionais
E Gilvan das Burrinhas é quem faz
Em Carpina um trabalho memorando...
Do Nordeste, as coisas demonstrando,
Vamos ver de nós dois quem sabe mais!
( C )
Tem a saga de Antonio conselheiro
Transformando Canudos em bagaço
Lampião se tornou rei do cangaço
Padre Cícero é santo em Juazeiro
“Coronel” Chico foi em Limoeiro
Sempre um calo no pé dos seus rivais
E Manoel Baptista de Moraes
Foi “Antonio Silvino”, bandidando
Do Nordeste, as coisas demonstrando,
Vamos ver de nós dois quem sabe mais!
( E )
Esta terra nos deu Manoel Bandeira,
Jorge Amado e Catulo da Paixão;
Deu João Cabral e Wally Salomão;
Zé da Luz, Pataviva e Zé Limeira;
Deu Suassuna e Kideniro Teixeira,
Pedro Xisto e Durval de Morais,
Castro Alves, um dos mais geniais,
E Rachel de Queiroz vem completando...
Do nordeste, as coisas demonstrando,
Vamos ver de nós dois quem sabe mais!
( C )
Com calcário e gipsita em Araripina
Pernambuco no mundo se destaca
O sertão enriquece e só se emplaca
Com o produto extraído dessa mina
Dá emprego, e a miséria elimina
Gera imposto pra nossas estatais
Grandiosas riquezas dão sinais
Que o negócio está só prosperando
Do Nordeste, as coisas demonstrando,
Vamos ver de nós dois quem sabe mais!
( E )
Pela Zona da Mata, ao sul e ao norte,
Vê-se o verde e imenso mar de cana;
E o cultivo de uva e de banana
Lá no Vale do Siriji é forte!
A pecuária vem mantendo o seu porte
Com o leite e o abate de animais
Maranhão, com pescas artesanais,
O mercado do mundo está ganhando...
Do Nordeste, as coisas demonstrando,
Vamos ver de nós dois quem sabe mais!
( C )
Piauí um estado seco e quente
Em seu solo o maior lençol freático
Um problema polêmico e temático
É no mínimo estranho e diferente
Não há uso nenhum dessa vertente
Se houvesse seria eficaz
Para o povo carente que, aliás,
Era ótimo, essa água está jorrando
Do Nordeste, as coisas demonstrando,
Vamos ver de nós dois quem sabe mais!
( E )
E a transposição do São Francisco
Tem causado bastante discussão!
Mas o povo que mora no sertão
É quem sabe da seca e do seu risco!
Já não quer mais viver só de chuvisco,
Quer mostrar ao Brasil que é capaz
De plantar e colher nos seus quintais
Pra não ter que viver mais mendigando...
Do nordeste, as coisas demonstrando,
Vamos ver de nós dois quem sabe mais!
( C )
Acabava essa vida de aflição
Pra os matutos famintos e sedentos
Que iriam arranjar os seus sustentos
Dando um fim de uma vez a migração
Tendo a água abundante no sertão
Surgiriam canteiros colossais
Tendo frutas, verduras, cereais
Não iriam então viver migrando
Do nordeste, as coisas demonstrando,
Vamos ver de nós dois quem sabe mais!
( E )
Veio um bispo fazer greve de fome
Pra pararem com a transposição,
Mas não teve sucesso na ação,
Pois, querendo ganhar fama e renome,
Esqueceu-se da gente que mau come
E padece com a seca tão voraz!
Felizmente, ele já ficou pra trás,
E o projeto prossegue avançando...
Do nordeste, as coisas demonstrando,
Vamos ver de nós dois quem sabe mais!
( C )
Em, Suape as obras portuárias
Enobrece a nossa engenharia
O estaleiro junto refinaria
Duas obras tão extraordinárias
E, além disso, também são necessárias
Porque geram os pólos industriais
Com essas obras gigantes essenciais
O progresso já chega galopando
Do Nordeste, as coisas demonstrando,
Vamos ver de nós dois quem sabe mais!
CARLOS AIRES 17/01/2008